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Governo e oposição da Venezuela abrem nova rodada de negociações

Assinatura do memorando de entendimento que fundamenta o processo de negociação afp_tickers

O governo e a oposição venezuelanos retomam, nesta sexta-feira (24), as negociações no México, com tensões sobre a iminente extradição para os Estados Unidos do empresário colombiano Alex Saab – ligado ao presidente Nicolás Maduro – e sobre o controle de uma petroquímica venezuelana na Colômbia.

Facilitadas pela Noruega, as negociações entram em sua terceira rodada, que vai até segunda-feira (27), após nova manobra dos delegados de Maduro.

Na terça-feira passada (21), o principal negociador do chavismo, Jorge Rodríguez, anunciou a inclusão na delegação oficial de Saab. Este empresário colombiano foi detido em Cabo Verde, enquanto aguarda sua extradição para os Estados Unidos por lavagem de dinheiro de corrupção ligada a um programa alimentar estatal de Maduro. O presidente venezuelano descreveu-o como um “membro pleno” do grupo.

“Continuam a mantê-lo sequestrado em Cabo Verde de forma ilegítima, ilegal e desumana”, denunciou Maduro na quinta-feira (23).

“Precisa ver se a Noruega vai permitir. Acho que não passa de provocação”, disse à AFP o consultor político Pablo Andrés Quintero sobre a incorporação do empresário.

“O que o governo busca com isso é aumentar o custo para a oposição”, explica o professor da Universidade Central da Venezuela (UCV).

O doutor em Ciência Política e professor da Universidade Simón Bolívar (USB) Daniel Varnagy acredita que o movimento chavista tenta “usar a Noruega para exercer pressão” e impedir a extradição de Saab.

A Justiça cabo-verdiana indeferiu o último recurso da defesa para evitar a transferência de Saab para os Estados Unidos. Do governo Maduro, o empresário recebeu nacionalidade e o título de diplomata.

Três dias após o anúncio a respeito de Saab, o chavismo alertou, em um comunicado, sobre o possível “rompimento” das negociações por causa da Monómeros. Esta empresa petroquímica venezuelana instalada na Colômbia teve seu controle entregue a Juan Guaidó, opositor reconhecido como presidente da Venezuela por cerca de 50 países, embora Maduro permaneça firme no poder.

Em 6 de setembro, a Monómeros sofreu uma intervenção por parte das autoridades colombianas, o que Maduro classificou como “roubo”.

A aliança que apoia Guaidó agradeceu pela “proteção patrimonial”, mas a gestão da empresa é um ponto de discórdia.

Já existem divergências entre o Voluntad Popular, o partido de Guaidó e seu mentor, Leopoldo López, e outras organizações da oposição.

– Justiça na agenda –

Ambas as partes iniciaram negociações no México em meados de agosto e voltaram a se reunir no início do mês. A pauta dessa terceira rodada terá a Justiça como ponto central, informou o porta-voz da delegação da oposição, segundo Gerardo Blyde.

Pretende-se – disse ele – avançar para “um Judiciário independente (…) que possa tomar decisões sem interferência política”.

As reuniões anteriores foram encerradas com acordos sobre pontos sem maiores divergências: mecanismos para financiar vacinas contra a covid-19 e a ratificação da “soberania” da Venezuela sobre a Guiana.

Duas demandas centrais estão sobre a mesa. O chavismo exige o levantamento das sanções financeiras contra a Venezuela e o reconhecimento de Maduro, cuja reeleição em 2018 é denunciada como uma fraude por seus adversários. A oposição pede, por sua vez, um calendário eleitoral que inclua uma nova eleição presidencial.

Em 21 de novembro, haverá eleições para governadores e prefeitos. Nelas, os principais partidos da oposição deixarão de lado o boicote convocado por suas lideranças na disputa presidencial de 2018 e nas eleições parlamentares de 2020.

Enfraquecida, a oposição desperta dúvidas, porém.

“Falo de ‘oposições’, assim, no plural. Não há força para fazer o governo ceder”, enfatiza Varnagy, que lembrou processos de negociação anteriores fracassados como o de Barbados, em 2019, e da República Dominicana, um ano antes.

“As negociações anteriores buscavam uma ruptura do sistema e uma mudança no sistema político. Já está bastante claro que isso não vai acontecer”, reconheceu.

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