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Tabaco suíço é cultura em eterno sursis

Há muito tempo ameaçado mas sempre presente: o tabaco. swissinfo.ch

É pouco conhecido, mas a Suíça é um país onde se cultiva tabaco. Contudo, o número de produtores diminui constantemente, a ponto de colocar em questão a existência dessa cultura secular.

Os primeiros campos de tabaco surgiram na região de Basileia por volta de 1680. Atualmente, ele ainda é cultivado na Ajoie (noroeste), na região de Lucerna e Argóvia (centro), mas sobretudo na planície da Broye (oeste), onde se concentra 80% da produção.

Atividade intensa

Na Broye, região entre os cantões de Vaud e Friburgo, o tabaco cobre numerosos campos. Também são numerosos os grandes galpões para a secagem dessa planta alta, com grandes folhas e coroadas de flores.

É no verão que a atividade é mais intensa. Colhe-se as folhas que são penduradas nos galpões. Grande parte dessa atividade é feita à mão, o que necessita bastante mão de obra.

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Tabaco suíço

Este conteúdo foi publicado em Nos últimos anos, o ambiente econômico piorou e a indústria suíça de tabaco declinou. Apenas cerca de 400 agricultores continuam a cultivá-lo. A maioria está no vale da Broye, entre os estados de Friburgo e Vaud. (Texto e fotos, Thomas Kern/swissinfo.ch)

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Mas o trabalho não termina aí. Na primavera, é preciso cuidar das plantas e no outono fazer a seleção das folhas. “O trabalho do tabaco toma muito tempo. Somente de dezembro a março é que podemos fazer outra coisa”, explica Jean-Jacques Läderach, produtor.

Cada vez menos produtores

A intensa atividade nos campos, no entanto, é um pouco enganadora. Na realidade, o número de produtores se reduz constantemente.

O setor teve seu apogeu ao final da Segunda Guerra Mundial, com mais de 6.000 plantadores para uma área de cultivo total de 1450 hectares. “De fato, a Suíça foi o único país da Europa a não racionar o tabaco e a superfície de cultivo dobrou durante esse período”, lê-se no site da SwissTabacLink externo, a Federação das Associações Suíças de Plantadores de Tabaco.

Desde então, o setor só perde importância. Essa erosão continuou nesse início do século 21 e hoje há apenas 198 plantadores e uma área de 468 hectares. 

No vilarejo de Domdidier, a baixa é acentuada. “Eu sou o último a plantar tabaco e já fomos 110 plantadores” lembra-se Jean-Jacques Läderach. “Há 50 ou 60 anos, as mulheres não tinham ocasião de trabalhar fora. As pessoas que tinham um pedacinho de terra e era o trabalho das mulheres de plantar um pouco de tabaco. Isso dava para ganhar um dinheirinho para o fim do ano”, acrescenta.

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Ideal para as pequenas propriedades

A produção de tabaco permitiu durante muito tempo às pequenas propriedades de subsistir. “Essa cultura permite ter um ganho bem interessante em uma área relativamente pequena. Em relação ao trigo, o tabaco dá um lucro dez vezes maior por hectare, mas requer dez vezes mais de trabalho. Isso permite às explorações que não podem crescer de manter uma certa renda”, explica Francis Egger, secretário de SwissTabac.

Essa análise é corroborada pela experiência de Jean-Jacques Läderach que antigamente trabalhava com o pai dele e atualmente com o filho dele. “Começamos no tabaco em 1974, porque não tínhamos muito espaço e era preciso ter uma segunda renda. Com os cereais, não haveria trabalho suficiente nem renda para duas famílias.”

Mas a erosão constante do número de plantadores – 54.000 em 2014, ou seja, 2,1% menos do que em 2013, conforme a Secretaria Federal de Estatísticas – as terras agrícolas disponíveis aumentam para os plantadores restantes. Só que a cultura do tabaco é menos indispensável.

Para Francis Egger, a evolução da sociedade também explica o declínio. “Está se tornando difícil encontrar uma família de agricultores que trabalha em todo o período da colheita de uma dezena de pessoas que é preciso abrigar e alimentar. Por vezes é difícil para o cônjuge de ter uma renda anexa fora da agricultura.”

Refugiados no campo?

Os produtores devem contratar pessoal adicional durante a colheita em julho e agosto. Geralmente são adolescentes em busca de um trabalho no verão e de trabalhadores estrangeiros, em particular poloneses e romenos.

Mesmo se o salário é modesto para os padrões suíços – geralmente pouco mais de dez francos por hora – não faltam voluntários. “Encontramos braços facilmente”, confirma Jean-Jacques Läderach. “Atualmente empregamos sobretudo poloneses. Para eles, o câmbio é muito interessante e eles ganham em algumas semanas o que ganhariam em vários meses na Polônia”.

A aceitação, em 9 de fevereiro de 2014, da iniciativa “Contra a Imigração em Massa” causa grandes inquietações entre os produtores, mesmo se os contratos de trabalho de duração inferior a três meses não deverão ser modificados pela iniciativa.

Mesmo se os trabalhadores europeus forem em menor número, já se pensa em outras opções. A União Suíça de Agricultores testa desde a última primavera um projeto piloto de três anos para os refugiados trabalharem na agricultura.

Depois de colhidas, as folhas de tabaco de tipo Burley devem ser secas em grandes barracões. swissinfo.ch

O indispensável empurrãozinho da indústria

Nessa situação de declínio, a ajuda da indústria de cigarros é indispensável. As três principais empresas mundiais – Philip Morris, British American Tobacco e JT International – têm fábricas na Suíça e querem manter uma produção local, mesmo se ela representa menos de 4% do consumo de tabaco na Suíça.

“É claro que como os custos de mão de obra e de estrutura na Suíça, mão conseguir rivalizar com o preço mundial. A diferença entre o preço suíço e o preço mundial é compensada por um fundo”, explica Francis Egger. A cooperativa pela compra do tabaco local (SOTA), que reúne as compras das indústrias, cobra 0,13 centavos por cigarro vendido na Suíça para apoiar a produção local.

Para sobreviver, os produtores devem, portanto, se entender com os fabricantes. Apesar de divergências sobre a distribuição desse dinheiro da indústria, as duas partes assinaram no final do ano passado uma convenção que vai até 2019. Para os próximos cinco anos, portanto, o futuro está garantido. Mas e depois? “Pode-se de fato questionar se ainda haverá produtores de tabaco na Suíça dentro de dez anos”, declara Francis Egger. “Acreditamos no futuro por temos bons profissionais e boas práticas agrícolas”, acrescenta.

“De qualquer maneira, há mais de 20 anos que anunciam o fim da produção de tabaco na Suíça e, por enquanto, essa previsão se revelou falsa”.

Adaptação: Claudinê Gonçalves

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