Vítimas do temporal em Minas Gerais limpam destroços do desastre
Os moradores de Raposos afetados pelo temporal que matou 52 pessoas no estado de Minas Gerais agradecem com resignação as doações, enquanto buscam entre os escombros o pouco que sobrou de suas casas.
“Na minha casa não tem mais nada. Graças a Deus, com a solidariedade do povo, ganhei três colchões para que a gente pudesse dormir”, conta à AFP o pedreiro Márcio Flávio, de 40 anos, pai de três filhos pequenos.
Quando a chuva arrefece, o som dos tratores revirando escombros é constante na cidade, a 10 km de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Se eles param, um silêncio lúgubre invade o lugar, impregnado por um forte cheiro de lama e de comida estragada.
Não foram registradas mortes em Raposos, mas os danos materiais não são quantificáveis e as ruas estão intransitáveis. Os bombeiros ajudam a população a abrir caminho em meio à massa de objetos destruídos que antes eram suas casas.
“Na verdade, a gente não tem um número real” de imóveis danificados, explica Samuel D’Avila Assunção, engenheiro da Prefeitura.
“Como foi tudo desligado, acesso à internet, telefonia, alguns postes caíram, então a gente está anotando tudo que está sendo feito para ter um número real e passar para o prefeito o que aconteceu na cidade”, acrescenta.
Assunção também faz inspeções de segurança antes de liberar a ocupação de imóveis fragilizados pelos desmoronamentos. “Dez a 12 casas tiveram que ser interditadas para demolição”.
– Dilúvio sem aviso –
Desde sexta-feira passada, quando 171,8 milímetros de chuva caíram em 24 horas – um recorde desde o início dos registros, em 1910 -, a busca por corpos e as tarefas de liberação são ininterruptas na região.
O último boletim oficial contabiliza 52 mortos, 65 feridos, um desaparecido, mais de 28.00 pessoas evacuadas de suas casas e mais de 4.300 desabrigados.
Os irmãos do pedreiro Valdivino Alves, moradores do bairro Várzea do Sítio, estão entre os milhares de desalojados.
“Esta casa é da minha irmã, são três irmãos que moram aqui e sete crianças. Eles estão morando na minha casa até a gente reformar a casa para eles voltarem pra cá”, conta Alves à AFP, enquanto lava a lama da parede usando uma mangueira.
O estado declarou 101 municípios em estado de emergência e retomou campanhas de recolhimento doações de água, alimentos não perecíveis, cobertores, colchões e todo tipo de material de primeira necessidade.
O dilúvio se manteve nos últimos dias, a ponto de nesta terça o volume de chuvas em janeiro ter chegado a 814,7 mm, mais que a metade da média anual de Belo Horizonte (1.602,6 mm).
Todos os depoimentos mencionam a violência do incidente, que provocou deslizamentos de terras e enterrou ou arrancou casas do chão. Muitos se dizem acostumados às inundações, mas afirmam que a deste ano foi a pior.
“O pessoal está sofrendo muito, muito angustiado, porque foi uma coisa muito de repente. A gente estava acostumada com a enchente, mas não essa tão devastadora que teve”, conta Maria Aparecida, moradora de Raposos, que foi ajudar sua mãe no bairro Várzea do Sítio.
“Quando cheguei à casa da minha mãe, às duas da manhã, a água já estava no portão, entrando na sala. De repente a água subiu até a cintura. Não deu, neste bairro, para ninguém salvar nada”, afirma.
A intensidade das precipitações se deve à coincidência pouco frequente da chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) com um sistema de baixa pressão sobre o oceano. A ZCAS é um corredor de umidade que vai da floresta amazônia até o sudeste do Brasil.
Nos próximos dias, os serviços oficiais de meteorologia preveem “chuvas típicas” da temporada, com tempestades em pontos isolados.
O temporal também deixou milhares de desalojados nos estados vizinhos de Espírito Santo, onde nove pessoas morreram, e no Rio de Janeiro.