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Partidários de Guaidó desocupam embaixada da Venezuela em Brasília

Polícia militarizada patrulha os arredores da embaixada venezuelana em Brasília afp_tickers

Partidários do líder opositor venezuelano Juan Guaidó abandonaram nesta quarta-feira (13), no final da tarde, a embaixada da Venezuela em Brasília, que mantiveram parcialmente ocupada durante cerca de 13 horas, gerando uma situação tensa em plena cúpula dos BRICS, divididos sobre a crise no país caribenho.

Em um tuíte postado no começo da tarde, o presidente Jair Bolsonaro repudiou a “interferência de atores externos” .

“Estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”, escreveu.

A assessoria da embaixadora nomeada pelo opositor venezuelano Juan Guaidó no Brasil, Maria Teresa Belandria, informou à AFP que a desocupação foi “foi produto de negociações”.

Guaidó é reconhecido por cerca de 50 países, entre eles o Brasil, como presidente encarregado da Venezuela.

Segundo Belandria, a ocupação da embaixada começou por volta das 04h00, a convite de dois funcionários da sede diplomática.

O encarregado de negócios da Venezuela no Brasil, Freddy Meregote, comemorou o fim do incidente. “Hoje, eficazmente, conseguimos reverter o ataque de parte dos inimigos do processo revolucionário”, manifestou.

Consultado sobre a ação do governo brasileiro, Meregote respondeu. “Acho que a dificuldade começa com o reconhecimento de um governo fictício (de Guaidó), que não existe”.

Apesar de reconhecer Guaidó, o Brasil não expulsou a representação diplomática de Maduro.

“Reconhecer um presidente que não está no controle é inédito, o mesmo para todos os países que reconheceram, eles fizeram essa aposta acreditando que isso ia ser uma questão de dias até Maduro cair. Como não foi o caso, eles estão presos numa situação muito desagradável no mundo diplomático”, afirmou Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Stuenkel lembrou que expulsar a delegação de Maduro poderia resultar na expulsão da representação diplomática do Brasil em Caracas. “Essa situação de reconhecer o Guaidó em algum momento vai se tornar insustentável, ninguém sabe quanto tempo mais isso pode funcionar”, acrescentou.

Belandria divulgou um vídeo no qual explica ter instruído seu pessoal a desalojar as instalações por razões de segurança. Catorze pessoas desocuparam a sede diplomática pelos fundos do prédio, informou a equipe de imprensa de Meregote.

Duzentos simpatizantes brasileiros de Maduro – muitos identificados com bandeiras e camisetas do Partido dos Trabalhadores (PT) e outros grupos de esquerda – comemoraram a retirada nas portas da embaixada, que permaneceu durante todo o dia isolada por um cordão policial.

“Estou muito feliz, eles nunca mais vão tentar invadir a embaixada de Maduro. Vamos ficar de olho. Vamos protegê-la. Eles teriam que ser presos porque violaram a Convenção de Viena, um acordo internacional”, disse um dos manifestantes, Júlio Neves, de 65 anos.

O ex-presidente e líder histórico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pediu em discurso no sábado solidariedade com o povo da Venezuela e outros governos e movimentos sociais da esquerda na região, um dia após deixar a prisão, onde cumpriu pena por 19 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

– Tensões diplomáticas –

O incidente ocorreu no momento em que Brasília sedia a cúpula dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), dividido sobre a questão venezuelana: Rússia e China são os principais aliados de Maduro, enquanto o Brasil faz parte dos cerca de 50 países que reconhecem Guaidó como presidente encarregado da Venezuela.

O Palácio do Planalto esclareceu que o “Presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da Embaixada da Venezuela, por partidários do senhor Juan Guaidó”. Pouco depois, emitiu uma correção do comunicado, eliminando a última linha e evitando afirmar que “partidários de Guaidó” teriam invadido a sede diplomática.

O ministério das Relações Exteriores não se manifestou em nenhum momento.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, apoiou Belandria.

“Nunca entendia essa situação. Se o Brasil reconhece Guaidó como presidente da Venezuela por que a embaixadora Maria Teresa Belandria @matebe, indicada por ele, não estava fisicamente na embaixada? Ao que parece agora está sendo feito o certo, o justo”, tuitou, mas sem conseguir convencer seu pai.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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