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Fotógrafo das torturas na Síria fala a políticos nos EUA

"César", ex-fotógrafo anônimo da Polícia síria, durante uma audiência na Câmara de Representantes dos Estados Unidos, em 31 de julho de 2014 afp_tickers

“César”, ex-fotógrafo anônimo da Polícia síria que fugiu no verão passado de seu país levando consigo 55.000 imagens aterrorizantes de corpos torturados, apareceu nesta quinta-feira pela primeira vez em público durante uma audiência na Câmara de Representantes dos Estados Unidos.

As condições de acesso eram rígidas para o público e a imprensa. Os fotógrafos foram autorizados a captar imagens a partir do fundo da sala. Estavam proibidos registros de áudio e vídeo.

No lugar reservado às testemunhas, um homem vestindo um agasalho azul, com capuz abaixado, fica diante dos representantes. Ele também usa um boné negro embaixo do capuz e óculos escuros. Apenas o nariz pode ser visto e sua voz é inaudível quando ele fala ao seu intérprete.

“É uma grande honra poder estar aqui, nesta casa da democracia”, ressaltou “César”, lendo uma declaração traduzida para o inglês.

“Eu não sou um homem político e não gosto de política. E também não sou um advogado”, indicou.

César explica que seu trabalho consistia em fotografar os cadáveres para o Ministério sírio da Defesa, antes e após a revolução. Ele e os outros fotógrafos tinham a responsabilidade de arquivar as fotos nos registros do Estado sírio. Dessa forma, tinha acesso às fotografias feitas por outros fotógrafos do regime.

“Vi fotos horríveis de corpos de pessoas que sofreram torturas terríveis”, conta César. Nas imagens aterrorizantes, eram comuns feridas profundas, marcas de queimadura, de estrangulamento e olhos fora de órbita. Crianças e mulheres apareciam com feridas por todo o corpo.

Outras vítimas estavam extremamente magras. “Morreram de fome, seus corpos pareciam esqueletos”, lembra César. “Nunca vi corpos como aqueles (…) desde as fotos de que os nazistas faziam”.

O homem tinha duas mensagens para os parlamentares americanos. A primeira: “o que acontece na Síria é um genocídio e um massacre” cometido pelo regime de Bashar al-Assad.

A segunda: “mais de 150.000 pessoas continuam encarceradas e seu destino será o mesmo daqueles que eu fotografei”.

A audiência de César aconteceu em meio a um silêncio total. Fotos de corpos foram exibidas. Ao lado de César estava David Crane, ex-procurador-geral do Tribunal Especial para Serra Leoa, que indiciou o presidente da Libéria, Charles Taylor. Ele é um dos três principais investigadores de um relatório sobre a tortura na Síria publicado em janeiro.

“É raro encontrar provas irrefutáveis, mas este é o caso que temos aqui”, disse.

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