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Iván Duque enfrenta dilemas após derrota retumbante na Colômbia

O presidente da Colombia, Iván Duque, chega a Escola de Cadetes da Polícia Geral Santander, depois de um atentado em 17 de janeiro de 2019, em Bogotá afp_tickers
Este conteúdo foi publicado em 31. maio 2019 - 21:22
(AFP)

O presidente Iván Duque perdeu sua aposta ousada para reformar o acordo de paz da Colômbia. Com nove meses no poder e as pesquisas contra ele, a derrota pelas mãos da Justiça pode forçar um ponto de quebra cedo no seu governo.

- Virada ou radicalização -

Sem uma maioria consolidada no Congresso, para os analistas Duque enfrenta o dilema de dar uma guinada ou ficar preso a uma bandeira moribunda do governo por pressão de seu partido de direita, o Centro Democrático, que insiste em modificar o que foi acordado em 2016, com o que foi a guerrilha mais poderosa da América, apesar do alto custo político e das críticas internacionais.

Seja qual for o rumo que o governo tome, impactará um país ainda polarizado pelo acordo com as Farc - envolvido em crimes atrozes ao longo de meio século de luta armada - e assediado pelo narcotráfico e pela violência de várias organizações que somam pelo menos 6.300 homens armados, um pouco menos que os 7.000 que a dissoluta guerrilha tinha.

A situação é agravada, além disso, por assassinatos de ex-combatentes, ativistas de direitos humanos e pelas críticas e demandas dos Estados Unidos acerca da ausência de resultados na luta contra as drogas.

- Desgaste -

Eleito para um único mandato de quatro anos, Duque está no "pior de todos os mundos", diz Carlos Arias, especialista em comunicação política na Universidade Externado.

Na quarta-feira a Justiça lhe deu uma estrondosa derrota dupla. Por um lado, tirou a base de suas objeções no sistema de Justiça de paz acordado com as Farc e, por outro, libertou um ex-comandante rebelde condenado à extradição pelos Estados Unidos por suspeita de ter planejado um envio de cocaína depois de ter deposto as armas.

O Congresso rejeitou as objeções levantadas por Duque e pela Justiça, validando a votação que foi questionada pelo partido no poder, ordenando-lhe que promulgue a lei que apoia o sistema que julgará os piores crimes cometidos durante o conflito.

No sistema, aqueles que disserem a verdade, repararem suas vítimas e se comprometerem a nunca mais exercer a violência receberão penas alternativas à prisão.

Duque estava decidido em levar adiante as mudanças em um acordo que ele acredita promover a impunidade, apesar dos apelos das forças políticas para virar a página e implementar os compromissos apoiados pela ONU.

Também tornou a extradição de Jesus Santrich uma questão de honra. O processo ficou suspenso até a avaliação da Suprema Corte.

"Foi um desgaste muito forte para ele (...) e isso enfraqueceu o governo perante a opinião pública", diz Yann Basset, analista da Universidad del Rosario. Embora, acrescenta, a "derrota" possa permitir-lhe lidar com outras questões e "deixar o seu partido se opor ao acordo de paz".

Álvaro Forero, da Fundação Liderança e Democracia, concorda. O fracasso serviria como "evidência para dizer ao seu partido: não me pressione mais com as bandeiras do Não (ao acordo) porque isso divide, polariza e atrasa a agenda legislativa".

- Violência em ascensão -

No entanto, é improvável que o presidente se livre da camisa de força colocada pelo Centro Democrático, dirigido pelo ex-presidente Álvaro Uribe, um feroz crítico dos acordos com as Farc e que levou Duque ao poder.

O presidente gostaria de "tomar essa distância, ou pelo menos passar para outras questões, mas a verdade é que ele não tem espaço político para fazê-lo", ressalta Basset.

Assim, concordam diferentes analistas, o que resta a fazer é esperar que o presidente insista em ajustar o acordo em uma atmosfera ofuscada pelo assassinato de 128 ex-combatentes das Farc desde a assinatura da paz e pela decisão de alguns ex-comandantes de se desviarem dos compromissos, alegando violações do Estado.

"Toda essa retórica anti-paz gera instabilidade e fortalece a dissidência (das Farc). Em poucos anos as questões de ordem pública serão muito sensíveis", alerta Forero.

O acordo de paz reduziu significativamente a violência.

Duque já se esquivou da opção de "corrigir as coisas que não estão indo bem" para garantir uma "paz com legalidade e sem impunidade", embora a fórmula para alcançá-la ainda seja incerta. Líderes de seu partido apoiam uma Assembleia Constituinte para reformar a Justiça e o acordo de paz.

As tentativas de reformas trouxeram à tona "a falta de compromisso com a implementação dos acordos (...) e isso implicou em um alarme ao nível da comunidade internacional, produziu a coesão política dos partidos que tinham apoiado (o acordo) e mostrou um espírito antidemocrático, porque em última análise, a reforma dos acordos está indo contra as leis e julgamentos ", diz Forero.

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