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Réus da boate Kiss são condenados por incêndio que deixou 242 mortos

Familiares das vítimas do incêndio de 2013 na boate Kiss reagem ao final do julgamento dos acusados no caso, em Porto Alegre, em 10 de dezembro de 2021 afp_tickers

O Tribunal do Júri do Fórum Central de Porto Alegre condenou nesta sexta-feira (10) a penas de prisão de 18 a 22 anos os quatro acusados pelo incêndio da boate Kiss, quase nove anos após a tragédia que deixou 242 mortos.

Tratam-se de dois empresários e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que tocava na boate em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em 27 de janeiro de 2013, quando começou o incêndio por meio de um artefato pirotécnico acionado por um dos músicos.

Eles foram julgados por homicídio simples pelas 242 mortes, em sua maioria de jovens, e tentativa de homicídio por outras 636 pessoas.

“A culpabilidade dos réus é elevada, mesmo em dolo eventual”, disse o juiz Orlando Faccini Neto. Diante de sobreviventes e familiares, o magistrado leu a sentença para encerrar um julgamento histórico de dez dias com longas horas de drama e emoção.

Junto com um júri de sete membros, ele ouviu os depoimentos de 14 sobreviventes, 19 testemunhas e os quatro réus.

Elissandro Callegaro Spohr (38 anos), sócio da boate Kiss, recebeu a maior pena entre os réus, 22 anos e meio, enquanto Mauro Londero Hoffmann (56) foi condenado a 19 anos e meio. Já Luciano Bonilha Leão (44), que era produtor musical, e o músico Marcelo de Jesus dos Santos (41) foram condenados a 18 anos de prisão.

Os quatro condenados foram libertados provisoriamente após apresentarem habeas corpus.

Na acusação, o Ministério Público argumentou que os réus agiram com “dolo eventual”, ou seja, assumiram o risco de um resultado, mesmo sem intenção de provocá-lo. Isso aumentou as sentenças, conforme esperado por familiares e sobreviventes.

O incêndio, após ser provocado pelo artefato pirotécnico da banda, se alastrou pelo revestimento da boate, que estava lotada com mais de mil pessoas. Além de sofrer queimaduras, muitos morreram asfixiados pela nuvem tóxica liberada pelo material inflamável do revestimento, e o local sequer tinha extintores funcionando, segundo a investigação.

– Lágrimas e dor –

Desde que o esperado julgamento, que teve transmissão ao vivo, foi iniciado em 1º de dezembro, diversos testemunhos comoventes se sucederam.

“A última vez que eu corri foi para tentar me salvar”, narrou a sobrevivente Kelen Giovana Leite Ferreira, ao mostrar a prótese que usa após ter parte da perna direita amputada.

Devalni Rosso exibiu ao júri suas costas e seus braços cobertos de cicatrizes provocadas pelo fogo, que queimou 50% de seu corpo.

Kátia Giane Pacheco Siqueira, ex-funcionária da Kiss, declarou que a política da boate era “quando mais gente dentro, melhor”. A capacidade do local foi superada na noite da tragédia.

Um dos réus, Bonilha Leão, se desesperou ao chegar ao tribunal no primeiro dia do julgamento e gritou aos prantos: “Não sou um assassino”. Ao depor, afirmou ter a consciência “tranquila” e pediu: “Se for pra tirar a dor dos pais, eu estoiu pronto, me condenem”.

Parentes e sobreviventes, em sua maioria moradores de Santa Maria, a cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre, acompanharam o processo de dentro da sala e do lado de fora do tribunal, cujas grades cobriram com imagens dos jovens mortos e cartazes clamando por justiça.

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