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Honduras fará ‘trabalho cirúrgico’ para extirpar narcotráfico do Estado, promete ministro

(5 abr) O ministro Ramón Sabillón concede entrevista à AFP em Tegucigalpa afp_tickers

Honduras fará um “trabalho cirúrgico” para extirpar o narcotráfico da máquina estatal, um mal que se infiltrou nas altas esferas do poder e chegou à presidência da república, segundo o ministro da Segurança, Ramón Sabillón.

Foi ele que, em 2014, como chefe da Polícia, desarticulou em uma operação sigilosa o clã dos Valle Valle, “um cartel poderoso, que permeou as estruturas do Estado”. Mas ele não advertiu sobre o plano o presidente recém-empossado, Juan Orlando Hernández, contou, em entrevista à AFP. “Felizmente, foi uma operação sadia, limpa, uma estratégia muito bem desenhada.”

Também caíram os chefes Carlos “el Negro” Lobo e Héctor Emílio Fernández, ou “Don H”. Após esses fatos, “fui banido do país com ameaça de morte”, contou Sabillón.

Após a vitória de Xiomara Castro – que assumiu a presidência em 27 de janeiro – Sabillón foi chamado para assumir o Ministério da Segurança. “Por causa dessas reviravoltas da vida”, disse, uma de suas primeiras tarefas foi executar a ordem de prisão contra o hoje ex-presidente Hernández, que aguarda na prisão sua extradição para os Estados Unidos, onde será julgado por ter traficado cerca de 500 toneladas de cocaína para aquele país desde 2004.

Nos Estados Unidos, cumpre pena de prisão perpétua por narcotráfico seu irmão, o ex-deputado “Tony” Hernández, enquanto o ex-chefe de polícia “El Tigre” Bonilla, apontado como cúmplice de ambos, está preso em Tegucigalpa e também com passagens para a América do Norte.

– Desarticular o “narco-Estado” –

P: Para os promotores de Nova York que acompanham o caso Hernández, um narcoestado foi instaurado em Honduras. Como fazer para desmontá-lo? Haverá capacidade?

R: Sim. Há escassez de recursos, mas, com esse redesenho institucional na estratégia contra o crime organizado, aplicamos procedimentos que são e têm sido assertivos.

Quando o crime organizado se infiltra no Estado, torna-se uma máfia, porque detém o poder público. Então é um trabalho cirúrgico que precisa ser feito. A partir da via democrática, recuperando as instituições públicas, e da aplicação da lei, com processos fortes. E um terceiro processo preventivo seria a educação, para que essas instituições não se contaminem.

P: O que significa para o país a extradição do ex-presidente Hernández?

R: O importante é que esteja em curso, e isso passa uma mensagem forte para toda a população, para quem aspira a cargos públicos, de que o Estado não irá tolerar esse tipo de situação, nem, portanto, que nossas instituições sirvam para outros Estados se contaminarem. É uma luta que afeta outros povos do mundo.

P: Quantos estão em processo de extradição?

R: Estamos falando em mais ou menos 40 que estão em processos de extradição, processos investigativos, quero dizer (não detidos ainda, e sim solicitados pelos Estados Unidos, ndr).

– Da ponte ao produtor –

P: Honduras deixou de ser ponte de transporte de cocaína para se tornar fabricante?

R: É evidente. Aí estão as fotografias, a erradicação de plantações de coca e os laboratórios. Três, acho, ou quatro desmontados neste ano.

Os cartéis querem ser semiautônomos (com cultivos em Honduras), no sentido de não dependerem do ponto de origem (na América do Sul) e responderem com um lucro maior ao porto de destino, aos grandes mercados consumidores internacionais.

– Vínculos com o ‘Chapo’ –

P: O ‘Chapo’ Guzmán tinha ligação com o ex-presidente?

R: Isso dizem os julgamentos (em Nova York), os outros elementos essenciais de investigação que tínhamos também nos informavam (sobre essa possibilidade). Mas o que podia fazer uma instituição (a Polícia, que ele dirigia em 2014) quando a cúpula do país está envolvida (no narcotráfico)? A corda se rompe no lado mais fraco, e se rompeu no meu. Removeram o diretor da Polícia.

P: O que representa pra você estar de volta?

R: A estrutura do Estado estava permeada e um funcionário de baixo, do primeiro escalão da Justiça (ele, desde a Polícia, ndr), não podia optar por desarticular o máximo do Estado, nesse caso do Executivo. Então, para mim, representa um trabalho de justiça e um sucesso.

Chegar aqui e cristalizar o desmonte de uma estrutura forte, isso para mim é como ganhar a Copa do Mundo no sentido profissional, não pessoal.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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