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Militares venezuelanos prometem ‘lealdade’ a Maduro antes de protesto opositor

Foto cedida pela presidência venezuelana mostra Nicolás Maduro (C) ao lado de sua esposa, Cilia Flores, durante a celebração à Milícia Bolivariana, em Caracas, em 17 de abril de 2017 afp_tickers

A dois dias de uma grande manifestação contra o governo, o presidente Nicolás Maduro recebeu nesta segunda-feira a promessa de “lealdade incondicional” da Força Armada, a qual a oposição acusa de ser a única que sustenta o chavismo no poder.

“A Força Armada Nacional Bolivariana preserva sua unidade monolítica, granítica e ratifica sua lealdade incondicional ao senhor presidente”, disse o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, em uma concentração militar liderada por Maduro nos arredores do Palácio de Miraflores, a sede do governo.

Usando quepe, Maduro agradeceu o apoio da cúpula castrense: “amor com amor se paga, lealdade com lealdade se paga”, disse ao iniciar seu discurso, no ato que homenageia a milícia civil.

Cercado pelo alto comando militar, o presidente socialista chegou a Miraflores em um jipe, em meio a milhares de milicianos que o ovacionavam com o punho em riste.

Neste ato, Maduro anunciou a expansão do corpo da milícia, formado por civis armados, para 500.000 membros.

“Aprovei com o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, os planos para expandir a Milícia Nacional Bolivariana para 500.000 milicianos e milicianas com todos os seus equipamentos”, declarou.

O presidente prometeu garantir por meio da Força Armada “uma arma para cada miliciano, uma arma para cada miliciana”.

O líder opositor Henrique Capriles avaliou que a decisão revela o “desespero” do atual governo. “A Venezuela não quer fuzis, quer comida e medicamentos”.

Em seu discurso, Maduro ameaçou: “não é tempo de traidores, não é tempo de traição, não é tempo de vacilantes; que cada qual se defina se está com a pátria ou contra ela”.

Na noite de domingo, o presidente ordenou que os militares desfilassem e saíssem às ruas nesta segunda-feira para reafirmar a “união cívico-militar” com a qual governa a Venezuela e para homenagear a milícia, criada há sete anos por Chávez.

As demonstrações de força ocorrem na véspera da marcha que a oposição convocou para quarta-feira, quando é comemorado o primeiro grito independentista venezuelano, a fim de exigir eleições e respeito à autonomia do Parlamento.

A oposição promete que na quarta ocorrerá “o início do fim” e “a mãe de todas as marchas”, mas o governo também assegura que neste dia encherá as ruas de Caracas.

Padrino López acusou nesta segunda-feira o comando opositor de executar, com apoio de grupos da “extrema direita” no exterior, uma “agenda criminosa” que inclui “atos terroristas, distúrbios, roubos, vandalismo e diferentes formas de violência”.

Organização não governamentais denunciaram uma “forte repressão”, com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e, inclusive, armas de fogo.

“A ação do Estado não pode ser chamada de repressiva se visa a restituição da ordem pública”, respondeu Padrino López.

Onze países latino-americanos pediram à Venezuela, nesta segunda-feira (17), que “garanta” o direito à manifestação pacífica, a dois dias de uma grande marcha contra o governo de Nicolás Maduro.

Em um comunicado conjunto, Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Paraguai, Peru e Uruguai “reafirmam sua rejeição à violência” e manifestam seu “profundo pesar e repúdio à morte de seis cidadãos durante os protestos” ocorridos nos últimos dias.

A chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, rejeitou no Twitter a “grosseira ingerência” dos onze países, que avalizam a “violência vandálica da oposição”.

A Força Armada tinha amplo poder durante o governo de Chávez, mas sua influência aumentou com Maduro.

“Chávez incorporou os militares à gestão do governo e a tendência foi se aprofundando com Maduro. Hoje temos mais do que um governo cívico-militar, [temos] um governo militar-cívico”, declarou à AFP o analista Luis Vicente León.

A Força Armada – que também luta com os milicianos – conta com 165.000 efetivos e 25.000 na reserva. Ela controla a produção e distribuição de alimentos básicos em grave escassez, além da companhia petroleira, uma emissora, um banco, uma montadora de veículos e uma construtora.

Para o analista Benigno Alarcón, ao enfraquecer o apoio popular, o governo optou por manter o poder “pela força” e “comprou a lealdade” dos militares.

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