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Turbulências afetivas de Maradona antecipam problemas com herança

As filhas dos falecidos Diego Maradona, Dalma (E) e Giannina, deixam a Casa Rosada após o velório do pai afp_tickers

As turbulências afetivas do lendário Diego Maradona, incluindo disputas judiciais e brigas midiáticas, anunciam um caminho difícil na divisão da herança do astro que morreu na quarta-feira aos 60 anos.

“Há uma grande briga por vir. Ele não deixou testamento”, disse uma fonte próxima à família à AFP, que pediu anonimato. Após a morte do campeão mundial no México em 1986, não se sabe qual é o patrimônio em jogo ou se ele fez alguma divisão em vida.

Em 2019, em um revés com sua filha Gianinna, que responsabilizava seu ‘entorno’ por não cuidar bem dele, Maradona ameaçou doar todos os seus bens, que incluem investimentos, imóveis, carros de luxo, contratos de publicidade, entre outros.

“Eu sei que agora, à medida que envelhecemos, eles se preocupam mais com o que você vai deixar do que com o que você está fazendo. Eu digo a todas que não vou deixar nada, que vou doar. Tudo o que conquistei em minha vida vou doar”, lançou em mensagem gravada.

Mas a lei argentina estabelece que dois terços do legado devem ser recebidos pelos filhos e pelo cônjuge e que eles não podem ser privados da herança. Só é possível doar um quinto de seus bens em testamento.

Desde a ameaça houve reconciliação, como demonstram as mensagens amorosas postadas nas redes tanto por Gianinna como por sua irmã, Dalma, as filhas que o jogador teve com sua ex-esposa, Claudia Villafañe, e durante anos as únicas que reconheceu, mas para elas também foi difícil lidar com a vida inconstante de Diego.

“Aproveitei (Maradona) em todas as fases da minha vida, ora mais perto do que hoje, mas menos que amanhã. O meu grande exemplo de tudo o que é sim e de tudo o que é não. A quem admiro, ontem, hoje e sempre. Ele me ensinou a perdoar, a me perdoar”, escreveu Gianinna.

Dalma postou no Instagram nesta sexta-feira uma foto sua brincando com Maradona sentado em uma bola de futebol e olhando para ela com ternura.

“Sempre tive muito medo da minha morte, mas agora não tenho… Porque sei que esse será o momento em que vou te ver de novo e te abraçar. Já estou com saudades, pai”, escreveu.

“Juntei as peças e não consigo imaginar como será minha vida sem você”, acrescentou.

– Batuta na mão –

Após a morte do campeão mundial na quarta-feira, as duas ‘meninas’ – agora mães de 31 e 33 anos – atuaram em conjunto com Villafañe, com quem Maradona teve uma disputa judicial ao acusá-la de ter mantido 458 objetos que fazem parte de suas conquistas como jogador de futebol.

Elas deixaram claro quem estava no comando e impuseram os horários do velório e do enterro. Resolveram também limitar o velório na Casa Rosada a 10 horas, tempo insuficiente para a paixão despertada por seu pai. A despedida terminou em caos.

Na madrugada desta quinta-feira, houve um pequeno velório privado para amigos e atletas convidados. Rocío Oliva, 30 anos, que viveu com Maradona por seis anos até 2018, denunciou que sua entrada foi impedida e precisou esperar na fila com o público em geral.

Os rumores atribuem essa recusa ao fato de Oliva não o visitar há muito tempo, embora ele quisesse vê-la.

As desavenças entre ex-companheiras e filhos de Maradona têm sido recorrentes e muitas vezes veiculadas em redes sociais e canais de televisão.

– Família reunida –

Maradona venerava seus pais, ‘Don Diego’ e ‘La Tota’, com quem foi sepultado. Mas a devoção do casal que teve 8 filhos não se refletiu em sua própria vida afetiva.

Claudia Villafañe, a quem conheceu aos 15 anos, foi sua primeira namorada e única esposa. Eles se casaram com uma festa suntuosa no final de 1989, quando Dalma tinha dois anos e Gianinna, sete meses, e se divorciaram em 2003.

Apesar de estarem separados há quase tanto tempo quanto o período que estiveram juntos, Claudia ocupou o lugar da viúva e ninguém parecia questionar.

Meses antes de Dalma chegar ao mundo, Diego Junior nasceu. O ‘camisa 10’ demorou 29 anos para reconhecer o fruto da sua relação com a italiana Cristina Sinagra e a admiti-lo entre os seus. Infectado com covid-19, Diego Junior não pôde viajar da Itália para o funeral.

Jana, nascida em 1996, sua filha com Valeria Sabalain e que Maradona reconheceu 12 anos depois esteve no funeral. Nos últimos tempos, foi a mais presente, junto com Diego Fernando, de 7 anos, filho de Verónica Ojeda, ex-namorada de Maradona, com que conviveu por uma década.

Um dos últimos desejos de Maradona foi reunir seus filhos no aniversário de 60 anos, mas ele não conseguiu. Amigos próximos especulam que a frustração lhe causou uma depressão profunda.

Segundo Matías Morla, o advogado de Maradona detestado por Dalma e Gianinna por ter litigado contra sua mãe, o ‘camisa 10’ tem pelo menos mais três filhos em Cuba, não reconhecidos.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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