Perspectivas suíças em 10 idiomas

Presidente do México diz que serviço de inteligência é focado em criminosos

Uma mulher mostra seu telefone em frente à sede da empresa israelense que desenvolve um programa de espionagem, em 28 de agosto de 2016 em Herzliya, Israel afp_tickers

O trabalho de inteligência das autoridades mexicanas é focada no crime organizado e não nos adversários do governo, afirmou o presidente Andrés Manuel López Obrador nesta terça-feira, após o escândalo de espionagem em seu país com o software Pegasus.

“O que há de inteligência tem a ver com o combate ao crime, é para proteger os cidadãos, não para espionar opositores, ou líderes políticos, líderes de partidos, donos de grandes empresas, igrejas”, disse o presidente esquerdista.

Um jornal mexicano que investiga o caso Pegasus, software malicioso desenvolvido pela empresa israelense NSO, revelou na segunda-feira que os telefones de parentes e colaboradores de López Obrador teriam sido grampeados entre 2016 e 2017 usando o programa em questão.

Entre eles estão Beatriz Gutiérrez, esposa de López Obrador – no poder desde dezembro de 2018 -, seus filhos, irmãos e até o cardiologista do governante esquerdista, além de 25 jornalistas.

Essas interceptações ocorreram quando López Obrador liderou a oposição ao presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018), do outrora hegemônico partido PRI, segundo o site Aristegui Noticias.

No entanto, o atual presidente descartou nesta terça-feira partir para uma eventual ação judicial, exibindo documento que mostra ser espionado desde a década de 1970.

Especificamente, afirmou ter estado sob vigilância durante o governo de Carlos Salinas de Gortari (1988 -1994).

Gutiérrez, por sua vez, pediu ao Ministério Público que apure as denúncias, que segundo ela apenas confirmam “velhas suspeitas” de espionagem telefônica, vigilância, revisão de contas bancárias e fichas em veículos, entre outros.

Embora o grupo de mídia que investiga o complô assegure que a licença do Pegasus no México expirou em 2017, López Obrador prometeu verificar se nenhuma entidade continua operando com esse software.

“Não sei se existe esse contrato, vou revisar (…). O que eu tenho certeza é que ninguém é espionado. Seria preciso ver quem tem. Se existe contrato, tem que ser cancelado, mas não acho que exista”, anunciou o presidente.

A lista dos mais de 15.000 números de telefone cadastrados na plataforma do México foi obtida na investigação Projeto Pegasus, que começou a ser divulgada no último domingo e na qual participam mais de 80 jornalistas de 17 meios de comunicação de todo o mundo.

Na lista de telefones (cerca de 50.000 em diferentes países) aparece o de Cecilio Pineda, um repórter mexicano assassinado em março de 2017.

Parentes de 43 estudantes desapareceram em 2014 em Ayotzinapa (Guerrero) e defensores dos direitos humanos também estavam na mira, de acordo com pesquisas de meios de comunicação como The Washington Post, The Guardian e Le Monde.

De acordo com o Projeto Pegasus, no México o sistema era utilizado pela Cisen – um órgão de inteligência civil vinculado ao governo e desmontado por López Obrador -, a secretaria de Defesa e a ex-Procuradoria-Geral da República (atual Ministério Público).

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR