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Ambição de se tornar um guarda penitenciário

Alexandre, 28 ans, o futuro guarda penitenciários, vê sua profissão com otimismo. swissinfo.ch

A superlotação carcerária que atinge as prisões suíças - confrontadas periodicamente por rebeliões - obriga a formação de cada vez mais guardas penitenciários.

Reportagem na prisão de Champ-Dollon, no coração da Escola de Formação de Guardas Penitenciários de Genebra.





É na extremidade de uma mistura complexa de estradas secundárias, contornos e bifurcações, onde se encontram, finalmente, os prédios de Champ-Dollon. A penitenciária está encravada no interior de Genebra. Essa localização é tão central, que as pessoas chegam nela até por acaso, com exceção dos detentos: qualquer um que chega em Champ-Dollon o escolheu. E os guardas também.

“Desde criança eu queria trabalhar na polícia, na segurança. Eu escolhi essa profissão, pois ela movimenta. Não estamos o tempo todo no mesmo lugar. E também há o aspecto social que me agrada”, ressalta Yasmina, 24 anos, aluna da escola na sua primeira semana de cursos práticos.

A decisão pode aparecer surpreendente, sobretudo quando vem à lembrança a visão de uma prisão superlotada, com condições de trabalho que podem ser muitas vezes penosas. Portanto, não faltam candidatos para o emprego. “No ano passado tivemos 841 candidaturas. Dessas, trinta e cinco pessoas foram escolhidas para a sessão de janeiro e vinte para a de setembro”, explica Gérard Mariller, guarda responsável pela formação.

Para entrar na Escola Genebrina de Formação de Guardas Penitenciários, que mistura teoria e prática, a seleção é rigorosa. Entrevistas, testes de eficiência intelectual e personalidade ou ainda um dia de estágio na primeira fase. Depois, o exame médico e uma pesquisa completa da polícia para os últimos selecionados. “É importante de ver se a profissão convém aos candidatos e se não há nenhuma forma de apreensão por parte dos presos”, diz Mariller.

Poucas mulheres

Para essa sessão, eles são 17 selecionados, dos quais apenas duas mulheres. “Muitas delas são interessadas, mas a escolha se faz segundo as necessidades dos recursos humanos”, lembra o responsável pela formação. E a priori, poucas mulheres são escolhidas. Então, existiriam dificuldades reais para o sexo feminino de exercer essa profissão?

“Eu não sinto qualquer problema sendo mulher. Não tenho a impressão que isso faça uma diferença. Eu nunca tive medo”, afirma Yasmina. Essa opinião é compartilhada por Maryline, guarda em Champ-Dollon há sete anos.

Nas mentes dos interessados, a igualdade reina entre homens e mulheres. É indiferente: o princípio do guarda continua o mesmo: não deixar que o medo interfira no trabalho e conservar o sangue-frio. “Nem sempre comandamos as emoções dos detentos, mas é a nós de lhes acalmar e retornar ao ponto zero. Não devemos ser nem muitos gentils, nem muito agressivos”, acrescenta Alexandre, 28 anos, que chega ao seu quarto dia de cursos práticos. Ele já efetuou um dia na “célula”, em contato com os presos. “Apesar de terem me dito que o local onde seria deslocado não é muito fácil, as coisas passaram bem. Já basta chegar sorridente, ser discreto com as portas e não ser brusco com os detentos.”

As chaves do presídio

Antes, Alexandre era cozinheiro. “A profissão de guarda me atraiu aos poucos. Eu já atuo em bastante associações e aprecio o fato de poder orientar as pessoas que estão à margem da sociedade. E então, é aqui estou enquadrado em todos os sentidos do termos. A gente sabe quando começa e termina o trabalho. Não é como na cozinha”. Além disso, ele conta exercer trinta anos a profissão até chegar a um posto mais elevado, o de guarda-chefe. Passar quase toda a vida na prisão não lhe dá medo. O jovem tem ambições profissionais.

“Hoje em dia somos menos vistos como o “porta-chaves”, o guarda penitenciários com grandes braços e nada no cérebro. Sem negligenciar a segurança, nós prestamos especialmente atenção às qualidades humanas”, nota Gérard Mariller. Seguro, os homens e mulheres que circulam através dos corredores da prisão de Champ-Dollon não correspondem ao cliché do “Terminator” penitenciário. “No início, temos um pouco a imagem das séries de televisão como ‘Prison Break’, com as celas e suas grades, mas rapidamente percebemos que não é só isso”, completa Yasmina.

Estar de guarda

Champ Dollon não é uma prisão no Panamá, mesmo se o estabelecimento concebido para 270 individuos contem hoje em dia 451 detentos. Suas celas estão, por vezes, preenchidas com o dobro da sua capacidade. Nos corredores do andar térreo, os guardas discutem tranquilamente e, no andar de cima, os prisioneiros retornam de forma comportada da sua hora de passeio cotidiano. “Eles estavam todos calmos. Talvez seja o frio”, brinca Alexandre, 28 anos, que controla sem pestannejar o retorno da grande saída ao ar livre.

“Os ataques acontecem, mas não diariamente. No entanto, é preciso estar sempre vigilante, de guarda e manter distância. Mas em geral, sentimos se há uma tensão no nível da unidade, do detento e nós podemos controlá-la. Nós contamos bastante com a cooperação dos funcionários mais antigos para transmitir sua experiência aos jovens estagiários”, revela Gérard Mariller. E a formação prepara os guardas, com ajuda de táticas de intervenção dadas pelos instrutores da polícia, que têm pelo menos uma faixa preta em alguma arte marcial.

Calma aparente

Na prisão de Champ-Dollon, que viveu um ano de 2010 movimentado, com várias rebeliões e, em outubro, com agressão a cinco guardas, a calma parece reinar. São onze e meia da manhã, os presos chegam sem se arrastar para pegar a suas refeições, agora oferecidas no próprio andar pelos companheiros de unidade.

No terceiro andar da ala norte, Alexandre vigia os homens que estão recebendo seu almoço. Ele troca duas ou três palavras e diz “bom apetite” bem-humorado a alguns deles. Na unidade defronte, as mulheres esperam pela sua refeição. De lá, onde estamos, a cena se desenrola quase de forma banal. A formação de um guarda parece menos dura. Sem dúvida, mas do nosso lado, a janela embaçada abafa também os ruídos e esconde, um pouco, a visão.

Estado de Genebra. A escola de Genebra para a formação de agentes de prisão forma pessoas em todo o estado de Genebra. Na suíça de língua francesa, é a escola que forma o maior número para pessoal para esse ofício.

Admissão. A escola aceita alunos de 22 a 25 anos, que devem ter, no mínimo um Certificado Federal de Capacitação (CFC).

Novidade. Em 2010, em razão da forte demanda em pessoal, a escola decidiu criar turmas adicionais, em setembro.  O curso das turmas de janeiro duram seis meses e o de setembro, mais condensado, apenas quatro meses.

  

Brevê federal. Depois do juramento, os recrutas concluem o curso em Friburgo, no Centro Suíço de Formação para Pessoal Penitenciário. Aí podem obter um brevê federal de agente de detenção.

Tarefas. Os cursos práticos dos estagiários da escola de Genebra ocorrer em diferentes setores da prisão. O trabalho do guarda de prisão é,  principalmente: vigiar o passeio para tomar sol, as refeições, o banho, os ateliês e fazer diferentes tarefas administrativas.

Vantagens. O guarda tem seu seguro de saúde e despesas médicas pagas. Pode se aposentar aos 58 anos, ao invés dos 65 normalmente.

Números. Em 2010, em toda a Suíça, 128 pessoas obtiveram o certificado federal de agente de detenção. Este ano, 158 pessoas começaram a formação e 133 terminarão o curso em julho.

Surpopulação.  Champ-Dollon, no estado de Genebra, emprega 288 guardas. Ela foi construída para 270 detentos. Atualmente tem 451. No ano passado, a superpopulação provocou várias revoltas. Dia 15 de outubro de 2010, cinco guardas foram feridos por detentos.

No terreno anexo a Champ-Dellon, a prisão Cento Rapido, atualmente em construção, deverá ter rapidamente outros 100 detentos. Até 2013, a prisão de Curabilis, especialmente destinada a detentos com problemas psiquiátricos, terá 92 lugares.

    

Números. E, 2009, 3.073 detentos (entre eles mulheres)

passaram por Champ-Dollon. Também em 2009, 117 nacionalidades diferentes estavam representadas na prisão. 10,6% dos detentos ficam somente uma noite.


A prisão tem 14 ateliês de trabalho, com 148 lugares. Os presos que trabalham ganham 2,75 francos por hora. Há vários meses de espera para poder trabalhar.

Adaptaçao: Alexander Thoele

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