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Violência em protestos deixa 38 mortos e causa indignação na Venezuela

Policiais avançam durante protesto contra Maduro, em Caracas, 8 de maio de 2017 afp_tickers

Um jovem morreu nesta quarta-feira, durante uma grande manifestação contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em Caracas, elevando a indignação pela escalada de violência, que já deixou 38 mortos em 40 dias de protestos.

Miguel Castillo, de 27 anos, morreu em decorrência de um ferimento de arma de fogo, após participar da mobilização de milhares de opositores, que gerou intensos confrontos com policiais e militares.

O ministro do Interior, Néstor Reverol, afirmou que investiga o fato.

Vários manifestantes foram impactados pelas bombas de gás lacrimogêneo atiradas pelos militares e pelos policiais de caminhões blindados contra a marcha na principal rodovia de Caracas.

“Assassinos! e “Estão nos matando!” – gritaram, entre lágrimas, várias pessoas no centro médico aonde foi levado o jovem, quando foi constatada sua morte.

Ao tomar conhecimento do falecimento, o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, condenou “a brutal repressão do regime”.

As manifestações, que exigem a saída de Maduro através de eleições gerais, começaram em 1º de abril, depois que o Tribunal Supremo Justiça assumiu temporariamente as funções do Legislativo, o único poder controlado pela oposição.

A marcha desta quarta-feira tentava justamente chegar até a sede do Supremo, no centro de Caracas, mas a tropa de choque bloqueou o caminho e dispersou os manifestantes à base de bombas de gás.

Mais firme do que nunca

Com escudos de madeira e metal e encapuzados, dezenas de jovens colocaram-se à frente da mobilização, atirando pedras, coquetéis molotov e bombas de tinta contra os militares. Alguns atiraram excrementos.

A multidão recuou depois de três horas, diante da intensificação das bombas e dos jatos d’água.

“As pessoas resistiram, estamos aprendendo, foi difícil nos fazer recuar”, comentou à AFP Rodrigo Moscoso, de 43 anos.

Os opositores também repudiam a convocação de Maduro para uma Assembleia Constituinte popular, por considerar que com isso busca uma “Constituição à sua medida para se perpetuar no poder”.

“A moral deste povo está mais firme do que nunca. Não vamos aceitar uma Constituição feita por Maduro e seus amigos”, afirmou o líder opositor Henrique Capriles, enquanto limpava com um lenço o resto do gás lacrimogêneo.

As passeatas têm como combustível o mal-estar popular gerado pela crise econômica, que atinge o país petroleiro, com uma severa escassez de alimentos e medicamentos e uma inflação que é a mais alta do mundo.

A situação gera preocupação internacional. Nesta quarta-feira, a OEA adiou para a segunda-feira a definição da data em que os chanceleres abordarão a crise, o que a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, considerou uma derrota dos “países intervencionistas”.

Militarização da justiça?

A tensão aumentou esta semana com o julgamento de civis em tribunais militares, o que a oposição denunciou como uma manobra do governo para “criminalizar” e “desativar” os protestos. O governo ainda não se pronuncia sobre estes processos.

Segundo o diretor da ONG Fórum Penal, Alfredo Romero, 73 pessoas foram detidas, acusadas de rebelião por tribunais militares, sobretudo no estado de Carabobo (noroeste).

O Ministério Público pediu nesta quarta-feira que sejam julgados por tribunais civis e não militares 14 detidos em Rosario de Perijá (noroeste), onde um grupo de pessoas destruiu a estátua do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013) e tentou queimar a prefeitura.

“Se já militarizaram tudo, como não vão militarizar a Justiça? (…) Querem controle total”, afirmou o deputado opositor Henry Ramos Allup. Almagro qualificou a medida como uma “prática das ditaduras”.

Constituinte de paz ou de guerra?

Maduro, cujo governo é rejeitado por 70% dos venezuelanos, segundo pesquisas, assegura que as manifestações se degradaram em “atos terroristas” e focos de “insurgência armada”.

O presidente disse ter sido obrigado, então, a convocar uma Constituinte para reforçar a Constituição impulsionada por seu mentor, Chávez, e conseguir a reconciliação do país.

“Maduro deu um ‘baque’ na oposição com esta Constituinte. Não vão trazer o caos para cá”, disse o jovem Andrés Mejía, em uma concentração maciça de chavistas no centro.

No ato, Elías Jaua, delegado presidencial para impulsionar a Constituinte, a defendeu como o “caminho para a paz” diante da “violência da direita fascista”.

A oposição descarta participar da Constituinte, porque metade dos 500 constituintes serão eleitos entre setores controlados pelo chavismo, o que em sua avaliação nega o voto universal. Maduro afirma que será “popular” e não de “elites”.

A Constituinte deixa em suspenso as eleições presidenciais de dezembro de 2018, e as votações para governadores (adiadas em 2016) e prefeitos (2017).

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