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Ortega disputará quarto mandato presidencial na Nicarágua com adversários presos

Simpatizante do presidente nicaraguense, Daniel Ortega, agita bandeira de seu partido, Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em Manágua, 19 de julho de 2021 afp_tickers

O presidente Daniel Ortega e sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo foram inscritos nesta segunda-feira (2) candidatos da situação para um quarto mandato sucessivo nas eleições de 7 de novembro na Nicarágua, enquanto seus principais adversários estão na prisão.

O casal foi registrado como o candidato da aliança “Nicarágua triunfa”, da governista Frente Sandinista (FSLN, esquerda), depois que um congresso do partido o ratificou como sua chapa presidencial.

“Com Daniel e Rosario continuaremos transformando” a Nicarágua, disse o representante legal da FSLN, Edwin Castro, após apresentar a documentação ao Conselho Supremo Eleitoral (CSE).

Ortega, um ex-guerrilheiro de 75 anos, que governa a Nicarágua desde 2007 após duas reeleições sucessivas que a oposição considerou “fraudulentas”, tentará permanecer no poder até 2027, ao lado de Murillo, de 70 anos, que o acompanha na vice-presidência desde 2017.

O CSE encerrou nesta segunda o prazo para registrar os candidatos de partidos e alianças eleitorais em um clima de tensão entre o governo de Ortega e a oposição, e novas sanções internacionais adotadas contra Manágua.

A União Europeia (UE) sancionou nesta segunda-feira com restrições migratórias e financeiras Murillo, seu filho Juan Carlos e outros seis funcionários do governo por sua responsabilidade nas “graves violações dos direitos humanos” na Nicarágua.

A medida se soma a outras adotadas pelos Estados Unidos e pelo Canadá contra funcionários do governo Ortega, em protesto contra a repressão que mantém contra seus opositores desde a explosão das manifestações antigovernamentais de 2018.

Quem “sai para buscar o ianque, o europeu para que venha sancionar (…) deixa de ser nicaraguense”, advertiu Ortega após sua postulação, dirigindo-se aos opositores que fazem campanha contra seu governo no exterior.

A subsecretária de Segurança Civil, Democracia e Direitos Humanos do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Uzra Zeya, considerou através de um tuíte como “inaceitável” que antes das eleições o governo nicaraguense esteja “reforçando seu controle sobre qualquer dissidência pacífica”.

– Sem oposição forte –

Ortega planeja disputar as eleições de novembro sem uma oposição forte, depois que a polícia deteve, entre junho e julho, sete candidatos à Presidência.

Entre eles, Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997), considerada favorita para vencer a FSLN.

Os opositores são acusados na maioria de “traição” à pátria, segundo uma polêmica lei aprovada em dezembro passado a pedido do governo, que pune com a prisão (de 10 a 15 anos) quem promover ingerência estrangeira e apoiar sanções internacionais.

A maioria dos candidatos detidos tinha concordado em se submeter à seleção de um candidato único da oposição sob a bandeira da Aliança Cidadãos pela Liberdade (CxL, direita), mas as acusações contra eles os inibiram de participar.

Ortega acusou os opositores presos de “terroristas” e “mercenários” a serviço dos Estados Unidos.

Com seus adversários na prisão, o partido sandinista se dispõe a enfrentar uma direita dividida principalmente em dois blocos: a aliança CxL, enfraquecida pela detenção de quase todos os seus pré-candidatos, e o Partido Liberal Constitucionalista (PLC), segunda força parlamentar, acusada de colaborar com o governo.

Ortega tem sido o único candidato da FSLN desde as eleições celebradas em 1984 para legitimar a revolução que pôs fim à ditadura da família Somoza em 1979.

Foi derrotado nas eleições de 1990, de 1996 e 2001 por partidos de direita.

Após voltar ao poder em 2007, conseguiu manter nos primeiros anos um clima favorável ao crescimento econômico de 4% a 5% anuais, segundo dados oficiais.

Mas a repressão aos protestos de 2018 e a pandemia frearam o processo de expansão econômica e geraram uma crise política que mantém na prisão mais de 130 dissidentes, segundo a oposição.

“Sempre há aqueles que tentam frear este desenvolvimento”, reclamou o presidente dirigindo-se a seus adversários políticos, aos quais qualificou, citando dom Quixote de La Mancha, de “cães que uivam” porque sabem “que estamos caminhando”.

– Polêmica chapa da oposição –

Com seus pré-candidatos presos, a CxL optou por eleger como sua chapa presidencial uma dupla polêmica formada pelo ex-guerrilheiro dos denominados “Contra” Oscar Sobalvarro, de 68 anos, e a ex-miss Berenice Quezada, de 27 anos.

Os dois foram os primeiros a se inscrever no CSE nesta segunda-feira.

“Esperamos que o assédio e a repressão cessem” contra os opositores para que a campanha eleitoral transcorra de forma tranquila, pediu Sobalvarro ao deixar a sede do CSE.

Conhecido como “comandante Rubén”, Sobalvarro foi um dos líderes da desaparecida contrarrevolução que os Estados Unidos financiaram contra a Revolução Sandinista nos anos 80. É também vice-presidente da CxL.

Quezada, uma ex-modelo sem carreira política, que venceu o concurso Miss Nicarágua em 2017, defendeu a libertação dos “presos políticos” do governo.

À tarde também se inscreveu no CSE a chapa do PLC, formada pelo empresário Milton Arcia e a advogada María Moncada, além de candidatos de outros quatro partidos minoritários.

A Nicarágua, com 6,5 milhões de habitantes, elegerá em novembro presidente, vice-presidente, 92 deputados federais e 20 deputados do Parlamento Centro-americano.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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