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Saída dos Estados Unidos abala as frágeis finanças da OMS

O diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em Genebra em 22 de maio de 2020 afp_tickers

Ao romper com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em plena pandemia, o presidente americano Donald Trump priva a agência de parte essencial de seu magro orçamento e coloca em perigo os programas de saúde nos países mais pobres.

Trump, que já havia reduzido a contribuição financeira dos Estados Unidos à OMS, que ele acusa de indulgência a respeito da China, cumpriu na sexta-feira a ameaça de cortar seus laços com a agência de saúde da ONU.

Estados Unidos, principal contribuinte do organismo, “destinará estes recursos a outras necessidades de saúde pública urgentes e globais que mereçam”, afirmou Trump.

A OMS é uma instituição multilateral criada em 1948. É uma enorme máquina de 7.000 funcionários presentes em todo o mundo, que dependem dos créditos concedidos pelos Estados Unidos e das doações dos Estados membros.

Com uma verba de 2,8 bilhões de dólares por ano (5,6 bilhões para o período bienal 2018/2019), a OMS tem “o orçamento de um hospital de porte médio em um país desenvolvido”, afirmou recentemente o diretor geral do organismo, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Washington, com 893 milhões de dólares concedidos para o período 2018/2019, ou seja 15% do orçamento da OMS, é o maior doador, à frente da Fundação Bill e Melinda Gates, principal contribuinte privado, da Aliança para a Vacinação Gavi, Reino Unido e Alemanha, com muita vantagem para a China (US$ 86 milhões).

A contribuição americana de destina essencialmente à África e Oriente Médio. Quase um terço das contribuições ajudam a financiar ações de luta contra as emergências de saúde. O restante é destinado aos programas de erradicação da poliomielite, para melhorar o acesso aos serviços de saúde e à prevenção e luta contra as epidemias.

A COVID-19 já provocou mais de 360.000 mortes no mundo e o anúncio dos Estados Unidos deixou a comunidade científica em choque.

“Louca e inquietante”, definiu Richard Horton, editor da prestigiosa revista médica britânica The Lancet.

A OMS pediu a seus contribuintes que compensem a saída americana.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, fizeram um apelo neste sábado para que Washington “reconsidere a decisão” de romper os vínculos com a OMS.

A cooperação e a solidariedade, por meio de esforços multilaterais, são os únicos meios eficazes e viáveis de vencer a batalha que o mundo trava”, afirmam em um comunicado conjunto.

A China, que acusa Washington de “fugir de suas obrigações”, afirmou que assumiria a responsabilidade, direta ou indiretamente, para apoiar a OMS.

No início de maio, Pequim se comprometeu com a quantia de 1,1 bilhão de dólares. E em 18 de maio, o presidente Xi Jinping prometeu 2 bilhões.

Dois dias antes do anúncio da saída dos Estados Unidos, a OMS lançou uma fundação destinada a receber fundos privados e de cidadãos de todo o mundo.

Tedros Adhanom Ghebreyesus negou, no entanto, que deseja substituir os Estados Unidos com a fundação, um projeto que existia desde 2018, explicou.

Agora resta saber quando e como Washington vai cortar concretamente o apoio à OMS.

Lawrence Gostin, professor do O’Neill Institute for National and Global Health Law da Universidade de Georgetown e colaborador da OMS, considerou a decisão do presidente Trump “ilegal”, por dois motivos: Estados Unidos assinaram e ratificaram o tratado de adesão à OMS e os créditos são votados pelo Congresso americano.

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