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Zika é resultado de falhas em políticas de controle de mosquitos, diz OMS

A diretora-geral da OMS, Margaret Chan, em Genebra, no dia 23 de maio de 2016The spiralling crisis surrounding the Zika virus is the result of decades of policy failures on mosquito control and poor access to family planning services, the World Health Organization said Monday. afp_tickers

A crise em torno do zika vírus se deve a décadas de políticas falhas de controle de mosquitos e à falta de acesso a serviços de planejamento familiar, informou nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS).

“A propagação do zika (…) é resultado da desastrosa política que levou ao abandono do controle de mosquitos nos anos 1970”, declarou Margaret Chan, diretora-geral da OMS, no início da assembleia anual de saúde da organização em Genebra.

Essas falhas permitiram que o vírus se espalhasse rápido e criasse “uma ameaça significante para a saúde global”, disse Chan à cerca de 3.000 delegados dos 194 países-membros da OMS.

Especialistas afirmam que o zika vírus está por trás do surto de microcefalia – doença que se caracteriza por um perímetro craniano menor que o normal – na América Latina, em bebês nascidos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez.

O zika, que também causa distúrbios neurológicos como a síndrome de Guillain-Barré, na qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso, é transmitida principalmente pelo Aedes aegypti, mas também por contato sexual.

Nas décadas de 1950 e 1960, foram realizados programas de controle de mosquitos para evitar a propagação da dengue e da febre amarela, e o Aedes aegypti quase foi erradicado na América do Sul e Central.

Quando os programas foram interrompidos na década de 1970, porém, o mosquito voltou.

Chan denunciou, ainda, políticas falhas em relação aos direitos reprodutivos.

Muitos dos países mais atingidos pelo surto atual de zika são católicos e conservadores, e a sua “incapacidade de fornecer acesso universal a serviços de planejamento familiar e contracepção” agravou a crise, disse Chan.

Com o vírus presente atualmente em 60 países, inúmeras mulheres que podem querer adiar a gravidez não têm acesso à contracepção, e menos ainda ao aborto.

Chan afirmou que a América Latina e o Caribe “têm a maior proporção de gravidezes não desejadas do mundo”.

“Sem vacinas nem exames confiáveis ​​e amplamente disponíveis para proteger as mulheres na idade fértil, tudo o que podemos oferecer são conselhos”, disse.

“Evitar picadas de mosquito, adiar a gravidez, não viajar para áreas com transmissão em curso”, completou.

No Brasil, o país mais atingido, mais de 1,5 milhão de pessoas foram infectadas com zika, e cerca de 1.400 casos de microcefalia foram registrados desde o início do surto, no ano passado.

Pesquisadores estimam que uma mulher infectada com zika durante a gravidez tem 1% de chance de dar à luz a um bebê com microcefalia.

O vírus da zika está presente na África e na Ásia desde pelo menos a década de 1940, tendo circulado por muito tempo sem causar preocupação.

Por si só, a zika não é grave, já que provoca sintomas similares aos de uma gripe leve.

Mas quando a linhagem asiática do vírus chegou à América Latina, no ano passado, causou muitos estragos em uma população nunca antes exposta ao vírus.

Na semana passada, a OMS disse que a linhagem asiática está agora, pela primeira vez, se propagando por um país africano – Cabo Verde -, aumentando a preocupação sobre o impacto que pode ter sobre a população do continente.

“O que estamos vendo agora se parece cada vez mais com um ressurgimento dramático da ameaça de doenças infecciosas”, disse, e alertou: “O mundo não está preparado para enfrentar” este cenário.

SWI swissinfo.ch - sucursal da sociedade suíça de radiodifusão SRG SSR

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