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México realizará legislativas marcadas por pandemia e campanha sangrenta

Propaganda eleitoral na Cidade do México, em 1 de junho de 2021 afp_tickers

O México renovará sua Câmara de Deputados e cerca de 20 mil cargos locais no domingo (6), em uma eleição marcada pela pandemia e a violência, que colocará à prova o presidente Andrés Manuel López Obrador.

Cerca de 95 milhões de mexicanos são chamados a eleger, além disso, 15 dos 32 governadores, num momento em que o país completa 20 semanas com números em queda da covid-19.

Mesmo assim, com 228.146 mortes, o México é o quarto país mais afetado pela pandemia em números absolutos e o décimo nono em relação aos números por 100.000 habitantes.

A crise sanitárias soma-se à pobreza, situação em que metade da população – 126 milhões – já vivia antes do novo coronavírus.

As eleições serão realizadas após uma campanha sangrenta que resultou em 89 políticos assassinados desde setembro passado. Desses, 35 eram candidatos, segundo a consultoria Etellekt.

López Obrador, que atribui a violência a uma estratégia do crime organizado para ampliar seu poder, afirma que a segurança no dia da votação está garantida. Em 2018, 48 candidatos foram assassinados.

“Enquanto os candidatos competem por votos, os grupos criminosos estão ocupados procurando aliados em potencial entre as futuras autoridades”, diz a ONG International Crisis Group.

– Caráter plebiscitário –

Nesse contexto, a eleição terá caráter plebiscitário para o líder esquerdista, eleito em 2018 por seis anos e cuja popularidade ultrapassa 60%, segundo pesquisas.

“O presidente continua sendo o principal ator de todo o ecossistema político”, afirma a analista Paula Sofia Vázquez.

As eleições vão reeditar o processo em que López Obrador, de 67 anos, emergiu como candidato “antissistema” contra a corrupção dos partidos tradicionais PRI (centro), PAN (conservador) e PRD (esquerda), hoje unidos contra o governante Morena.

Essa coalizão “veio para confirmar a narrativa do presidente de que todos eram contra ele” e seu chamado à “transformação”, acrescenta Vázquez.

Em 2018, AMLO, como é chamado o governante, obteve dois terços dos 500 deputados, uma “maioria qualificada” que permite a modificação da Constituição.

Agora ele tenta manter esse controle, mas resultados díspares na economia, segurança e saúde não o garantem.

A economia mexicana, a segunda maior da América Latina, despencou 8,5% em 2020 arrastada pela pandemia, mas o governo espera uma recuperação de 6,5% este ano.

Enquanto isso, a violência dos cartéis de drogas persiste – com mais de 83.000 assassinatos nos últimos seis anos -, embora as autoridades relatem uma queda de 1,3% em 2020, a uma taxa de 27,01 homicídios por 100.000 habitantes.

A aliança oficialista passaria de 333 para 322 cadeiras, mantendo assim a “maioria simples” (metade mais um) necessária para aprovar leis ordinárias, segundo levantamento consolidado da Oraculus.

Entre as reformas propostas por López Obrador estão a do setor de energia – que devolveria o protagonismo ao Estado-, uma eleitoral e outra fiscal, segundo analistas.

Desde 1997, as eleições parlamentares reduziram ou arrancaram as maiorias dos partidos no poder.

A coalizão do Morena seguiria esse caminho, mas por muito pouco, graças à popularidade de AMLO, que promove vastos programas de apoio monetário a setores vulneráveis, diz Vázquez.

“Nunca ficamos sem comer, recebemos apoio nessa pandemia”, afirma Édgar Alonso, um comerciante da Cidade do México.

Sete em cada 10 famílias recebem auxílio do governo, que enfrenta uma oposição difusa.

Os decepcionados com AMLO “não têm para onde ir”, opina Carlos Bravo Regidor, do Centro de Investigación y Docencia Económicas.

Assim, o perigo para o partido no poder são seus demônios internos, desencadeados por uma suposta opacidade na seleção de candidatos e a polêmica sobre o apoio de López Obrador a um candidato a governador acusado de abuso sexual, que acabou abandonando a disputa.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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