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Opositor Camacho busca aliados para forçar renúncia de Evo Morales

Multidão participa do comício do líder opositor regional boliviano Luis Fernando Camacho, em 7 de novembro de 2019, em La Paz afp_tickers

Hoje o rosto mais visível e radical da oposição boliviana, o líder regional Luis Fernando Camacho buscava, nesta sexta-feira (8), angariar o apoio de organizações para pressionar o presidente Evo Morales a renunciar, após sua polêmica reeleição.

Várias organizações e coletivos sociais se uniram a Camacho, formando uma frente ampla contra Morales, algo que os partidos opositores não conseguiram fazer para as eleições de 20 de outubro passado. A oposição chegou às urnas com oito candidatos à Presidência.

Na terceira semana de protestos contra a polêmica reeleição de Morales no primeiro turno, o foco do conflito se instalou em La Paz, com saldo de três mortos e cerca de 200 feridos até o momento. Nesse período, os transportes públicos sofreram bloqueios nas ruas, prédios públicos foram cercados pela oposição, e as lojas funcionaram de forma intermitente.

Camacho, líder do poderoso Comitê Cívico Pró-Santa Cruz (direita), disse que, na próxima segunda-feira, levará pessoalmente uma carta de renúncia a Morales. Pretende ir acompanhado de outras lideranças políticas e sociais.

“Vamos entregar essa carta todos juntos”, declarou Camacho ontem.

O ministro da Defesa, Javier Zavaleta, descartou que Morales vá recebê-lo.

Nesta sexta, ele denunciou estar sendo alvo de ameaças, motivo pelo qual permaneceria em seu hotel de La Paz, após viajar de seu reduto de Santa Cruz com este propósito.

“Decidimos ficar aqui”, “não vou sair daqui”, mas “peço as garantias para a equipe de segurança”, afirmou, em um vídeo divulgado nas redes sociais.

O presidente indígena, de 60, no poder desde 2006, ignora as reivindicações da oposição, que o acusa de “fraude” eleitoral.

Ainda segundo seus adversários políticos, aceitar a realização de uma auditoria por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi apenas uma maneira de tentar ganhar tempo para se perpetuar no poder.

A oposição exige sua saída, a anulação das eleições e uma nova disputa sem Morales como candidato. O presidente rebate, alegando que o pleito foi limpo, e exige que os resultados sejam respeitados.

– Bloqueios de rua em La Paz –

Iniciados em Santa Cruz, os protestos foram se espalhando gradualmente pelo país e, pela primeira vez, uma multidão tomou as ruas nesta sexta-feira em La Paz, sede dos Poderes Executivo e Legislativo.

As atividades no centro da cidade de 800.000 habitantes estavam virtualmente paralisadas, assim como na nobre Zona Sul.

Várias avenidas do sul estavam bloqueadas. Ônibus, micro-ônibus e táxis se moviam por trechos curtos, e apenas o teleférico (público) circulava normalmente em suas dez linhas.

Em torno da Casa Grande do Povo, a torre onde fica a sede do Executivo de Morales no centro de La Paz, um grande dispositivo de segurança impede a passagem de manifestantes. O prédio foi cercado pela multidão nas últimas três noites.

O prédio de 29 andares contíguo ao Palácio Quemado, a histórica casa de governo, também está sendo protegido por mineiros e por camponeses aliados ao presidente.

Foi convocada para esta sexta à tarde uma passeata do sindicato dos Professores de La Paz, dominado pela oposição trotskista.

Ontem, Camacho participou de um comício em La Paz com “cocaleros” dos Yungas (vales subandinos), contrários a Morales.

“Este governo não nos ouviu (…). Este maldito governo com o presidente Evo Morales continua no poder. Por isso, nós não vamos ficar tranquilos”, disse à AFP a “cocalera” Katy Condori.

Camacho também obteve o apoio de pecuaristas agricultores de sua região e do Conade, um comitê pró-democracia liderado – entre outros – pelo reitor da Universidad Mayor de San Andrés, Waldo Albarracín. Trata-se da principal instituição de Ensino Superior do país, mobilizada em massa contra Morales.

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