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Médicos pedem quarentena voluntária urgente na Nicarágua

Familiares de pacientes fazem fila para entrar no hospital alemão-nicaraguense, que trata de pacientes com COVID-19, em Manágua, 1º de junho de 2020 afp_tickers

Os sindicatos médicos da Nicarágua convocaram nesta segunda-feira (1) a população a adotar em caráter de urgência uma quarentena voluntária para enfrentar a propagação do novo coronavírus, que em sua avaliação está em expansão e colapsa os hospitais, embora o governo “o continue negando”.

Trinta e quatro associações médicas pediram para “iniciar com urgência uma quarentena de forma voluntária que ajude a reduzir o impacto” da COVID-19, indicaram em um comunicado.

A convocação consiste em ficar em casa pelo menos um mês, sair sozinho uma vez por semana para comprar insumos, manter o distanciamento social, usar máscaras e lavar constantemente as mãos. Também defendem o “fechamento temporário de negócios não essenciais”.

O governo nicaraguense afirma que a pandemia “está sob controle” e se recusa a estabelecer medidas restritivas “extremas”, como fechar negócios ou paralisar o transporte público, por considerar que fragilizaria a economia.

No entanto, o Observatório Cidadão, integrado por médicos e sociedade civil, contabilizou em 27 de maio 3.725 contágios suspeitos e 805 falecidos, muito mais do que os 759 casos e 35 mortos que o Ministério da Saúde reconhece, e que não dá conta da realização de exames de diagnóstico.

A ONG se considera uma fonte alternativa devido ao vácuo de informação oficial sobre o comportamento da COVID-19 no país e é formada por médicos voluntários e redes comunitárias que compilam informação sobre “casos suspeitos” de coronavírus e outras mortes.

Os médicos qualificaram a situação como “dramática” e advertiram que poderia “se agravar nos próximos dias e semanas com consequências funestas nos lares” se medidas não forem tomadas para conter a pandemia.

O crescimento exponencial da COVID-19 “provocou um colapso no sistema de saúde pública e privada (…), com hospitais saturados, falta de leitos, remédios e produtos essenciais, como oxigênio”, acrescentaram.

A isso se soma o fato de que dezenas de médicos e trabalhadores sanitários teriam se contagiado com o coronavírus, com um balanço “importante” de falecidos, o que causou sobrecarga de trabalho, esgotamento físico e emocional destes profissionais.

O Conselho Superior da Empresa Privada apoiou a iniciativa do sindicato médico e pediu “às empresas, no âmbito dos negócios não essenciais, que tenham condições de fazê-lo, que encerrem suas operações enquanto se reduz a taxa de contágio”.

Organizações sociais, políticas e de direitos humanos apoiaram o apelo dos médicos, enquanto o governo não se pronunciou.

O governo da Nicarágua, o segundo país mais pobre da América Latina, com 6,2 milhões de habitantes, não só evitou tomar medidas contra o novo coronavírus, mas também promoveu atos maciços e manifestações, contrariando as recomendações de organismos sanitários internacionais.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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