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Efraín, uma vida mutilada duas vezes por minas na Colômbia

Efraín Soto, vítima de uma mina, visita o lugar onde pisou no explosivo perto de sua casa em Catatumbo, Colômbia afp_tickers

Um passo infeliz e “bum!”. A explosão abriu um buraco onde Efraín Soto caiu e ficou com o olho destruído. Naquele momento, o conflito ardia na Colômbia. Nove anos depois, com um acordo de paz em andamento, ele caiu em outra mina que o dilacerou e matou seu irmão.

Efraín não é o único caso da luta que persiste na região de Catatumbo, fronteira com a Venezuela, após a assinatura do acordo de paz com a ex-guerrilha FARC em 2016.

São terras de cultivo de coca e com artefatos explosivos, ocupadas por outros grupos armados que chegaram antes do Estado e substituíram os rebeldes.

Uma hora e meia de caminho separam a casa de Efraín da cidade mais próxima, em meio a trilhas lamacentas, vegetação densa e uma temperatura média de 30°C. A simples ação de caminhar lhe causa medo e ansiedade.

As minas levaram seu irmão de 41 anos, o olho direito, parte da audição e perfuraram sua perna direita. Há oito anos, ele toma medicamentos para controlar as sequelas psicológicas.

No primeiro semestre deste ano, 263 pessoas (21 menores de idade) morreram ou foram feridas por minas, granadas ou qualquer outra munição, de acordo com a Cruz Vermelha.

O departamento Norte de Santander, ao qual pertence Catatumbo, é o segundo mais castigado depois de Cauca (sudoeste), com 86 vítimas.

A Colômbia é um dos países mais afetados por minas, com mais de 12.000 vítimas entre 1990 e 2021, segundo o escritório do Alto Comissariado para a Paz.

“Em 14 de junho de 2011 às 13h30 foi a primeira vez”, recorda Efraín. Ele estava falando por celular com sua esposa a poucos metros de casa, quando uma explosão o atingiu. Um jato de sangue escorreu de seu olho direito.

Familiares improvisaram uma maca com uma rede para carregar o homem de 1,94 metros por longas trilhas.

“Eu vivia angustiado (…). Você começa a achar que Deus não existe”, lamenta. Depois de quatro anos, voltou à sua terra para colocar uma cruz de madeira onde sua vida mudou pela primeira vez.

“O segundo foi em 16 de abril de 2020”, quando seu irmão Carlos detonou acidentalmente uma mina que atingiu os dois.

A tragédia se repetiu: “Sair correndo, buscar a rede e correr para a cidade outra vez. E ele sangrando, sangrando…”. Chegou na cidade de Tibú “com os lábios roxos” e morreu. Efraín visita agora seu túmulo decorado com flores artificiais.

De um total de 1.122 municípios, a Colômbia retirou as minas de 448 desde o acordo de paz, mas 137 “não apresentam as condições necessárias” para intervenção e Catatumbo é um deles, segundo o Alto Comissariado para a Paz.

Enquanto isso, a violência persiste. Quando ainda se recuperava do luto, Efraín recebeu um tiro sem razão, afirma, mostrando a cicatriz de uma bala que perfurou seu estômago há um mês em Cúcuta.

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