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Variante brasileira da covid, “provavelmente” mais contagiosa (pesquisador)

Paciente é transportado em maca na entrada do Hospital Público Vinte Oito de Agosto, unidade que atende pessoas infectadas pelo novo coronavírus, em Manaus, Amazonas, Brasil, em 4 de janeiro de 2021 afp_tickers

A variante da covid-19 detectada no Japão com origem na Amazônia brasileira é “muito provavelmente” mais contagiosa, como a britânica ou a sul-africana, disse à AFP o pesquisador Felipe Naveca, que lidera os estudos sobre mutações de vírus no estado do Amazonas.

Naveca, integrante do Instituto Leônidas e Maria Deane que atua junto à prestigiosa Fundação Fiocruz, também indica que a nova variante pode já estar presente em outras partes do Brasil e não descarta que seja a cepa predominante no Amazonas, onde a pandemia está causando estragos.

A OMS, por sua vez, a descreveu como uma “variante preocupante”, que poderia impactar a resposta imunológica.

Uma preocupação adicional para o Brasil, onde a pandemia, em nova fase ascendente, já deixou mais de 205 mil mortos, saldo superado apenas pelos Estados Unidos. Com incidência brutal em Manaus, capital do Amazonas, perto do colapso devido ao aumento de infecções e mortes.

P: O que se sabe sobre a nova variante da covid relatada no Japão?

R: Comparamos as amostras e vimos que as amostras amazonenses eram ancestrais da variante encontrada no Japão, mas com uma grande distância genética o que chamou muito a atenção. Apesar de ser descendente das linhagens que circulam no Amazonas ela acumulou muitas mutações nesse período de novembro até inícios de janeiro.

Agora estamos finalizando o sequenciamento [das amostras] de dezembro, para saber se aquelas mutações descritas no Japão já circulavam na Amazônia, provavelmente sim. Precisamos entender se essa variante é a que predomina agora no Amazonas.

P:É possível que seja mais contagiosa, como a britânica ou a sul-africana?

R: Não posso garantir que seja o caso, mas existe essa possibilidade devido às mutações que apresentou na posição E484K e N501Y [da proteína Spike], que já estavam associadas a este maior potencial de transmissão, por isso é muito provável que sim [é mais contagiosa].

P: Foi calculado o percentual de presença da nova variante no Amazonas?

R: Esse percentual só saberemos quando concluirmos o sequenciamento de dezembro, [mas sua ancestral] é responsável por mais de 50% dos casos de covid na Amazônia. Com os números de dezembro vamos atualizá-lo e provavelmente vai aumentar.

P: O aumento de casos em Manaus é devido a essa nova variante?

R: A situação em Manaus não se deve apenas a uma variante, temos um aumento de casos já previstos por conta das festividades de final de ano e porque estamos no período de transmissão de vírus [respiratórios] no estado do Amazonas (…). Tudo isso somado levou a esta situação. Precisamos do apoio urgente da população para reduzir a transmissão e interromper a evolução do vírus.

P: Se for confirmado que a nova variante circula no Amazonas, por que a mutação teria ocorrido lá?

R: Uma das hipóteses de que esteja ocorrendo aqui no Amazonas se deve a um número muito grande de casos, mas (…) pode estar ocorrendo em outras regiões do Brasil. Houve uma coincidência quando os investigadores japoneses detectaram o caso, provavelmente iríamos identificá-lo nessas semanas, mas o alerta deles foi muito importante.

P: A nova variante afetará a eficácia das vacinas contra o covid?

R:Essa é a pergunta que todos estão fazendo. Participei de uma reunião da OMS em que esse foi um dos pontos em discussão. Até o momento não há evidências de que essa linhagem prejudique a resposta à vacina.

P: Existe o risco de a nova variante se espalhar pelo Brasil?

R: Não temos como especificar que não saiu da Amazônia, se chegou ao Japão pode estar circulando em outro lugar do Brasil.

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