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Governo colombiano e Farc iniciam operação de retirada de minas

(26 mai) Especialista remove minas de um campo, na cidade de La Virgen afp_tickers

O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc iniciaram um projeto piloto de retirada de minas, um gesto que traz esperança para o processo de paz, que enfrenta seu maior desafio após o recrudescimento das hostilidades.

O primeiro trabalho no campo “teve duração de sete dias” em El Orejón, uma zona rural do departamento (estado) de Antioquia (norte), e contou com a participação dos dois lados em conflito, da agência especializada norueguesa APN e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, anunciou nesta sexta-feira o diplomata cubano Rodolfo Benítez.

Cuba é o país-sede e garantidor das negociações de paz para a Colômbia.

Esta é a primeira iniciativa conjunta anunciada pelas duas partes depois que, na semana passada, se intensificaram as hostilidades na Colômbia, o que levou as Farc a suspenderem uma trégua unilateral em vigor desde dezembro, o que permitiu reduzir os combates e as baixas nos dois lados.

“Foram identificadas quatro áreas perigosas que somam, aproximadamente, 12 mil metros quadrados”, onde começará em breve a limpeza das minas instaladas ao longo do conflito armado de meio século, afirmou o diplomata norueguês Dag Nylander, cujo país também é garantidor do processo.

“Foi recolhida informação precisa e útil para a fase seguinte de limpeza e descontaminação” do terreno, acrescentou Nylander, em uma sessão da qual participaram os membros das duas delegações de paz, inclusive a chanceler colombiana María Ángela Holguín, que nesta sexta-feia se integrou aos diálogos de paz em Havana.

Este trabalho de campo foi realizado antes do recrudescimento das hostilidades, há oito dias, que até agora deixou 45 guerrilheiros e quinze militares mortos.

As minas, instaladas durante as décadas de conflito, podem ser encontradas em mais da metade dos municípios colombianos e deixaram, desde 1990, mais de 11 mil vítimas, entre mortos e feridos.

As forças militares deixaram de usar minas desde 1997, quando a Colômbia assinou a Convenção de Ottawa, que proíbe seu uso, mas as guerrilhas e os paramilitares de direita continuaram utilizando-as.

A Colômbia é o segundo país em número de vítimas das minas, depois do Afeganistão, onde também atuou a agência norueguesa APN.

“As Farc entregaram mapas precisos”

O chefe de negociações do governo, Humberto de la Calle, disse que o programa de retirada de minas “já é uma realidade” e destacou que “as Farc, de fato, entregaram mapas precisos da localização das minas e contribuíram ativamente para eliminar as áreas minadas”.

“É uma primeira amostra do que se pode alcançar mediante o trabalho coordenado. Pela primeira vez, após mais de 50 anos de conflito, um batalhão do Exército e as Farc, de forma conjunta, celebram ações que favorecem uma população afetada severamente”, expressou De la Calle.

O comandante guerrilheiro Pastor Alape qualificou o trabalho conjunto como um “gesto de esperança para a paz da Colômbia” e reiterou a demanda da guerrilha de acordar um cessar-fogo bilateral.

“O país está pedindo este cessar-fogo bilateral. Esta é a saída lógica, inteligente e civilizada”, afirmou Alape.

“Temos que recuperar a esperança que o país tem de que seja assinado um acordo sério e duradouro”, acrescentou.

Boas-vindas a Holguín

Nesta sexta-feira, a guerrilha deu as boas-vindas à chanceler Holguín e, em um gesto incomum, também estendeu a mão do presidente colombiano Juan Manuel Santos, que iniciou negociações com as Farc em 2012, afirmando que este enfrenta uma “campanha de desprestígio (…) dirigida a debilitá-lo e obrigá-lo a romper o processo de paz”.

“Acreditamos que a experiência diplomática da chanceler Holguín pode incorporar a dose de tranquilidade necessária. Bem-vinda”, disse a guerrilha em uma mensagem de seu comandante supremo, Timoleón Jiménez (“Timochenko”), lido perante a imprensa por seu chefe negociador em Havana, Iván Márquez.

A ministra e o empresário Gonzalo Restrepo se integraram à delegação oficial em um momento crítico do processo de paz, o que levou os garantidores, Noruega e Cuba, a pedir nesta quarta-feira novos esforços para desescalar o conflito.

A União Europeia também fez um pedido similar.

Atualmente acontece em Havana o trigésimo sétimo ciclo de diálogos de paz, dedicado ao sensível tema de reparação das vítimas. Este ciclo deve ser encerrado no domingo, mas as partes falaram de prolongá-lo até a próxima quinta-feira, disse à AFP uma fonte diplomática.

O conflito colombiano, o último que resta na América, deixou 220.000 mortos e seis milhões de deslocados, segundo cifras oficiais.

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