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EUA consegue debater sobre a Nicarágua no Conselho de Segurança da ONU

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, fala durante reunião do Conselho de Segurança, em Nova York, em 28 de agosto de 2018 afp_tickers

Os Estados Unidos conseguiram debater nesta quarta-feira (5) sobre a Nicarágua no Conselho de Segurança da ONU, decidido a evitar outra Síria ou Venezuela, e ante o rechaço de Rússia e China, que denunciaram a “ingerência” de Washington nos assuntos internos de outra nação.

A embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, aproveitou que este mês os Estados Unidos presidem o Conselho de Segurança para convocar uma sessão informativa que discutiu “a situação na Nicarágua”, algo incomum no órgão executivo da ONU, cuja função é atender as ameaças à paz e à segurança no mundo.

“O Conselho de Segurança não deve, e nem pode, ser um observador passivo enquanto a Nicarágua continua caindo em um Estado falido e ditatorial. Porque sabemos para onde leva esse caminho”, disse Haley, assegurando que “a cada dia que passa” a Nicarágua avança pelo caminho de Síria e Venezuela, ambos marcados pelo êxodo maciço de seus cidadãos.

Haley disse que desde o início das manifestações o governo de Daniel Ortega submeteu seu povo a decisões arbitrárias, tortura e execuções extrajudiciais.

“Ainda temos a oportunidade de impedir que a história se repita”, enfatizou.

Contudo, a reunião se desenvolveu sem o consenso dos 15 integrantes do Conselho. Um voto de procedimento que a oposição de nove membros conseguisse ter poderia ter feito os Estados Unidos desistirem de debater o tema.

Alinhados com Washington estiveram as nações europeias, Peru e Costa do Marfim. Todos lamentaram a decisão de Ortega, na sexta-feira passada, de expulsar a missão do Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU, após um contundente relatório sobre a repressão no país.

Rússia, China e Bolívia rechaçaram categoricamente a iniciativa americana, assim como Nicarágua e Venezuela, que participaram como convidados. Kuwait, Cazaquistão, Etiópia e Guiné Equatorial também expressaram a sua oposição.

“A situação na Nicarágua deve ser resolvida pelo diálogo pacífico e sem pressões do exterior (…) Não há espaço na ordem do dia do Conselho”, assinalou o embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, acusando os Estados Unidos de “tendências colonialistas”.

Esta reunião representa “um exemplo edificante e triste de interferência externa e destrutiva”, disse, apontando que Washington já atuou assim em Cuba, Chile e Venezuela.

Seu homólogo boliviano, Sacha Llorenti, concordou, considerando um “despropósito” que o COnselho se envolva na Nicarágua.

Washington busca apenas a desestabilização de um governo “democraticamente eleito”, quando são os nicaraguenses que devem encontrar sozinhos a resposta para seus problemas, opinou.

A Nicarágua, representada por seu chanceler, Denis Moncada, denunciou energicamente “uma clara ingerência nos assuntos internos” de seu país. “Exigimos o fim de qualquer política intervencionista que viole o direito internacional”, disse, assegurando que seu governo respeita os direitos humanos.

Mais cedo, um líder da sociedade civil da Nicarágua, Féliz Maradiaga, convidado para a sessão, bem como um representante da Organização dos Estados Americanos (OEA), relatou vários abusos e violações dos direitos humanos.

“Venho para transmitir a urgência da situação”, disse, destacando que “a Nicarágua se tornou uma imensa prisão” onde “o número de presos políticos continua aumentando”, a população sofre “perseguição indiscriminada” e “pessoas armadas, mascaradas “invadem as casas dos opositores.

“A ajuda da ONU é necessária antes que seja tarde demais”, declarou.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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