Navigation

Desnutrição agrava prognóstico de pacientes com coronavírus no Peru

Uma voluntária corta batatas para sopa em Pamplona Alta, em Lima afp_tickers
Este conteúdo foi publicado em 16. junho 2020 - 14:39 minutos
(AFP)

A saúde de milhares de hospitalizados com coronavírus no Peru ameaça se agravar devido ao alto índice de desnutrição desses pacientes, o que reduz suas opções de recuperação e desgasta o saturado sistema de saúde no segundo país da América Latina com mais casos de COVID-19.

Com 10.000 pacientes hospitalizados, de mais de 230.000 casos de COVID-19, o Peru corre o risco de um colapso na saúde pela incapacidade dos pacientes com situação nutricional comprometida de superar uma doença que os enfraquece ainda mais, alertam médicos e especialistas à AFP.

75% dos pacientes internados no país apresentam desnutrição, uma quantidade extremamente alta, explica o médico de terapia intensiva Guillermo Contreras, chefe de cuidados críticos em dois hospitais em Lima.

"A desnutrição hospitalar é uma condição aguda que aumenta o risco de mortalidade, infecções e eventos adversos, prolongando o tempo de estadia no hospital e afetando negativamente o sistema de saúde como um todo", afirma Contreras à AFP.

De acordo com seus cálculos, pacientes desnutridos em unidades de terapia intensiva (UTI) precisarão de ventiladores mecânicos por até dois dias e meio a mais do que os outros, possuem seis vezes mais riscos de infecções e de duas a três vezes mais risco de morte.

Apesar de ser um país conhecido por sua gastronomia, a desnutrição é um problema crônico no Peru, tanto em crianças quanto em adultos.

43,5% das crianças peruanas menores de três anos e 21,1% das mulheres adultas sofrem de anemia, segundo a última Pesquisa Demográfica e de Saúde da Família, com dados de 2018.

As altas taxas de anemia permanecem praticamente inalteradas desde 2011, apesar do forte crescimento econômico peruano, e são mais altas do que em alguns países latino-americanos mais pobres.

Um dos fatores que complicam a situação é o pequeno número de unidades de apoio nutricional (médicos, enfermeiras e especialistas em nutrição dedicados a melhorar a ingestão de pacientes) nos hospitais, não mais que 20 em todo o Peru, onde há cerca de 500 centros de saúde.

- Nutrição negligenciada -

O nutricionista Brian Mariños, do hospital Alberto Sabogal de Lima, afirma que a porcentagem de pacientes com déficit nutricional aumentará conforme a pandemia avançar.

A própria emergência pelo coronavírus gerou muita preocupação com infecções e limpeza, mas a nutrição dos pacientes foi negligenciada, disse o médico Juan Carlos Plácido, presidente da Associação Peruana de Terapia Nutricional (Aspeten).

"Todo mundo quer uma vacina, mas pouco se fala sobre o estado nutricional ou imunológico. Buscam vacinas, medicamentos ou antibióticos, mas pouco é dito sobre as defesas do organismo. E a nutrição dos doentes foi deixada de lado", afirma à AFP.

Há também preocupação com os doentes em casa. Mariños detalha que os familiares isolam o paciente, mas não necessariamente lhe fornecem nutrientes suficientes.

Os nutricionistas consideram que as autoridades devem tomar medidas para cuidar dos pacientes desnutridos.

Partilhar este artigo

Modificar sua senha

Você quer realmente deletar seu perfil?