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Esquema corrupto de João Santana envolveu Venezuela, Panamá e El Salvador

João Santana, atrás, e Mônica Moura chegam a São Paulo, no dia 23 de fevereiro de 2016 afp_tickers

Os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, presos na operação “Lava Jato”, confessaram ter recebido milhões de dólares de dinheiro procedente de corrupção para atuar em campanhas políticas não apenas no Brasil, mas também na Venezuela, Panamá e El Salvador.

O caso internacional mais espetacular envolve a Venezuela, onde Mônica Moura, casada com João Santana, diz ter recebido mais de 10 milhões de dólares em malas cheias de dinheiro das mãos de Nicolás Maduro, então chanceler e hoje presidente venezuelano.

O casal de marqueteiros atuou na campanha para a reeleição do finado presidente Hugo Chávez, em 2012.

“O Maduro me pagava quase semanalmente na própria chancelaria, me entregava o dinheiro, as vezes no Palácio de Miraflores”, revelou Mônica Moura em sua delação premiada, segundo vídeos publicados nesta sexta-feira por autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).

Marqueteira das campanhas de Lula da Silva e Dilma Rousseff, Mônica Moura disse que recebeu de Maduro 800 mil dólares em apenas um dia, e que para sua segurança foi disponibilizado um carro blindado. “Parecia um roqueiro americano, um cantor de funk”.

Segundo Mônica Moura, todo o dinheiro para a campanha de Chávez foi pago via ‘caixa 2’ e as empreiteiras brasileiras Odebrecht e Andrade Gutiérrez contribuíram com 7 milhões e 2 milhões de dólares, respectivamente, para a eleição de Chávez, que acabou derrotando o candidato opositor Henrique Capriles.

A publicitária explicou que a fama do casal de marqueteiros na América Latina começou com a campanha para o candidato de esquerda Mauricio Funes, em 2009, em El Salvador, “um país no fim do mundo, com guerra, terremotos e que não tinha dinheiro” para pagar pelo serviço.

Segundo Mônica Moura, como ocorreu em outras ocasiões, Lula incentivou o casal a ajudar os colegas na região e os três milhões de dólares cobrados pela campanha em El Salvador foram pagos pela Odebretch com a intermediação do ex-ministro Antônio Palocci.

O ex-presidente do Panamá Ricardo Martinelli – que vive em Miami e é procurado pela Justiça panamenha – também está entre os citados pelo casal de marqueteiros.

Martinelli teria insistido com o casal para que fizesse a campanha de seu sucessor, e chegou a entregar 500 mil dólares na mão de Mônica Moura para “despesas” no Panamá.

João Santana e Mônica Moura foram condenados em fevereiro passado a oito anos de prisão por lavagem de dinheiro. Os dois fizeram acordo de delação premiada em troca da redução das penas.

Segundo o casal, Lula e Dilma sabiam do financiamento ilegal das campanhas eleitorais do Partido de Trabalhadores (PT).

Os advogados de Lula qualificaram as declarações de “mentirosas”.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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