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Histórico linha-dura Antonio García comandará última guerrilha na Colômbia

O líder do ELN Antonio García em foto de 30 de março de 2016 afp_tickers

Estrategista de guerra, negociador difícil e inimigo público do Estado. Assim é Antonio García, o quarto comandante da guerrilha do ELN em 57 anos de luta armada na Colômbia. Uma possível negociação de paz pareceria ainda mais esquiva sob seu comando.

Depois de 23 anos de comando, Nicolás Rodríguez Bautista, conhecido como “Gabino”, se afastou. Os problemas de saúde o levaram a renunciar como líder máximo do Exército de Libertação Nacional (ELN) e abrir caminho a García, de 65 anos.

“É a linha mais dura. Antonio García esteve no cenário da negociação várias vezes e se destacou por ser a linha intransigente, a linha inflexível do ELN”, disse à AFP o pesquisador Camilo Echandía, da Universidade Externado.

Inspirado no mítico revolucionário Ernesto “Che” Guevara, o ELN é a última guerrilha ativa no país após o acordo de paz assinado em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Desde sua fundação, em 4 de julho de 1964, esta organização negociou com cinco governos, sem alcançar um acordo para pôr fim ao levante armado mais antigo do continente.

De Cuba, aonde Gabino chegou em 2018, o ELN anunciou na quinta-feira a ascensão de García, que segundo Inteligência militar circularia entre Colômbia e Venezuela.

– “Impossível negociar” –

Eliécer Herlinto Chamorro Acosta ou Antonio García, seu nome de guerra histórico, nasceu na cidade de Mocoa (sudoeste), no departamento (estado) de Putumayo.

Nos anos 1970, ingressou em uma frente urbana do ELN como estudante de engenharia na estatal Universidade Industrial de Santander em Bucaramanga (nordeste). Rapidamente foi designado como membro do Comando Central (COCE) e assumiu a liderança militar da organização.

Entre 1991 e 1992 foi porta-voz do ELN nos diálogos de Tlaxcala (México) e Caracas, onde defendeu o levante armado como luta contra a injustiça social na Colômbia.

As negociações infrutíferas com o governo de César Gaviria (1990-1994) incluíram também as Farc e o EPL, reunidos na Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolívar.

Depois participou de uma viagem pela Europa para ambientar a instalação de uma mesa de negociação com o presidente Ernesto Samper (1994-1998), que tampouco prosperou. García também esteve nas negociações posteriores de Andrés Pastrana (1998-2002), Álvaro Uribe (2002-2010) e Juan Manuel Santos (2010-2018).

Para o professor Echandía, sua designação “não é uma boa notícia” na perspectiva do diálogo.

“Os negociadores do governo Santos manifestavam que era uma pessoa com a qual era praticamente impossível negociar”, acrescentou.

– Escondido na Venezuela? –

Desde que assumiu a Presidência em 2018, Iván Duque sustenta que vários comandos do ELN estão em território venezuelano sob a proteção das forças chavistas, o que Caracas nega. Os dois países não têm relação nenhuma.

Em fevereiro deste ano, o governo colombiano assegurou que García estava do outro lado da fronteira de 2.200 km.

Duque sepultou os diálogos de paz que seu antecessor, o Nobel da Paz Juan Manuel Santos, celebrava com o ELN a partir de um ataque com carro-bomba que deixou 22 cadetes mortos, além do atacante.

O fim dos sequestros e “todas as atividades criminosas” são as condições do presidente para se sentar à mesa.

“O governo não deve fazer nenhum tipo de exigência, nem frente ao tema das privações de liberdade, nem às ações do conflito armado”, disse García em uma entrevista por vídeo com veículos que difundem informação sobre o ELN.

Duque “pensa que primeiro a insurgência tem que desaparecer. De entrada, nós vamos dizer que não porque nós somos um movimento armado”, acrescentou.

– Prontuário –

García chega ao comando do ELN após a liderança de Gabino (1998-2021), o sacerdote espanhol Manuel Pérez (1983-1998) e Fabio Vásquez Castaño (1964-1973).

Quando Castaño é deposto de seu cargo em 1973, após um fracasso militar que deixou vários líderes mortos, a guerrilha cambaleou durante uma década antes de ressurgir com força pelas mãos do “Padre Pérez”.

O novo líder deverá comandar 2.300 combatentes e uma extensa rede de apoio em centros urbanos.

A justiça colombiana condenou García pelo sequestro de um avião com 46 passageiros em 1999 e pela retenção de cerca de 200 fiéis da igreja La María, perto da cidade de Cali (sudoeste).

Também tem uma condenação pelo massacre no povoado de Machuca (noroeste), no qual cerca de cem pessoas morreram carbonizadas no ataque a um oleoduto que provocou um vazamento de petróleo em 1998.

García tem um alerta vermelho na Interpol pelos crimes de sequestro, homicídio com agravante e furto qualificado com agravante.

A dificuldade em negociar com o ELN radica também em sua estrutura federativa, que dá voz a cada frente e dificulta sua unidade de comando, coincidem especialistas.

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