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Peru permite entrada de venezuelanos que pedirem refúgio

Migrantes venezuelanos realizam trâmites para entrar no Peru em 24 de agosto de 2018 na cidade fronteiriça de Tumbes afp_tickers

O Peru permitia neste sábado (25) o ingresso de venezuelanos com a prévia solicitação de refúgio, apesar de ter entrado em vigor a exigência de passaporte, para fazer frente à pior crise humanitária da América Latina.

Lima avalia dar vistos humanitários e admitir como refugiados migrantes venezuelanos que tentarem entrar no país sem passaporte, disse o chanceler Néstor Popolizio em entrevista ao jornal El Comercio.

“Sempre haverá uma saída”, afirmou, antes de assegurar que “o Peru vai continuar mantendo sua postura de país e acolhida”.

Oficialmente, à meia-noite de sábado entrou em vigor a exigência de passaporte para venezuelanos que até a sexta-feira entravam no país apenas com documento de identidade.

No entanto, ao longo do dia, os venezuelanos sem passaporte entraram pela passagem fronteiriça próxima a Tumbes após preencher uma solicitação de refúgio. Isto lhes permite permanecer legalmente no país enquanto se busca uma solução definitiva para a sua situação.

“Por sorte tudo saiu bem, pude entrar pedindo refúgio”, disse à AFP, aliviada, Alejandra Osta, de 19 anos, após formalizar o pedido de refúgio.

Seguindo os passos do Equador, o Peru começou a exigir passaporte para impedir a entrada dos venezuelanos com documentos de identidade falsos.

No entanto, a obtenção do passaporte é difícil por causa da corrupção, da burocracia e da falta de papel na Venezuela.

No Equador, o governo reagiu à decisão da Justiça de suspender na sexta-feira a exigência de passaporte e só vai deixar entrar no país os venezuelanos com um “certificado de validade da cédula de identidade emitido por um organismo regional ou internacional reconhecido pelo Equador” ou com o documento “devidamente apostilado” (com autenticidade reconhecida).

As dificuldades para entrar no Peru levaram alguns venezuelanos a ficar no Equador, entre eles Lourdes Ruiz, de 36 anos, que levava um mês viajando com a intenção de chegar a Lima.

“Vamos ficar aqui porque já temos conhecimento de que o Peru está colapsado, além disso não temos quem nos receba”, disse Ruiz à AFP no lado equatoriano da fronteira.

Diante da crise humanitária sem precedentes, tanto do lado equatoriano, quanto no peruano pela fronteira próxima a Tumbes, as autoridades adotaram medidas de emergência para responder à avalanche de emigrantes.

Nos dois postos, funcionários e organizações humanitárias distribuíam comida aos viajantes, muitos deles com crianças pequenas, e instalaram barracas de camping com colchonetes para descansar da longa e difícil viagem.

Alguns percorreram os 2.250 km que separam a Venezuela da fronteira peruana, a pé, carregando crianças pequenas e arrastando malas, em carros particulares e ônibus.

Por essa passagem fronteiriça chegaram a circular nos últimos dias até 6.600 pessoas, quando a média diária é de 200.

– Xenofobia –

Ao longo do caminho, muitos venezuelanos sobreviveram graças à generosidade dos moradores que lhes dão comida, alojamento e transporte, mas as autoridades temem surtos de xenofobia com os distúrbios recentemente registrados no Brasil entre migrantes e a população local.

O chanceler peruano exortou seus compatriotas a evitarem “atos de discriminação e xenofobia”, após o registro de casos isolados também em Lima.

Na sexta-feira, o ministro da Economia e Finanças do Peru, Carlos Oliva, admitiu que a diáspora venezuelana vai impactar o emprego, o principal argumento do discurso xenófobo local.

“Tomara que se possa absorver toda essa demanda sem afetar os trabalhadores peruanos”, disse o ministro, antes de advertir que “se a economia não cresce no ritmo que deveria”, poderia ser criada uma competição interna pelo excesso de força de trabalho.

– “Campanha da direita” –

O número dois do governo chavista, Diosdado Cabello, atribuiu neste sábado o êxodo de seus compatriotas a uma “campanha da direita” contra as medidas econômicas adotadas esta semana pelo presidente Nicolás Maduro, que incluem uma reconversão monetária que cortou cinco zeros do bolívar, pulverizado por uma hiperinflação que o FMI projeta em 1.000.000% este ano.

Antes de Cabello, seu colega da Comunicação, Jorge Rodríguez, tinha assegurado na véspera que os milhões de venezuelanos que partiram “vão voltar” ao país, confiando no êxito das medidas econômicas do governo.

Mais de 2,3 milhões de venezuelanos moram no exterior (7,5% da população). Deles, mais de 1,6 milhão deixaram o país a partir de 2015 diante do recrudescimento da crise econômica e política da outrora próspera nação petroleira.

Noventa por cento se dirigiram a países da América Latina, segundo cifras da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e a Organização para as Migrações (OIM).

A falta de remédios e itens básicos, combinada com o elevado custo de vida, provocaram a migração maciça.

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