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Wally Funk realizará sonho de ir ao espaço, 60 anos depois

Wally Funk durante a cerimônia de inauguração da pista de aterrissagem do porto espacial comercial Spaceport America perto de Las Cruces, Nuevo México, em 22 de outubro de 2010 afp_tickers

Wally Funk é uma pioneira, mas também uma mulher paciente. Sessenta anos depois de ingressar em um programa privado na esperança de se tornar astronauta, esta experiente aviadora americana finalmente realizará seu sonho, no final do mês.

O bilionário Jeff Bezos a escolheu para acompanhá-lo no primeiro voo tripulado de sua empresa espacial, a Blue Origin, programado para 20 de julho.

Aos 82 anos, essa mulher de cabelos grisalhos e energia inesgotável se tornará a pessoa mais velha a viajar para o espaço. Também se tornará um símbolo de que a ousadia e a perseverança valem a pena.

“Gosto de fazer coisas que ninguém nunca fez”, diz ela em um vídeo publicado no Instagram nesta quinta-feira por Bezos.

– Mercury 13 –

Wally cresceu em Taos, uma pequena cidade do oeste americano, no Novo México. Quando criança, era apaixonada por aviação e teve sua primeira aula de voo aos 9 anos.

Na escola, foi proibida de estudar mecânica, disciplina reservada aos meninos. Isso, porém, não a impediu de obter uma licença de piloto e se formar na Universidade Estadual de Oklahoma, conhecida por seu programa de aviação. Hoje, ela acumula 19.600 horas de voo registradas.

No início dos anos 1960, quando os Estados Unidos se preparavam para enviar o primeiro americano ao espaço, a Nasa selecionou homens para testes como parte do lendário programa Mercury. Mas nenhuma mulher.

Um médico que estava envolvido no desenvolvimento desses testes, William Randolph Lovelace, decidiu realizá-los com mulheres em sua clínica particular, para ver se elas também eram capazes de passar. Treze delas foram escolhidas, dando ao programa o apelido de “Mercury 13”.

Wally Funk era a mais jovem entre elas. “Eles estavam nos testando ao extremo”, lembrou, em entrevista concedida à Nasa em 1999.

Injetaram água em seus ouvidos para deixá-la tonta. Ela teve que engolir tubos de borracha. “Senti muita dor”, recordou, mas “estava me aproximando do espaço e era para lá que queria ir”.

– ‘Melhor e mais rapidamente’ do que os homens –

Durante outro teste, ela foi trancada em um tanque à prova de som, cheio de água na temperatura exata de seu corpo, para que ela não sentisse nada, no escuro. “Fiquei de costas, flutuando nessa água, sem poder usar meus cinco sentidos, (…) só tinha que ficar ali”, contou.

Wally quebrou o recorde, ao permanecer por 10 horas e 35 minutos. No final, “me disseram que eu tinha feito o trabalho melhor e mais rapidamente do que qualquer um dos homens”, lembrou, durante uma declaração em vídeo nesta quinta-feira.

No entanto, o programa foi descartado depois de ser rejeitado pela Nasa, e apenas em 1983 a primeira mulher americana, Sally Ride, foi ao espaço.

“Foi interessante o fato de que poderíamos ter ido e eles simplesmente não nos deixaram. Um cachorro foi. Um macaco foi. Um homem foi. As mulheres também poderiam ter ido”, declarou Wally em 1999.

– Sonhos espaciais –

Wally se inscreveu para se tornar astronauta pela Nasa quatro vezes. Foi rejeitada em todas elas. Um dos motivos apresentados foi que ela não era formada em engenharia e não havia concluído o programa de voo em um caça militar, algo impossível para uma mulher naquela época.

Mas nunca faltou ambição a Wally: ela se tornou a primeira mulher inspetora da agência de aviação dos EUA, a FAA, e, mais tarde, a primeira investigadora da agência americana responsável por lidar com desastres aeronáuticos, a NTSB.

Wally gerenciou mais de 450 acidentes até a sua aposentadoria, em 1984, e ensinou cerca de 3 mil pessoas a voar. Atualmente, vive no Texas e nunca desistiu do sonho de deixar a gravidade para trás e voar entre as estrelas.

Em 1999, quando questionada sobre sua maior conquista, respondeu: “Se eu conseguir chegar ao espaço, será isso.”

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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