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Eclipse solar total escurece e emociona sul de Chile e Argentina

Simón Ángel, astrônomo da Universidad Católica de Chile, prepara telescópio em refúgio no vulcão Villarica, em Pucón, Chile, em 13 de dezembro de 2020 afp_tickers

Um eclipse solar total escureceu os céus do sul do Chile e da Argentina nesta segunda-feira (14), onde apesar da chuva e do vento que antecederam o espetáculo natural, os indígenas Mapuche, nativos da região, viram “esta morte temporária do Sol” como uma oportunidade de mudança.

Pouco depois do meio-dia, a noite caiu por dois minutos no sul do Chile. Eram por volta das 13h locais (mesmo horário em Brasília) quando começou a escurecer. Uma brisa fria antecedeu o fenômeno em meio à alegria de centenas de pessoas que esperavam na praia, aos pés do Lago Villarrica, na cidade de Pucón, aproximadamente 800 km ao sul de Santiago.

Localizado na região de La Araucanía, este ponto estava na “zona zero” de escuridão total deste novo eclipse solar, o segundo presenciado no Chile desde julho de 2019.

Chuva, vento e nuvens cobriram os céus do sul do Chile e da Argentina durante toda a manhã. Mas no momento do eclipse no sul do Chile, um círculo se abriu entre as nuvens e o sol.

“Todos esperávamos um dia de sol, mas a natureza nos dá chuva e ao mesmo tempo nos dá o que precisamos”, disse à AFP Estela Nahuelpan, líder da comunidade Mapuche Mateo Nahuelpan do setor Monkul, na comuna de Carahue.

Após horas sob a chuva, a espera valeu a pena para os turistas. “Foi lindo, único. A verdade é que ninguém tinha muita esperança de vê-lo por causa do tempo e das nuvens, mas foi algo único porque clareou. Foi um milagre”, contou, animado, Matías Tordecilla, de 18 anos, à AFP.

“É algo que não se vê apenas com os olhos, mas se sente com o corpo”, acrescentou este jovem, que viajou 10 horas por terra com sua família da cidade de Viña del Mar a Pucón para ver o eclipse.

Apesar das restrições à mobilidade para evitar a propagação de casos de covid-19, cerca de 300.000 turistas viajaram ao sul do Chile para ver ao vivo o momento em que a Lua, o Sol e a Terra estavam alinhados, transformando o meio-dia em noite, tendo como pano de fundo a vegetação abundante e os imponentes vulcões desta região.

– Oportunidade para mudanças –

Em Carahue, também em La Araucanía, o eclipse foi contemplado em um clima calmo, com muitas orações dos Mapuche – os indígenas e primeiros habitantes do Chile e da Argentina – que veem neste fenômeno o fim de uma era e o início de um novo processo de mudança.

“O eclipse dentro da cultura Mapuche tem diferentes significados; falam de ‘Lan Antü’, como a morte do Sol e o confronto entre a Lua e o Sol”, mas a escuridão momentânea do dia também “se refere ao equilíbrio necessário que tem que existir na natureza”, explicou Nahuelpan, que estava entre as trinta pessoas que foram ver o evento em Monkul.

Em meio a um amplo conflito pela restituição de terras que os Mapuches consideram suas por direitos ancestrais e que hoje estão em sua maioria nas mãos de empresas florestais, a região de La Araucanía é foco constante de tensão.

Neste contexto, o eclipse desta segunda foi visto como a possibilidade de unir vontades e avançar em um acordo que permita melhorar a convivência na área, onde os níveis de pobreza são o dobro do resto do Chile, e nos últimos tempos foram registrados diversos ataques incendiários.

“É uma oportunidade de compreender que temos necessariamente que abrir o caminho para a compreensão do outro; tornar visível uma realidade que muitas vezes queremos ocultar e proporcionar oportunidades para a participação dos povos originários”, que sofrem uma grande exclusão, acrescentou Nahuelpan.

Mais cauteloso, Liguen Antu Conejeros, um mapuche de 16 anos, disse que esse fenômeno deve ser recebido com “respeito”. “Também não acho que deva ser abordado do ponto de vista do medo, mas como disse minha ñuke (mãe), você tem que rezar e pedir para que as coisas corram bem, não temer tanto”, afirmou ele.

– Também na Argentina –

Depois de passar pelo Chile, o eclipse foi vivido com igual emoção no sul da Argentina.

Na província argentina de Neuquén não choveu, mas durante a manhã surgiu um vento muito forte que atrapalhou a visibilidade.

Na rota 237, entre Villa El Chocón e Piedra del Águila, havia um acampamento onde várias famílias e estrangeiros aguardavam a chegada do eclipse.

Um grupo relatou a odisseia de chegar à Argentina em meio à pandemia e conseguir diversos documentos para chegar a Bariloche e, finalmente, no acampamento, uma jornada que inclui a coleta de ao menos três cotonetes para exames e a contratação de seguro saúde.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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