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Corrupção endêmica torna hondurenhos mais vulneráveis à pandemia

Bandeira hondurenha em Villanueva, em 28 de junho de 2020 afp_tickers

“Estamos fartos de ver todo o dinheiro destinado a essa pandemia ser roubado”, diz o jornalista Joel Guardado enquanto protesta com uma faixa em frente ao hospital Escuela, na capital, o maior de Honduras.

A corrupção endêmica torna os hondurenhos mais indefesos diante da pandemia de COVID-19, segundo especialistas.

As pessoas “continuarão morrendo por causa do roubo que ocorre no país”, acrescenta Guardado, com a faixa “Fora JOH (presidente Juan Orlando Hernández) e sua gangue de criminosos”.

Especialistas consultados pela AFP indicaram que existem suspeitas bem fundamentadas de corrupção do governo na compra de sete hospitais móveis, equipamentos e materiais de biossegurança para enfrentar a pandemia.

Dois centros de saúde móveis foram inaugurados na última sexta-feira. Desde então, estão armazenados em contêineres em Puerto Cortés, 300 km ao norte da capital, enquanto tramita o desembaraço aduaneiro sob a supervisão dos órgãos de controle.

Os hospitais serão instalados em Tegucigalpa e em San Pedro Sula (norte), a segunda maior cidade do país, mas não há certeza de que estejam completos ou que funcionam, segundo as autoridades.

Com uma população de 9,3 milhões de habitantes, Honduras tem mais de 28.000 infectados e quase 800 mortos, embora haja suspeitas de subnotificação devido ao baixo número de testes realizados.

“O sistema de saúde é a maior vítima da corrupção em Honduras e não é de agora”, disse à AFP Carlos Hernández, diretor da Associação para uma Sociedade Mais Justa (ASJ).

O ativista anticorrupção lamentou que os hospitais “foram pagos antecipadamente, sem garantias (…) e sem a possibilidade de processo” se os fornecedores não cumprirem suas promessas.

O governo afastou Marco Bográn, diretor de Investimentos Estratégicos de Honduras (Invest-h), o escritório de compras do Estado, que é investigado pelo Ministério Público por suspeitas de corrupção na compra dos hospitais móveis.

A nova diretora do Invest-H, Evelyn Bautista, reconheceu que “há incerteza” sobre o funcionamento dos hospitais e disse que a empresa turca que os vendeu prometeu enviar os outros cinco hospitais até o final de agosto.

O chefe da equipe de investigação do Conselho Nacional Anticorrupção (CNA), Odir Fernández, denunciou que o governo comprou 804.000 máscaras que chegaram em caixas nas quais havia um aviso de que não eram para uso médico. Mesmo assim, as autoridades as distribuíram entre os profissionais da saúde.

Fernández revelou à AFP que também foram comprados 700 respiradores mecânicos. Mas os poucos que chegaram não eram portáteis, como declarado no momento da compra.

E o representante do Fórum Social sobre Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras (Fosdeh), Ismael Zepeda, informou à AFP que o Congresso aprovou cerca de 3,5 bilhões de dólares para a crise.

No entanto, apenas entre US$ 120 milhões e US$ 140 milhões foram destinados ao combate ao coronavírus, sem informações sobre o que foi feito com o restante dos fundos.

“Inúmeras irregularidades foram cometidas nas compras que não atendem a especificidades, como ventiladores, testes rápidos e hospitais móveis”, disse Zepeda.

Enquanto isso, a presidente do Colégio Médico, Suyapa Figueroa, denunciou que, devido à falta de equipamentos de proteção individual, “dez colegas médicos morreram e temos um grande número de médicos com pneumonia em suas casas”.

Os hospitais estão “em colapso” e “existem hospitais (particulares) que cobram meio milhão de lempiras (cerca de US$ 25.000) apenas pela admissão”, denunciou.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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