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Empresário pede para depor como ‘arrependido’ em escândalo de corrupção na Argentina

O caso é baseado em anotações detalhadas em oito cadernos escolares - dos quais existem apenas cópias - escritos por Oscar Centeno afp_tickers

Um empresário preso admitiu ter dado “contribuições para as campanhas” eleitorais durante os governos kirchneristas (2003-2015) e pediu para depor à Justiça como arrependido em um processo por supostos subornos, que nesta semana (4) abalou a cena política argentina.

Após se entregar na sexta-feira, Juan Carlos de Goycoechea, ex-diretor na Argentina do grupo construtor e energético espanhol Isolux Corsan, pediu para entrar no programa de proteção de “acusados-colaboradores” – para o qual deveria oferecer dados significativos à investigação.

Segundo fontes judiciais citadas neste sábado pela imprensa argentina, o empresário disse que desde o Ministério do Planejamento – responsável pela obra pública durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner – “tinha apertos (pressões) para aportar às campanhas” eleitorais.

Contudo, garantiu que os montantes eram muito inferiores aos 12,8 milhões de dólares pelos quais lhe acusou o juiz Claudio Bonadio.

De Goycoechea foi demitido da Isolux em março de 2017, após uma investigação interna da empresa sobre supostas irregularidades no desenvolvimento de negócio na Argentina.

Segundo o Ministério Público (MP), os supostos subornos – pagos por empresários em um sistema de arrecadação que ia parar na Casa Rosada ou na residência presidencial de Olivos, nos arredores de Buenos Aires – poderiam chegar a 160 milhões de dólares.

Desde que a investigação veio à tona, na quarta-feira, a Justiça prendeu oito ex-funcionários e oito empresários, entre eles um ex-diretor da IECSA, a companhia que pertenceu ao grupo empresarial da família do presidente Mauricio Macri.

Entre outros 20 acusados, está a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner, que foi convocada para inquérito em 13 de agosto.

Oscar Parrilli, ex-secretário-geral da Presidência, também acusado, pediu a anulação da causa pela “forma estranha” como se deu no tribunal de Bonadio, a quem recusou pela “parcialidade evidente”, segundo uma nota de seus advogados divulgada neste sábado.

– Caixa de Pandora –

O caso é baseado em anotações detalhadas em oito cadernos escolares – dos quais existem apenas cópias – escritos por Oscar Centeno, suboficial aposentado do Exército que era motorista do hoje preso Roberto Baratta, ex-número dois do Ministério do Planejamento.

As notas de Centeno ao longo de uma década (2005-2015) descrevem com riqueza de detalhes os passeios por Buenos Aires com seu ex-chefe, para transportar malas cheias de dólares em dinheiro para diferentes destinos, incluindo o endereço dos Kirchners.

O motorista foi preso na quarta-feira, mas foi liberado na noite de sexta-feira após entrar no programa de “acusado-colaborador”, que presume proteção para ele, sua atual parceira e seus 13 filhos.

Centeno admitiu à Justiça ser o autor dos oito cadernos e disse que tinha eles em sua casa ou na de um cunhado, onde não foram encontrados.

Na sexta-feira, declarou ao juiz ter queimado os originais em maio passado na churrasqueira nos fundos de sua casa, segundo a imprensa.

Bonadio conta apenas com cópias escaneadas que lhe foram entregues em abril por Diego Cabot, um jornalista do jornal La Nación, que teve acesso aos originais por dois meses, quando o policial aposentado Jorge Bacigalupo, de 73 anos, antigo amigo de Centeno, entregou-os.

Em entrevista publicada no sábado, Bacigalupo contou que Centeno tinha pedido, em outubro do ano passado, que ele guardasse a caixa por ter medo de uma invasão de sua casa.

Foi quando o ex-policial decidiu entregá-lo ao jornalista, até que Centeno começou a reclamá-los e precisou recuperá-los e devolvê-los.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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