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Fidel Castro defende legado comunista em discurso com ares de despedida

O ex-presidente cubano Fidel Castro, em Havana, no dia 19 de abril de 2016 afp_tickers

A quatro meses de completar 90 anos, Fidel Castro fez nesta terça-feira um discurso com ares de despedida em que se mostrou confiante de que o legado revolucionário persistirá após a sua morte.

O líder cubano, que voltou a se referir às ameaças para a sobrevivência humana, discursou junto com seu irmão, o presidente Raúl Castro, no encerramento do Sétimo Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), realizado em Havana.

“Logo devo completar 90 anos, nunca teria imaginado isso, nem foi fruto de um empenho, foi um capricho do destino. Logo serei como todos os outros. Essa hora chegará para todos nós”, afirmou o líder histórico da Revolução Cubana, em um curto discurso que fez sentado.

Sua intervenção foi gravada e depois transmitida pela televisão estatal.

Um Fidel de boa aparência, camisa e jaqueta esportiva azul acrescentou que após sua morte “ficarão as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalha com fervor e dignidade, se consegue produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos precisam”.

“Devemos transmitir” aos nossos irmãos da América Latina e do mundo “que o povo cubano vencerá”, apontou.

“Talvez esta seja uma das últimas vezes que eu falo nesta sala”, disse Fidel Castro em tom firme, agradecendo depois ao seu irmão, o presidente Raúl Castro, pelo seu “magnífico esforço” à frente do PCC.

O armamento, o maior perigo

Fidel, que completará 90 anos no dia 13 de agosto, foi aplaudido de pé pelos mil delegados do PCC e convidados que deliberavam desde sábado no Palácio de Convenções.

É a segunda vez que Fidel é visto em público nos últimos 12 dias, depois de falar em uma escola no último sete de abril.

Na ocasião, exibia boa aparência, apesar de ter ficado sentado durante todo o tempo recordando sua cunhada Vilma Espén, esposa de Raúl, heroína da revolução que faleceu em 2007.

Hoje “senti que estava um pouco melancólico, como se estivesse se despedindo. Ele sabe que talvez este tenha sido o último congresso do partido em que possa participar”, comentou à AFP Natalia Díaz, uma engenheira industrial de 54 anos.

Retirado do poder em 2006 por conta de uma doença que o obrigou a delegar a funções ao seu irmão, Fidel também participou em 2011 com Raúl ao encerramento do Sexto Congresso do PCC.

Durante seu discurso, o pai da revolução cubana voltou a um dos temas pelos que se tornou obcecado durante a velhice: “o poder destrutivo do armamento moderno, que poderia arruinar a paz do planeta e impossibilitar a vida humana sobre a superfície terrestre”.

Da mesma forma, insistiu na sua preocupação com a segurança alimentar, o acesso à água e os efeitos das mudanças climáticas nas gerações futuras.

“Quem vai alimentar os povos sedentos da África sem tecnologias ao seu alcance, nem chuvas, nem represas, nem outros depósitos subterrâneos além dos cobertos por areia? Veremos o que dizem os governos que quase em sua totalidade firmaram os compromissos climáticos”, disse.

Nos últimos anos, Fidel restringiu suas atividades públicas e esporadicamente recebe líderes internacionais ou escreve artigos de conjuntura.

Michael Shifter, presidente do centro de reflexão Diálogo Interamericano, com sede nos Estados Unidos, considerou chamativa a aparição de Fidel na sessão de encerramento do congresso.

Para o especialista, Fidel foi como um “fantasma” que reapareceu para ratificar o rumo comunista diante dos ventos de mudança que pareciam soprar sobre a ilha depois da reconciliação política com os Estados Unidos.

Ainda sob sua influência, o PCC, o maior órgão de decisão de Cuba, descartou grandes mudanças para os próximos cinco anos em meio ao processo de abertura gradual ao setor privado iniciado por Raúl Castro em 2008.

Raúl, de 84 anos, deixou claro que Cuba persistirá com seu modelo político de partido único apesar da reconciliação diplomática com os Estados Unidos.

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