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Agricultores brasileiros vendem biodiesel na Suíça

Migrol é a distribuidora do biodiesel produzido no Brasil. Keystone

Uma empresa de comércio equitável se une à maior rede suíça de supermercados para distribuir o "primeiro combustível ecológico que contempla princípios ecológicos e igualitários".

Uma distribuidora do grupo irá comprar o biodiesel à preços que permitem agricultores brasileiros garantir sua sobrevivência. O projeto foi premiado por produzir combustível sem causar danos ao meio-ambiente.

A ONG suíça Aliança Sul apóia o projeto pelo fato deste combater a desflorestação e devastação do solo através da monocultura, fatores que terminam interferindo na produção dos alimentos básicos.

Desde 2002, a empresa de comércio equitável Gebana, sediada em Zurique, trabalha com 350 famílias de Capanema, localidade situada na região sudoeste do Brasil e não muito distantes das famosas Cataratas do Iguaçu. Os suíços dão consultoria aos agricultores e apoio na produção da soja de maneira sustentada e sem causar danos ao meio-ambiente.

Na quarta-feira (28 de agosto) Gebana anunciou que acaba de firmar um acordo com a Migrol, distribuidora pertencente à cadeia de supermercados Migros, para assegurar que os agricultores receberão um preço justo pelo produto do seu trabalho.

O biodiesel especial será vendido 60 centavos mais caro (2,35 francos suíços ou US$ 1,96) na Suíça do que os combustíveis convencionais. Os consumidores pagarão o valor adicional ao encomendar o produto através da página internet da Gebana.

A Migrol garante a compra da mesma quantidade de combustível do que o encomendado através da internet e a mistura deste na gasolina ou diesel tradicional. Isso permite ao consumidor compre o combustível diretamente no posto, pagando os preços normais e tendo a garantia de que uma parte do que entra no tanque do automóvel vem do comércio equitável.

Expansão do biodiesel

Do valor adicional cobrado pela Gebana, 30 centavos são revertidos diretamente para os agricultores, 23 financiam os custos de desenvolvimento e marketing e 7 custeiam o próprio projeto no Brasil.

“O conceito básico é permitir que os agricultores possam garantir a sua sobrevivência através do que produzem”, declara Adrian Wiedmer, diretor da empresa. Ele conta como a idéia do projeto surgiu.

“Esse trabalho começou através da ajuda que dávamos aos agricultores para a produção e venda dos seus produtos orgânicos como frutas secas e grãos de soja. Apenas recentemente vimos uma grande oportunidade de expandir os negócios para os biocombustíveis, já que tínhamos inicialmente que vender óleo de soja a preços muito reduzidos no mercado”.

A questão dos biocombustíveis se tornou recentemente um debate internacional. Muitos críticos afirmam que a produção em massa de matéria-prima para a produção de biodiesel causa mais danos ao meio-ambiente do que a economia feita através do uso de carburantes de matéria fóssil.

Alerta

Rosmarie Bar, porta-voz da ONG Aliança Sul, alerta que o “boom” de biocombustíveis está trazendo graves problemas ecológicos em alguns países. Na sua opinião, porém, o projeto criado pela Gebana evita essa cilada.

“Temos uma avaliação muito positiva do projeto, pois ele mostra que existe um caminho alternativo à produção global de biocombustíveis com conseqüências sociais e ecológicas graves”, afirma Bar.

Migrol tem um histórico de introdução de combustíveis “verdes” na Suíça. Dentre eles se destacam o petróleo “livre” em 1984, o diesel favorável ao meio-ambiente em 1992 e a marca “Greenlife” há três anos atrás. Agora a empresa se comprometeu a comprar um máximo de 1,5 milhões de litros do biodiesel brasileiro por ano.

“Quando a Gebana nos apresentou o projeto, nós o vimos como uma progressão natural dos nossos negócios. O mais importante é que nenhuma floresta está sendo derrubada para produzir a soja”, explica Daniel Furrer, presidente da Migrol.

Gebana espera agora expandir o projeto para fazendeiros do Burkina Faso, um país africano, onde uma comunidade agrícola de cinco mil famílias está conseguindo produzir biodiesel através da flora local.

O projeto também já foi premiado pela Secretaria Federal de Economia (Seco, na sigla em alemão). Um estudo realizado pelo órgão concluiu que o biodiesel brasileiro, incluindo também sua manufatura, produz 70% menos emissões nocivas do que o diesel convencional.

swissinfo, Matthew Allen

Gebana trabalha com agricultores de Capanema, no Brasil, desde 2002.
A empresa tem 20 funcionários dando consultoria e apoio a 350 famílias de pequenos agricultores na produção de grãos de soja orgânico.
A comunidade pode produzir 1,5 milhão de litros de biodiesel por ano, com uma capacidade projetada de 3 milhões de litros até 2010.
Em Burkina Faso, cinco mil famílias podem produzir dez milhões de litros até 2010.
O projeto africano ainda está em fase de análise.

Segundo dados de 2006, veículos na Suíça consomem 65% de petróleo, 34% diesel e 1% outros combustíveis.

Nos Estados Unidos, o governo declarou recentemente que tem como meta aumentar a parte de biocombustível para 10% do total consumido pelos veículos. O bioetanol já corresponde a 3% do consumo total na Espanha.

Biocombustíveis contribuíam com 0,3% do total do consumo de energia nos países da União Européia em 2003. No ano passado essa percentagem aumentou para 2%. A EU que elevar para 5,75% do total até o final de 2010.

A França tem o objetivo mais ambicioso de aumentar o consumo de biocombustíveis para 7% até 2010 e 10% em 2015.

A produção em massa de matéria-prima para biocombustíveis, incluindo também grãos de soja, é vista pelos seus críticos como responsável pela aceleração do desmatamento das matas virgens. Também a energia gasta na produção dos combustíveis “ecológicos” é considerada um problema.

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