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Lula completa um ano preso e milhares vão às ruas pedir sua libertação

Partidários do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se manifestam em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, em 7 de abril de 2019 afp_tickers

Milhares de simpatizantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediram sua libertação neste domingo (7) em frente à Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, onde ele está preso há exatamente um ano – atos que se repetiram em outras cidades do Brasil e do mundo.

Desde cedo, simpatizantes do líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), de 73 anos, entre eles vários líderes desta formação, e representantes de organizações afins, se reuniram em um terminal rodoviário e marcharam por cerca de dois quilômetros até a Superintendência da PF, aos gritos de “Lula livre” e palavras de ordem contra o presidente Jair Bolsonaro.

Ali, a poucos metros de sua cela de 15 metros quadrados, onde cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão, dezenas de militantes permanecem em vigília desde o dia de sua detenção, cantam todas as manhãs, às 9h, “Bom dia, presidente Lula” e se despedem às 19h com um coro de “boa noite”.

“É um processo que não tem pé, nem cabeça, que nós não podemos aceitar. Nós vamos continuar nos manifestando. Vamos continuar lutando pelos direitos do povo e como o Lula é do povo, nós vamos continuar lutando por seus direitos”, advertiu o ex-candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, derrotado por Bolsonaro no segundo turno das eleições de outubro.

Segundo os organizadores, o ato reuniu dez mil pessoas, muitas delas vestindo vermelho, enquanto a Polícia Militar do estado do Paraná estimou os participantes entre 3.000 e 5.000.

“A gente sabe que é muto difícil [sua libertação], o contexto é bastante adverso e a esperança nos mantém vivos”, declarou à AFP o engenheiro agrônomo Alexandre Giehl.

A conta do Twitter @LulaOficial exibiu imagens de manifestações e atos de apoio ao ex-presidente em outras cidades do Brasil, entre elas São Paulo e Belo Horizonte, e em várias capitais do exterior.

Entre as mensagens dirigidas a Lula na mesma conta, destacava-se a do presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

“Um ano depois do injusto encarceramento do nosso irmão, @LulaOficial, me uno às vozes livres do mundo, que clamam por justiça e pelo cessar da perseguição. Vamos, povo brasileiro! Força e coragem para continuar na luta pela dignidade da Grande Pátria. #LulaLivre”, escreveu.

Também foram convocados atos em várias cidades do país a favor da operação ‘Lava Jato’, que levou Lula à prisão. Em São Paulo, a manifestação gerou confronto entre simpatizantes e críticos de Lula, segundo o portal de notícias G1.

– “Sou preso político”

Decidido a provar sua inocência diante do que considera uma “farsa judicial”, Lula disse em carta lida em frente à sua prisão pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que sua candidatura às eleições de outubro foi inabilitada para evitar que voltasse à Presidência.

“Jamais apresentaram uma única prova contra mim. Sou preso político, exilado dentro do meu próprio país”, escreveu.

Em artigo intitulado, ‘Por que têm tanto medo de Lula livre?’, publicado neste domingo no jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente assegura que seu encarceramento busca evitar que a oposição se reorganize no país, em um momento em que seu partido carece de liderança e está desprestigiado pela corrupção que envolveu quase toda a classe política.

Além disso, denunciou a “parcialidade de Sergio Moro”, que antes de assumir o ministério da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro, era juiz federal e foi o responsável pela condenação de Lula em primeira instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente teve confirmada a condenação em segunda instância, por ter sido considerado beneficiário de um apartamento tríplex oferecido pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras.

Em fevereiro deste ano, o ex-presidente foi sentenciado a outros 12 anos e 11 meses pelas reformas em um sítio em Atibaia, também em troca de contratos com a petroleira.

Se a pena for confirmada em segunda instância, suas penas somariam 25 anos. Mas segundo a legislação brasileira, poderia passar para o regime semi-aberto após quatro anos de reclusão, ou seja um sexto da pena, desde que não seja condenado em outros dos processos abertos contra ele.

Seus incontáveis recursos foram rejeitados e na quinta-feira passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) adiou indefinidamente os debates inicialmente previstos para a próxima semana sobre uma mudança na jurisprudência para condenados em segunda instância, o que poderia resultar em sua libertação.

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