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EUA e Rússia têm novo embate por causa da Venezuela

'Sem os cubanos, não seria possível Maduro se manter no poder', porque 'formam um cordão de segurança' ao redor de segurança do presidente venezuelano que "não confia mais em seu exército", disse o secretário de Estado americano, Mike Pompeo afp_tickers

Os Estados Unidos exortaram neste domingo (5) a Rússia a “sair” da Venezuela, enquanto Moscou exigiu que Washington suspenda seus “planos irresponsáveis” em um novo choque verbal entre as duas potências sobre o país petroleiro, assolado pela crise.

Este enfrentamento ocorre depois do levante frustrado de terça-feira contra o presidente Nicolás Maduro por parte de trinta militares apoiado pelo opositor Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino por mais de 50 países.

Em Caracas, o número dois do chavismo, Diosdado Cabello aumentou a pressão anunciando neste domingo que a Assembleia Constituinte da Venezuela, a instituição que preside e que rege o país com poderes absolutos, se prepara para retirar a imunidade parlamentar de deputados opositores que apoiaram a revolta.

Vários deputados da Assembleia Nacional, único órgão da Venezuela em poder da oposição, apoiaram Guaidó – presidente desta Casa -, que considerou o levante o início da chamada “operação liberdade” com a qual tenta tirar Maduro do poder.

Um dia depois de novas mobilizações da oposição na capital venezuelana, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, afirmou neste domingo na rede ABC que “os russos devem sair”.

“O objetivo é muito claro”, destacou. “Nós desejamos que os iranianos, os russos e os cubanos vão embora”.

“Todos os países que interferem no direito do povo venezuelano a restaurar sua democracia devem partir”, disse Pompeo.

No entanto, o presidente Donald Trump havia dito na sexta-feira que Vladimir Putin “não tentava se envolver na Venezuela além do que gostaria ver um desenvolvimento positivo”, após um longo telefonema com seu contraparte russo.

“Não vi o contexto completo desta frase”, esquivou-se Pompeo, enquanto reforçou: “o presidente deixou claro que desejamos que todo mundo vá embora, e isso inclui os russos”.

– Exortação de Moscou –

Em Moscou, o chanceler russo, Serguei Lavrov, investiu contra Washington.

“Fazemos um apelo aos americanos e a todos aqueles que os apoiam, a abandonar seus planos irresponsáveis e agir exclusivamente no âmbito do direito internacional”, declarou no início de uma reunião com seu contraparte venezuelano, Jorge Arreaza.

Os Estados Unidos acentuaram esta semana a pressão sobre os partidários do regime de Maduro.

Pompeo fez no sábado um apelo direto aos cidadãos venezuelanos a se levantarem contra Maduro, declarando que “o momento da transição é agora”.

De todas as formas, Guaidó admitiu no sábado em entrevista ao jornal Washington Post que ficou no meio do caminho, referindo-se aos fatos de terça-feira.

“Talvez porque continuamos precisando de mais soldados, talvez precisemos de mais funcionários do regime dispostos a apoiar, para respaldar a Constituição”, disse Guaidó.

O levante frustrado desencadeou dois dias de violentos enfrentamentos entre as forças de segurança e manifestantes que deixaram quatro mortos, dezenas de feridos e 150 pessoas detidas.

O líder opositor tentou manter os protestos multitudinários nas ruas, mas sua última convocação no sábado só atraiu centenas de pessoas.

Na noite de domingo, convocadas por Guaidó, centenas de pessoas se reuniram em Caracas com velas nas mãos em uma vigília pelas vítimas desta semana, sem a presença do líder opositor.

Maduro, por sua vez, apareceu em um exercício militar neste sábado com o ministro da Defesa Vladimir Padrino, que segundo altos funcionários americanos se envolveram no levante de terça.

“Ontem disse aos generais e almirantes: lealdade, quero uma lealdade ativa”, disse Maduro em um discurso para cinco mil soldados.

“Confio em ti, mas mantenha os olhos abertos, um punhado de traidores não pode afetar a honra, a unidade, a coesão e a imagem das forças armadas”, disse, chamado as tropas a estar preparadas para uma possível ação militar americana.

– “Buracos” no caminho –

Em Washington, Pompeo admitiu haver “buracos” no caminho, antecipando que pode levar de “duas ou quatro semanas” tirar Maduro.

“Mas Maduro não pode se sentir bem. Está dirigindo no momento, mas não pode governar”, disse Pompeo. “É alguém que não pode fazer parte do futuro da Venezuela”.

“Estamos preparando uma gama completa de opções” para a consideração de Trump, acrescentou. Até agora, os Estados Unidos se centraram em estrangular diplomática e financeiramente Maduro para que abandone a Presidência do país com a maior reserva petroleira, mergulhado na pior crise de sua história moderna.

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