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Quando a sustentabilidade ultrapassa fronteiras

Fábrica da Lonza e o rio Ródano, no cantão do Valais, na Suíça. Toneladas de mercúrio foram despejadas em um canal de evacuação entre 1930 e 1973. A poluição só foi descoberta em 2010 durante a construção de uma estrada. Keystone

Consultor suíço lança aplicativo voltado à sustentabilidade e se une à ex-executiva brasileira para dar impulso ao projeto e conquistar novos mercados.

A missão de transformar o planeta em um lugar mais sustentável uniu o consultor suíço Matthias Müller e a empreendedora  brasileira Telma Gomes no mesmo time. Müller é o idealizador do aplicativo Bússola da Sustentabilidade, lançado em junho de 2014, que tem como objetivo estimular o pensamento e a atitude sustentável. Gomes é parceira neste projeto desde o final de 2014. Entre outras  atividades, a brasileira fez a tradução do app para a língua portuguesa.

“Nossa meta com o aplicativo é estimular o questionamento e a busca de respostas para questões ligadas à sustentabilidade”, afirma Müller, que contou com a ajuda de um grupo de colaboradores e técnicos. O app funciona basicamente apresentando questões aos usuários quando têm que tomar uma decisão ou gerir algum projeto, fazendo com que pare e avalie melhor o grau de sustentabilidade de suas ações.

O conteúdo do aplicativo tem como base teórica a metodologia proposta pelo The Natural Step. Fundada em 1989 na Suécia pelo cientista Karl-Henrik Robèrt, The Natural Step é uma organização não governamental que propõe um sistema de referência e trabalho voltado para a sustentabilidade das atividades humanas na terra.

De acordo com essa proposta, quatro princípios são fundamentais para o sucesso do “sistema mundo”.  O primeiro é eliminar a contribuição para o acúmulo progressivo de substâncias extraídas da crosta da terra (por exemplo, metais pesados, combustíveis fósseis). O segundo princípio é acabar com a colaboração do ser humano para o acúmulo progressivo de substâncias químicas produzidas pela sociedade (por exemplo, dioxinas, PCBs, DDT).

O terceiro  princípio defende o fim da contribuição do homem para a degradação progressiva e destruição da natureza e dos processos naturais (por exemplo, a exploração excessiva das florestas). E o último refere-se à eliminação da colaboração do ser humano para as condições que prejudicam a capacidade das pessoas em realizar suas necessidades básicas (por exemplo, quanto às condições de trabalho, segurança e cidadania).

 Tomada de consciência

“Acreditamos que a sustentabilidade começa com a consciência e compreensão, ou ainda o pensamento inteligente, que depois deverá resultar em ação eficiente”, afirma Müller. Além do aplicativo, o usuário recebe também um baralho de cartas, que poderá ser impresso e usado como uma espécie de jogo. “Você recebe 18 cartas juntamente com dicas de como pode discutir sustentabilidade com a sua família, na escola, com os amigos ou no trabalho“, explica Gomes.

Müller conta que muitos dos aplicativos disponíveis atualmente no mercado focam em ações e em dar conselhos ao usuário. Mas, por outro lado, acabam se desconectando das pessoas por não oferecem uma compreensão mais holística ou um estímulo para o questionamento do indivíduo.  Justamente por não oferecer respostas prontas ou “facilitar” a vida do consumidor, como propõe a maioria dos aplicativos, a Bússola da Sustentabilidade pode ser um desafio como projeto, explica Müller.

“Estamos convencidos, baseados na própria experiência, que dar conselhos ou oferecer soluções não irá fazer com que as pessoas se movam. As pessoas precisam encontrar elas mesmas as respostas para seus projetos. “Nesse sentido, o aplicativo é mais um parceiro para as questões e decisões do dia-a-dia”, defende. “Nosso app não é complexo, pode ser traduzido em várias línguas. O contexto cultural também não está presente no aplicativo, ele é estabelecido pelo usuário”,  afirma o consultor.

Próximos passos

Além de conhecer e acreditar no potencial da metodologia presente no app, Gomes, uma brasileira que mora há 5 anos na Suécia, faz parte do network de sustentadores desta proposta de sustentabilidade. “A ideia é criar um exército do bem. Inspirar as pessoas a terem mais consciência de como seu pensamento e ações impactam o mundo em que vivemos”, afirma. “Precisamos criar novas regras para o jogo, caso contrário o planeta não aguenta”, afirma.

Além de Müller e Gomes, o time conta com uma empreendedora no México. Atualmente, o aplicativo está disponível em alemão, inglês, português e espanhol. E custa 2 euros. Está disponível para sistemas iOS e Android.

Os próximos passos? Os empreendedores acreditam que existe um potencial enorme para customização da tecnologia e conceito para empresas, organizações e escolas. “Empresas poderão ter seu próprio aplicativo, adaptado às suas demandas e desafios”, afirma Müller. “Interagimos com as pessoas e usuários, que nos enviam comentários e conselhos de como podemos melhorar nosso serviço. Ao fazê-lo, aprendemos que é possível estabelecer muitas conexões inspiradoras quando tentamos realizar algo útil.” 

Os empreendedores

O consultor suíço Matthias Müller atua na área de inovação, design e sustentabilidade. É fundador da Mensch Design Innovation GmbH. Ex-jornalista e ex-consultor da Swisscom, é co-fundador da The Natural Step na Suíça e ocupa atualmente a cadeira de presidente da organização neste país.

A paulista Telma Gomes tem uma longa e sólida carreira de executiva em diversas multinacionais no Brasil. Mudou-se para a Suécia em 2010 para fazer um mestrado em sustentabilidade e acabou fixando residência no país.  Em 2011, Gomes fundou o WIESD (Women at the forefront of Innovation, Entrepreneurship and Sustainable Development Program), um programa para ampliar o papel da mulher em liderança e fomentar sua participação em inovação, empreendedorismo e sustentabilidade. 

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