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Alexander Solzhenitsyn: um exilado na Suíça

Alexander Solzhenitsyn, ao chegar em Zurique em fevereiro de 1974. Keystone

O escritor russo e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1970, Alexander Solzhenitsyn, faleceu na noite passada no seu domicílio moscovita aos 89 anos. Grande figura da dissidência na ex-União Soviética e expulso do seu país em 1974, ele escolheu a Suíça como sua porta de entrada para o ocidente.

“Ele foi o grito que desencadeou a avalanche que fez derrubar o regime comunista, do qual muitos pensavam que havia sido instalado para durar mil anos. Ele teve uma vida esplêndida, pois foi toda decidida por ele próprio. Era um escritor-lutador que, desde a adolescência, já sabia o que faria da vida”, descreve Georges Nivat, professor de literatura russa na Universidade de Genebra e autor de vários livros sobre Solzhenitsyn, durante uma entrevista dada para a Rádio da Suíça Francesa.

Alexander Issaevitch Solzhenitsyn, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1970, faleceu por insuficiência cardíaca no domingo (03/08), às 23h45 no horário de Moscou, declarou seu filho Stepan, citado pela agência de informações Itar-Tass.

O escritor, muito enfraquecido nos últimos anos, só aparecia muito raramente em público. As imagens mais recentes transmitidas pela televisão o mostravam em cadeira de rodas, recebendo convidados em sua casa em Troïtse-Lykovo, ao noroeste de Moscou.

O inferno do Gulag

Solzhenitsyn havia sido preso em 1945 por ter criticado o regime de Stalin, o que lhe custou oito anos atrás das grades. Ele revelou ao mundo a realidade do sistema de campos de concentração soviéticos nas suas obras Um Dia na vida de Ivan Denisovich (publicado em 1962 em acordo com o poder vigente) e O Arquipélago Gulag (publicado entre 1973 e 1978).

Em 13 de fevereiro de 1974, o mundo descobria através da agência Tass que Solzhenitsyn havia sido preso um dia antes e perdido a sua nacionalidade. No dia 14, o escritor foi expulso e partia para Frankfurt, na Alemanha. Em 15 de fevereiro, ele chegava a Zurique, onde permaneceria por dois anos.

“Solzhenitsyn foi recebido na estação de trem com aplausos e gritos de uma grande massa de pessoas. Foi com muito esforço que a polícia conseguiu permitir que o escritor entrasse no seu carro. Jornalistas do mundo inteiro estavam presentes na sua chegada”, publicou uma agência de notícias suíça na época.

Um mês e meio mais tarde, em 29 de março, sua família – a esposa, a sogra e os quatro filhos – chegaram também a Zurique. Durante uma entrevista, o escritor russo declarou simpatia pela democracia direta (ele dominava o alemão desde a escola). Por uma vez, Solzhenitsyn esteve presente a uma “Landsgemeinde” (forma de votação em praça pública, comum em algumas comunas helvéticas), no estado de Appenzell.

Após sua passagem pela Europa, o escritor foi para os Estados Unidos, onde se instalou em 1976 em Cavendish, na região de Vermont, até o seu retorno à Rússia em maio de 1994.

Nacionalista moderado

Depois do seu retorno à terra natal, ele se mostrava crítico em relação aos países ocidentais e sobre a evolução da Rússia pós-soviética. Ele ressaltava, sobretudo, o retorno aos valores morais tradicionais.

A Rússia que ele reencontrou não tinha mais nada a ver com aquela que abandonou no passado. Ele não era mais o porta-voz de uma “intelligentsia” ávida por mudanças. A mídia russa lembrou até que seus livros já não tinham a mesma vendagem como nos anos “duros” da União Soviética. A televisão suprimiu rapidamente um programa que ele moderava.

Porém ele apreciava as posições de Vladimir Poutin, apesar do seu passado de oficial da KGB. O presidente (2000-2008) reconvertido em primeiro-ministro é um partidário do retorno de uma Rússia forte e orgulhosa dela mesmo.

Em 2006, Alexander Solzhenitsyn acusou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) de preparar o “cerco completo à Rússia”, ao “reforçar de forma sistemática e com persistência sua máquina militar no leste da Europa”.

Georges Nivat, tradutor do Solzhenitsyn na Suíça, qualifica o Prêmio Nobel de “nacionalista moderado”, mas intransigente no “essencial”.

swissinfo com agências

O escritor russo Alexander Solzhenitsyn morreu neste domingo, aos 89 anos, segundo a agência de notícias russa Itar-Tass.

Solzhenitsyn, prêmio Nobel de Literatura em 1970, era um crítico feroz do regime de Josef Stalin na antiga União Soviética, e viveu durante 20 anos no exílio.

Ainda jovem, quando servia no Exército durante a Segunda Guerra Mundial, Solzhenitsyn foi denunciado por suas críticas ao regime de Stalin e passou oito anos preso em um Gulag, como eram chamados os campos de trabalho forçado, antes de ser exilado no Casaquistão.

Seu primeiro romance, Um Dia na vida de Ivan Denisovich, de 1962, contava a história de um prisioneiro político e foi aclamado pela crítica.

Aquela que é considerada sua obra-prima, Arquipélago Gulag, teve o primeiro volume publicado em 1973, em Paris.

Solzhenitsyn foi considerado traidor e exilado. Ele deixou a então União Soviética em 1974 e permaneceu 20 anos no exílio, nos Estados Unidos, onde completou os outros dois volumes de Arquipélago Gulag.

Após voltar à Rússia, em 1994, Solzhenitsyn se dedicou a escrever sobre a história e a identidade russa, causando polêmica com suas críticas à corrupção política e aos valores da rússia pós-comunista.

O filho de Solzhenitsyn, Stepan, disse à Itar-Tass que seu pai morreu por volta das 23h45 de domingo (16h45 em Brasília), em sua casa nos arredores de Moscou, onde vivia com a mulher, Natalya.

Segundo a agência russa, Stepan disse que o pai sofreu um enfarto. No entanto, outras fontes afirmam que o escritor, que tinha pressão alta, foi vítima de um derrame cerebral.

O presidente russo, Dmitry Medvedev, enviou condolências à família do escritor, segundo um porta-voz do Kremlin. Texto: BBC em português

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