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Protesto liderado por Guaidó em Caracas foi dispersado com gases pela polícia

O líder opositor venezuelano Juan Guaidó saúda simpatizantes durante marcha em Caracas, 10 de março de 2020 afp_tickers

A Polícia dispersou nesta terça-feira (10) com gases lacrimogêneos uma manifestação encabeçada pelo líder opositor Juan Guaidó para pedir eleições que tirem do poder o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Milhares de pessoas começaram a marchar, com Guaidó à frente, em Caracas, em um momento em que o dirigente tenta reativar os protestos contra Maduro, apesar de a participação ter sido longe da maciça mobilização do começo de 2019.

Quando tinham percorrido apenas poucos quarteirões, uma barricada de agentes da Polícia nacional bloqueou sua passagem por uma avenida, enquanto um blindado fechava outro trecho.

“Esta manifestação não representa a Venezuela, esta manifestação representa a ditadura”, gritou Guaidó às forças de segurança.

Quando quis dialogar com os agentes, eles atiraram bombas de gás lacrimogêneo e a multidão começou a se afastar rapidamente. Alguns jovens com o rosto coberto atiraram pedras e paus contra os efetivos.

Segundo antes de os agentes dispararem bombas de gás lacrimogêneo, Guaidó chegou a pedir aplausos para os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro; Colômbia, Iván Duque; e Equador, Lenín Moreno, pelo apoio político que lhe fornecem.

“Vai chegar a hora de chegarmos aonde temos que chegar”, disse minutos depois Guaidó, numa praça próxima aos incidentes, descartando que a marcha tentasse continuar até o Palácio Legislativo, no centro da cidade, ponto de destino que tinha fixado.

Com o rosto ainda manchado por uma substância para se proteger dos gases, Katherine Croquer, de 54 anos, foi embora sem sentir amedrontada.

“Que isto aconteça não me dói, mas eu me sinto mais corajosa, com mais vontade de continuar protestando”, disse à AFP Croquer, cujo filho de 26 anos está prestes a emigrar para a Espanha.

Um relatório da ONU, divulgado nesta terça-feira, informou que desde o fim de 2015, quase cinco milhões de venezuelanos emigraram para fugir de uma crise econômica que parece não ter fim.

– “Eleição presidencial livre” –

Guaidó, líder da Assembleia Nacional, dirigiu-se com outros legisladores e manifestantes até a praça Alfredo Sadel e ali prometeu apoiar todas as mobilizações de sindicatos de trabalhadores e estudantes para “unificar a luta”.

“Não se deve ter medo (…). Este povo não tem medo, este povo não vai recuar (…), este não é um país de escravos”, discursou.

“Unificaremos todas as lutas contra a ditadura”, disse Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por cerca de cinquenta países que consideram fraudulentas as eleições que mantiveram Maduro no poder.

Os deputados opositores aprovaram na praça um documento que exige novas eleições.

“A via constitucional e democrática” para solucionar a crise “constitui uma eleição presidencial livre, justa e verificável”, indica o texto.

No final da tarde, forças especiais da polícia detiveram três deputados em um hotel de Caracas, denunciou a oposição.

Dois legisladores foram libertados horas depois, mas o deputado Renzo Prieto segue detido sem acusação.

– “Contramanifestação” –

Como acontece com todo protesto da oposição, o chavismo realizou simultaneamente uma “contramarcha”.

O dirigente oficialista Diosdado Cabello comentou sobre o ocorrido na manifestação convocado por Guaidó.

“Realizaram atos de violência para tirar uma foto. O que queriam era a foto, porque eles acreditam que com uma ‘selfie’ vão derrubar um governo revolucionário”, ironizou Cabello diante de uma multidão de partidários de Maduro.

No centro de Caracas, reduto da situação, uma multidão majoritariamente vestida de vermelho repudiou Guaidó, chamando-o de “traidor”, por considerá-lo um instigador das sanções que os Estados Unidos impuseram à já debilitada indústria petroleira venezuelana.

“Guaidó não tem chances de nada!”, disse à AFP Zenaida Gamboa, professora aposentada, de 63 anos.

A marcha foi um teste para Guaidó. A resposta popular a seus atos foi caindo ao longo do ano passado ao não se concretizar sua promessa de tirar Maduro do poder.

Em contrapartida, seu apoio no exterior cresceu e o próprio Trump prometeu “esmagar” Maduro.

Trump impôs severas sanções petroleiras à Venezuela que comprometem a quase exclusiva fonte de recursos de um país sufocado pela hiperinflação, a derrubada de seu PIB e com serviços públicos básicos – como o de eletricidade – em estado crítico.

Maduro considera criminosas as sanções de Trump e acusa Guaidó de ser parte de uma “guerra” tramada pelos Estados Unidos, com apoio de Brasil e Colômbia.

Guaidó reconheceu que há uma relação entre suas mobilizações e seus contatos com Trump e que os que o americano manteve bilateralmente nos últimos dias com Bolsonaro e Duque.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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