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Morales busca 4º mandato após 13 anos de governo em declínio na Bolívia

O presidente da Bolívia, Evo Morales, na Assembleia Geral da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2019 afp_tickers

Com a imagem desgastada por 13 anos de uma gestão manchada pela corrupção em seu entorno, o boliviano Evo Morales, presidente mais antigo no cargo na América do Sul, busca estender seu mandato até 2025, apoiando-se em um ciclo de bonança econômica que agora está em declínio.

Pastor de lhamas na infância, o primeiro presidente indígena da Bolívia, que tem apenas o Ensino Básico, lidera todas as pesquisas a duas semanas das eleições. Tudo aponta que disputará seu quarto mandato com o candidato de centro Carlos Mesa.

As sondagens divulgadas pela imprensa local apontam que Morales, de 59 anos, não conseguirá alcançar no primeiro turno os 40% dos votos e uma vantagem de dez pontos sobre Mesa necessários para ser proclamado vencedor. Com isso, a disputa deve ir para o segundo turno, onde talvez seja derrotado.

“Alguns jornais mentirosos dizem que, com certeza, não vamos ganhar no primeiro turno. Irmãos e irmãs, vamos ganhar com folga no primeiro turno”, afirmou o presidente há alguns dias, irritado com a divulgação das últimas pesquisas.

O ex-líder “cocalero” chegou ao governo em janeiro de 2006, com 54% dos votos, e revalidou o cargo com 64% para o período 2010-2015 e com 61% para a gestão 2015-2020. Conseguiu manter maioria no Congresso em seus dois últimos mandatos, reforçando seu poder político.

– Ascenção –

Nos 13 anos de governo, Morales impulsionou o país a um auge econômico e a uma estabilidade política e social inéditas, com algumas medidas duramente criticadas. Entre elas, está a nacionalização dos hidrocarbonetos, crucial em sua gestão.

Com esta medida, que afetou a espanhola Repsol, a francesa Total e a brasileira Petrobras, que continuam operando no país após renegociarem contratos, a receita com petróleo subiu de US$ 674 milhões, em 2005, para US$ 2,281 bilhões em 2018, apesar da recente desvalorização dos preços internacionais do cru.

Quando o petróleo estava em alta, a Bolívia obteve 5,53 bilhões em 2014, e as reservas internacionais líquidas chegaram a US$ 15 bilhões, um número nunca visto no país.

Além disso, Morales redistribuiu a riqueza em bônus para idosos, crianças e mães solteiras, grupos historicamente desamparados no país.

“A Bolívia tem bons indicadores sociais, aumentou a expectativa de vida da população (agora em 70,7 anos), enfim, todos os indicadores são algo impressionante (…), para que as pessoas possam se sentir seguras de que estamos avançando pelo bom caminho”, defendeu o ministro da Economia, Luis Arce.

Apesar da queda do valor da commodity, a economia cresceu 4,2% no ano passado, um dos índices mais altos da região.

Além disso, para 2025, o país projeta um avanço no comércio do lítio, que começou a entrar na pauta de exportações recentemente com a produção primária de baterias de íon lítio.

– Declínio –

Para a oposição, porém, nestes 13 anos com preços espetaculares de matérias-primas, a Bolívia teve “uma imensa oportunidade perdida”, afirma o candidato à Presidência da direita, Óscar Ortiz, que aparece em terceiro nas pesquisas.

As acusações de corrupção feita pela oposição contra o governo puseram o presidente no olho do furacão.

As suspeitas de que usou sua influência em favor de sua ex-companheira Gabriela Zapata, cuja companhia chinesa havia assinado contratos com o Estado boliviano, fizeram Morales perder um referendo em 2016 sobre sua reeleição.

Apesar da derrota, Morales conseguiu que o Tribunal Constitucional o habilitasse para uma quarta candidatura.

Segundo Waldo Albarracín, líder da plataforma opositora Conade (Conselho de Defesa da Democracia), “a Bolívia vive na ditadura porque tudo está controlado pelo governo: o Órgão Judiciário, o Tribunal Constitucional, a Assembleia Legislativa e até a Defensoria”.

Albarracín aposta em que Morales será punido nas urnas “pelos fatos escandalosos de corrupção”, que incluiriam um desfalque milionário em um fundo de projetos indígenas e um caso de fraude na estatal petroleira.

Seguidor do “socialismo do século XXI”, do falecido presidente venezuelano Hugo Chávez, Morales também é criticado por normas que, segundo os ambientalistas, deflagraram um incêndio florestal gigantesco, com a perda de flora e fauna em mais de 5 milhões de hectares na Amazônia boliviana.

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