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EUA adotam mais sanções por repressão na Nicarágua

Grupos do movimento de diversidade sexual se manifestam em uma avenida de Manágua, em 28 de junho de 2018 afp_tickers

Os Estados Unidos adotaram nesta quinta-feira mais sanções contra os envolvidos nas violações dos direitos humanos na Nicarágua, onde persistem os protestos pela renúncia do presidente Daniel Ortega.

“Enquanto o governo nicaraguense seguir utilizando a violência para reprimir protestos pacíficos seguiremos revogando os vistos dos responsáveis”, tuitou o subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Francisco Palmieri, sem dar detalhes.

Washington sancionou, no início de junho, oficiais da Polícia Nacional e funcionários municipais por considerar que violaram os direitos humanos.

Opositores nicaraguenses, incluindo gays com bandeiras do arco-íris nas ruas e católicos dentro das igrejas, exigiram nesta quinta-feira a renúncia de Ortega, amparados pela presença de missões internacionais de direitos humanos.

Buzindo ou segurando guarda-chuvas, panos coloridos e bandeiras nicaraguenses, grupos do movimento de diversidade sexual se manifestaram em uma avenida de Manágua.

“Nesta ditadura também nos sentimos sem direitos. Somos parte dessa nova revolução. Todos os assassinados estão presentes aqui”, disse à AFP Dámaso Vargas, um transgênero de 25 anos que disse estar vestido de preto pela “morte da República”.

Nas igrejas foram celebradas missas em memória dos mais de 200 mortos deixados em dois meses de protestos na Nicarágua. O nuncio apostólico, Waldemar Stanislaw, preside a cerimônia na Catedral de Manágua.

Stanislaw declarou que o papa Francisco exortou o fim da violência e o “inútil derramamento de sangue” na Nicarágua.

“O papa Francisco nos pede que sejamos construtores da paz de Cristo, solicitando o fim de toda a violência e que se evite um inútil derramamento de sangue”, afirmou durante a missa.

O nuncio indicou que o pontífice deseja que na Nicarágua seja restaurada a “paz e estabilidade social” e que ajam com “sensatez, porque nunca é tarde para saber agir bem e nunca é tarde para o perdão e a reconciliação”.

Com mediação da Igreja Católica, o governo e a Aliança Cívica pela Justiça e Democracia – grupos da sociedade civil – retomaram nesta quinta as práticas para tentar destravar o diálogo que busca resolver a crise.

O diálogo está estagnado porque Ortega, cujo terceiro mandato consecutivo termina em janeiro de 2022, ainda não respondeu à proposta de adiantar as eleições de 2021 para março de 2019.

“O diálogo irá em frente à medida que o governo mostrar vontade política de resolver o problema político. Até esse momento, infelizmente, o governo não teve o menor sinal de boa vontade”, declarou à imprensa o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez.

O ex-guerrilheiro de esquerda de 72 anos, Ortega é acusado pela Aliança e por grupos humanitários de uma repressão brutal contra os protestos e de instaurar na Nicarágua o nepotismo e uma ditadura.

O governo assegura que os protestos são uma “tentativa” de golpe de Estado por meio da exigência da renúncia de Ortega ou um adiantamento das eleições, enquanto acusam os manifestantes de serem “delinquentes”.

– ‘Vivos os queremos’ –

Comissões de direitos humanos da ONU e da Organização de Estados Americanos (OEA) se reúnem com as partes e vítimas da violência nos protestos.

Um grupo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) foi nesta quinta-feira à emblemática prisão de El Chipote, no centro de Manágua, onde mães e outros familiares lhes pediram para interceder pela libertação dos detidos.

Com fotografias de seus filhos presos, várias mães denunciaram à missão da CIDH “sequestros” e “prisões arbitrárias”, inclusive de menores de idade.

“Vivos os levaram, vivos os queremos. Exigimos a liberdade de nossos meninos”, lia-se em um cartaz levado por uma mulher com as fotos de vários detidos.

Os especialistas da CIDH esperavam do lado de fora de El Chipote, mas as autoridades não lhes davam permissão para entrar.

“Estamos nos preparando para a chegada de outro grupo de especialistas independentes que investigará especificamente as questões de assassinatos que ocorreram no contexto dos protestos”, disse Fiorella Melzi.

Segundo a Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH), ao menos 285 pessoas morreram, enquanto o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) verificou 214 mortes e está confirmando outras. Centenas foram presos.

“Contra a violência do covarde com fuzil… desobediência civil”, lia-se em outro cartaz que liderou a marcha da diversidade sexual.

– ‘Cerco à imprensa’ –

A Aliança convocou para sábado a “Marcha de flores” em Manágua e várias cidades e povoados do país para exigir justiça e honrar os falecidos.

A mobilização havia sido suspensa na semana passada por um ataque violento de antimotins e homens armados e encapuzados contra a Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (UNAN) e bairros da capital.

Aproveitando a visita dos especialistas da CIDH e do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, meios de comunicação não governistas denunciaram “cerco” e “agressão” contra a imprensa.

“Exigimos do governo de Daniel Ortega o pleno respeito ao direito à liberdade de pensamento e liberdade de informação”, declarou o sindicato em uma declaração lida pela jornalista Leticia Gaitán em entrevista coletiva.

Em abril, o jornalista Ángel Gahona morreu com um tiro na cabeça quando transmitia ao vivo os roubos na cidade caribenha de Bluefields.

Ortega chegou ao poder em 1979, após a vitória da insurreição popular liderada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) para derrubar o ditador Anastasio Somoza, e voltou ao governo pela via eleitoral em 2007.

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