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Medo de febre amarela lota centros de vacinação

Pessoas fazem fila para receber a vacina contra a febre amarela em um centro público de saúde, no Rio de Janeiro, em 17 de março de 2017 afp_tickers

Regina saiu de casa às 04h00 da manhã mas, mesmo assim, não conseguiu vacinar seus três filhos contra a febre amarela que gera pânico no país, onde já provocou mais de 130 mortes neste ano.

Assim como centenas de moradores do Rio de Janeiro, esta jovem de 29 anos se dirigiu na sexta-feira a um dos 34 centros de vacinação municipal, totalmente lotados.

Desde a confirmação, na quarta-feira, da primeira morte vinculada à febre amarela no estado do Rio, onde vivem mai de 16 milhões de habitantes, a inquietação se apodera da população, embora as autoridades tentem acalmar as pessoas.

“Está horrivelmente mal organizado. Não dão prioridade aos que têm filhos e muita gente fica de fora”, reclama Regina da Silva, com sua filha de um ano no colo, enquanto tenta pegar as mãos de seus filhos de 3 e 6 anos.

A campanha de vacinação começou oficialmente na quinta-feira, mas está limitada às 25 cidades situadas no norte da região administrativa do Rio, na fronteira com os estados vizinhos de Minas Gerais e Espírito Santo, os mais afetados pela epidemia.

Na “Cidade Maravilhosa”, os centros de vacinação habituais estão sobrecarregados. No dia 27 de março seu número passará de 34 a 233, porque os serviços municipais não querem modificar seus calendários.

O ministério da Saúde registra 424 casos confirmados em todo o Brasil e 137 mortes até agora, enquanto 993 casos suspeitos seguem sob investigação.

Este é o pior surto de febre amarela em 14 anos. A doença viral hemorrágica aguda transmitida por mosquitos matou 17 pessoas em 2009, 27 em 2008, 23 em 2003 e 5 em 2015.

Segundo os especialistas, a doença se estendeu para fora das regiões habituais do norte e do oeste do país, afetando locais onde a população normalmente não é vacinada.

– “Uma piada” –

No estado do Rio foram confirmados dois casos: uma pessoa morreu e outra segue hospitalizada. Embora a doença ainda não tenha chegado à capital, as filas nos postos de vacinação são intermináveis.

“Recomendamos a vacinação apenas para as pessoas que viajarão às zonas de risco, mas a população não segue nossa recomendação, por isso a demanda aumentou tanto”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde, Cristina Lemos.

Em Botafogo, na zona sul da cidade, a fila começou a se formar às 05h00 da manhã e apenas os 90 primeiros receberam a vacina.

“É uma piada que deixem entrar 90 pessoas!”, exclama uma jovem, irritada por não ter sido contemplada com a vacina após duas horas de espera.

“Perdi meu dia de trabalho, minha filha não pôde ir à escola, é realmente uma falta de respeito”, critica Beatriz Monte Alegre, uma veterinária de 38 anos.

– “A situação pode mudar” –

Fátima Mesquita pôde comemorar: recebeu um pedaço de papel com uma senha para receber a vacina.

“Cheguei às 06h20 e me deram o número 45. Há muita confusão aqui, mas me sinto aliviada porque esta epidemia é realmente terrível”, conta esta secretária de 45 anos.

“O governo pede para que não entremos em pânico, mas não vou esperar que anunciem ainda mais mortes para me vacinar”, conclui.

A superintendente de Vigilância em Saúde lembra aos estrangeiros que planejam viajar ao Rio em breve que, “no momento, não somos uma zona onde a vacina é exigida”.

“Mas a situação pode mudar”, reconhece.

A vacina contra a febre amarela já é obrigatória para os turistas que viajam ao Amazonas.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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