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Lasso aposta no livre comércio para recuperar economia do Equador

Candidato presidencial equatoriano Guillermo Lasso em entrevista com a AFP afp_tickers

Guillermo Lasso remodelou sua imagem antes da votação de domingo no Equador. Mas seus jeans, camisas coloridas e tênis dificilmente escondem o candidato tradicional que promete fortalecer a cooperação com os Estados Unidos, controlar a dívida e lutar pelo livre comércio.

Lasso, de 65 anos, demorou a entrar na política. Antes disso, era banqueiro, passado que seus detratores usam para acusá-lo da crise bancária que atingiu o país no final dos anos 1990.

No entanto, o direitista apresenta sua experiência em finanças como prova de sua capacidade de limpar a economia equatoriana em dificuldades sem sair da dolarização ou apertar a corda com o FMI, que aprovou um empréstimo de 6,5 bilhões de dólares em troca de um compromisso de austeridade.

Lado a lado na disputa pela cadeira presidencial com o esquerdista Andrés Arauz, de 36 anos, ocupa o segundo lugar nas pesquisas. Se vencer, realizaria seu desejo de se tornar presidente na terceira tentativa.

Em suas duas décadas na política, ganhou o título de líder do anti-correísmo por sua feroz oposição ao ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017). Em sua campanha, sem mencionar o ex-presidente, apresenta um cenário de caos diante de uma eventual vitória de Arauz, pupilo do ex-presidente.

De passo lento devido a uma lesão na medula espinhal provocada por negligência médica, Lasso, membro do Opus Dei, visita igrejas por onde caminha.

Antes de visitar Balbanera, a primeira igreja católica do Equador fundada em 1534, Lasso concordou em falar com a AFP sobre seus planos econômicos, democracia e relações internacionais.

Pergunta: Como será sua relação com o FMI?

Resposta: Excelente não só com o Fundo Monetário, mas com o Banco Mundial, com o BID, com a CAF porque o Equador é um país pequeno que está em crise e que precisa da ajuda de todos os governos e de todos os organismos multilaterais de crédito que entendam as necessidades do nosso país.

P: Você renegociará o acordo de austeridade?

R: Mais do que renegociar, haverá pontos a ser mudados, como não aumentaremos o ICMS (de 12% para 15%). Se o Fundo tiver um acordo prévio (sobre esse aumento), isso será um ponto a mudar.

P: Como você lidará com a dívida externa?

R: A dívida em geral (externa e interna) do Equador é muito grande, estamos falando de quase 70% do Produto Interno Bruto. Se quisermos resolver o problema da dívida, temos que administrar bem a economia, visando um déficit zero no médio prazo para não nos endividarmos mais.

Nos próximos quatro anos de meu governo não haverá vencimentos, portanto não há possibilidade de moratória ou renegociação.

P: O que você planeja para a recuperação econômica?

R: O Equador deve fazer parte da Aliança do Pacífico, de forma plena e da maneira mais urgente possível.

Nossa meta será a geração de dois milhões de empregos nos próximos quatro anos de governo e, dessa forma, teremos mais de cinco em cada dez equatorianos trabalhando.

P: Qual será a sua política contra o tráfico de drogas?

R: Vamos precisar do apoio dos Estados Unidos, nosso principal parceiro comercial. Procurarei maior cooperação na luta contra as máfias transnacionais, especialmente as de tráfico de drogas.

P: Qual será sua posição em relação à situação na Venezuela?

R: Sempre lutaremos pela democracia na região. Promoveremos todos os esforços para que os países sejam governados por líderes democráticos, em um ambiente de liberdade. Nunca ao totalitarismo.

P: O que você acha sobre descriminalizar o aborto e permitir a adoção de crianças por casais LGBTI?

R: Tenho uma posição pessoal (antiaborto), mas como presidente do Equador devo reconhecer que existem 17 milhões de equatorianos com diferentes formas de pensar. Vou respeitar essas formas de pensar.

P: Haverá acordos com o correísmo para governança?

R: Não descarto um acordo com nenhum equatoriano que aja de boa fé, que entenda que há um grande objetivo pela frente, que é fazer o país avançar.

Se amanhã Correa entender isso e quiser fazer parte de uma grande aliança nacional baseada nos interesses mais caros do país (…) ficarei feliz.

P: Qual é a sua posição em relação ao meio ambiente e aos povos indígenas?

R: Em primeiro lugar, há o cuidado com a água, com a natureza e com a vida. Com relação ao petróleo e à mineração, o Equador possui recursos que está explorando, mas teremos o cuidado de realizar a remediação ambiental.

Para os setores indígenas, meu respeito pela cultura e pelos costumes. Vamos criar uma subsecretaria de Saúde Indígena, também vamos fortalecer a educação multicultural bilíngue.

P: Depois de duas derrotas eleitorais, esta será sua última campanha presidencial?

R: Vou vencer, amigo.

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