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México e EUA chegam a acordo sobre solicitantes de asilo

Migrantes centro-americanos fazem fila para conseguir alimentos nos arredores de um acampamento ao lado da fronteira entre EUA e México em Tijuana, 24 de novembro de 2018 afp_tickers

Os migrantes que solicitarem asilo nos Estados Unidos a partir da fronteira sul do país deverão permanecer no México enquanto aguardam que seus pedidos sejam processados, anunciou no sábado o presidente Donald Trump, aparentemente confirmando informações da imprensa sobre um acordo bilateral no tema.

Mais cedo, o futuro governo mexicano informou que alcançou um acordo com a administração americana para permitir que os solicitantes de asilo permaneçam no México enquanto se examina seu pedido para ingressar nos Estados Unidos.

“Por enquanto, chegamos a um acordo sobre esta política”, havia declarado ao jornal The Washington Post Olga Sánchez Cordero, que será a ministra do Interior do futuro governo mexicano que assume o mandato em 1° de dezembro.

O presidente americano anunciou que migrantes em busca de asilo em seu país através da fronteira sul poderiam ter que aguardar no México enquanto seus pedidos são processados.

“Os migrantes na fronteira sul não poderão entrar nos Estados Unidos até que seus pedidos sejam aprovados individualmente na corte”, tuitou. “Todos permanecerão no México”.

O acordo, uma vitória para a administração americana, foi alcançado depois de Trump manifestar indignação pela presença de milhares de migrantes centro-americanos que, fugindo da pobreza e da violência de seus países, cruzaram para o lado mexicano da fronteira com a esperança de entrar nos Estados Unidos.

Trump, que reuniu milhares de soldados na fronteira com o México, ameaçou fechá-la completamente se a situação piorasse.

A ministra, citada em um artigo do jornal, evocou uma “solução de curto prazo”, mas “a solução a médio e longo prazos é que as pessoas deixem de migrar”, acrescentou.

“O México tem os braços abertos e tudo o necessário, mas imagine, caravana após caravana, seria um problema para nós também”, destacou.

Em declaração divulgada no sábado de Guadalajara, onde assiste à Feira do Livro, a ministra indicada esclareceu que por enquanto “não existe nenhum acordo” e, sem desmentir o conteúdo do artigo, lembrou que o presidente Andrés Manuel López Obrador “iniciará seu mandato em 1º de dezembro”.

O acordo com o México significaria uma vitória para o presidente americano, Donald Trump, que fez da firmeza contra os migrantes uma de suas prioridades.

Cinco mil migrantes, a maioria hondurenhos, esperam confinados em um albergue na cidade mexicana de Tijuana, após uma viagem exaustiva. Carolina Flores, hondurenha de 38 anos, lamenta a visão do presidente americano.

“Ele não é como outros presidentes, acessível com os migrantes. Ele é fechado”, queixa-se.

“Nos vê como um bicho que vai corroer aquilo lá. Nós viemos atrás de uma oportunidade”, reclama.

Segundo o Washington Post não foi assinado nenhum acordo formal, mas as autoridades americanas veem o acordo como um avanço potencial para desestimular a migração.

Os oficiais de asilo dos Estados Unidos vão começar a implementar os novos procedimentos nos próximos dias e semanas, segundo funcionários da Segurança Nacional, citados pelo jornal.

Os solicitantes de asilo vão receber uma avaliação inicial para determinar um se enfrentam um risco iminente ao permanecer no México, onde a violência é generalizada.

Sob o novo sistema, os funcionários americanos serão capazes de processar ao menos o dobro de solicitações de asilo porque não estarão limitadas pelo espaço de detenção nos pontos de entrada aos Estados Unidos, assegurou a publicação.

– Recrutando migrantes –

Orlinda Morales, hondurenha de 31 anos, recebeu a notícia com otimismo em Tijuana: “Acho ótimo porque não vamos mais ter que ficar na geladeira. Arranjaremos trabalho aqui até conseguirmos o processo para entrar nos Estados Unidos”, disse.

As autoridades mexicanas instalaram recentemente uma “feira do emprego” em Tijuana especialmente para os integrantes da caravana, com o objetivo de integrá-los à próspera indústria manufatureira da cidade fronteiriça.

Representantes de empresas estão recrutando os migrantes, que obterão um visto humanitário que lhes permitirá trabalhar legalmente no México e ter acesso à previdência social.

Segundo o Washington Post, uma das regras do acordo é que os solicitantes que tenham negado o pedido não possam voltar ao México, mas permanecerão sob a custódia dos Estados Unidos até que sejam deportados ao seu país de origem.

A publicação indica que o acordo se concretizou na semana passada, em Houston, durante uma reunião entre Marcelo Ebrard, futuro ministro das Relações Exteriores do México, e funcionários americanos, inclusive a secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, e o secretário de Estado, Mike Pompeo.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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