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Anton Arnet, um “Verdingbub” do Cantão de Lucerna.

Anton Arnet, 65 anos, é um dos últimos "Verdingbub" na Suíça. swissinfo.ch

Anton Arnet, 65 anos, é um aposentado suíço que passa os últimos dias da sua vida num asilo de idosos para trabalhadores do meio rural em Rothenburg, um pequeno e bucólico povoado distante 10 quilômetros de Lucerna.

Inteligente, ele não domina apenas o dialeto local, mas também fala o alemão letrado, aprendido nas suas viagens à Áustria e Alemanha, como membro de um coral de homens.

“Eu não me relaciono com nenhuma das pessoas que mora aqui. Eles não me entendem. Eu prefiro pegar minha bicicleta e encontrar-me com amigos do povoado vizinho. Pelo menos eu posso tomar com eles uma cerveja e falar sobre a vida”, conta Arnet sobre a vida no asilo, uma mistura de hotel e fazenda, com espaço para receber 37 antigos trabalhadores do campo.

Nascido em Grosswangen, um povoado não muito distante da capital do Cantão, Arnet é um dos poucos “Verdingbub” que ainda estão vivos na Suíça.

Órfão de pai aos dois anos

Ele conta a triste história da sua vida de “Verdingbub”, que se inicia quando seu pai faleceu em 1947, deixando uma fazenda, sua esposa e oito crianças desamparados. Nessa época Arnet ainda tinha dois anos.

Com as dificuldades financeiras e a solidão, sua mãe começou a beber. As autoridades do governo municipal, observando o declínio constante das condições de vida da família de Arnet, resolveu então forçar a venda da propriedade e dissolveu a família, como base nas leis vigentes na época.

Arnet foi separado dos seus irmãos e da sua mãe, que ele nunca mais veria. Com nove anos de idade, ele foi colocado numa família de fazendeiros, que estava precisando de um braço a mais na dura rotina do trabalho na terra e com animais.

Vida no campo

“O trabalho começava às quatro e meia da manhã e só terminava às dez da noite. Eu ia também para a escola. Lá os professores eram muito duros comigo. Ninguém gostava de “Verdingbuben”. Eu não tinha família, nem podia dar alimentos aos professores, como era costume na época”, lembra Arnet.

Até os quinze anos, o solitário rapaz de Grosswangen freqüentou a escola. Depois, o Estado como tutor responsável enviou-o para um centro de reeducação. “Eles disseram que eu havia feito algo com uma criança, o que não foi verdade”.

Aos dezoito anos, Arnet foi liberado e iniciou então uma vida de mão-de-obra não qualificada na agricultura e na indústria, encerrada prematuramente em 1979, depois de um acidente numa fábrica, que o deixou parcialmente inválido.

Vida de um celibatário

Sobre a vida íntima, Arnet tem poucas palavras. Quando tinha trinta e dois anos, ele encontrou sua primeira e última namorada. Ela tinha dezenove anos. “A moça desistiu do casamento, ao descobrir as minhas histórias do passado”. Depois disso, ele nunca mais tentou um relacionamento.

Esquecer o passado é, hoje em dia, a principal preocupação do aposentado suíço. “Não gosto de pensar na minha infância. Eu estou sozinho, e essa é a realidade”.

A melhor notícia que lhe ocorreu, desde que mora no asilo de idosos em Rothenburg, foi a notícia de que o dinheiro, obtido na venda de fazenda dos pais há cinqüenta anos atrás, lhe seria restituído. “Há três anos eu recebi finalmente a minha parte na venda, que era de 10 mil francos. O dinheiro foi mantido todo esse tempo pelo meu tutor no município, pois ele me detestava. Nunca entendi porque. Depois que ele faleceu, sua mulher contactou-me para entregar a minha parte. O dinheiro havia sido aplicado durante todo esse tempo e agora está na minha poupanca”.

“Não tive culpa”

Para Anna Knuzel, diretora do asilo em Rothenburg, o “Verdingbub” é um idoso calado, mas que participa do dia-a-dia dessa pequena comunidade. Para passar seu tempo, Arnet ajuda na cozinha e trabalha de bom grado na horta comunitária. “Ele é uma boa pessoa, mas que seguramente ainda não conseguiu superar o passado. Há pouco tempo encontrei-o chorando no seu quarto. Ele havia tido uma discussão com outros idosos. Triste, ele disse-me apenas que não tinha culpa do seu passado, de ter nascido um “Verdingsbub”.

swissinfo/Alexander Thoele

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