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Aposentados dão adeus ao sol da Espanha

Mais de 6 mil aposentados suíços que vivem na Espanha sentem os efeitos da alta do custo de vida. mm-images

Milhares de aposentados suíços emigraram para o litoral espanhol para gozar do clima clemente e dos preços ibéricos. A inflação mudou suas condições de vida e a pensão já não dá mais para viver com o mesmo conforto.

Este conteúdo foi publicado em 14. setembro 2008 - 19:07

Com 74 anos, Claude teve encerrar seu sonho espanhol. A alta dos preços na Costa Dourada obrigou-o a voltar para a Suíça. Parece terminada a era dos "refugiados econômicos".

"A vida lá ficou muito cara, uma loucura! Fazem 15 anos, quando mudei, era um sonho poder viver com o salário de aposentado. Agora já não é mais vantagem".

Um corte de cabelo não custa mais 800 pesetas, mas 12 euros, ou seja, subiu de 8 para 20 francos suíços. Um almoço num restaurante subiu de 5 para 13 francos. Em média, os preços subiram 38% na última década. Nesse período, o inflação total na Suíça foi de 12%.

Apesar de tudo, o custo de vida continua sendo bem mais elevado na Suíça do que na Espanha (26% de diferença atualmente contra 37% dez anos atrás). Porém, é fato que, para os suíços aposentados, o dinheiro que recebem não rende como antes na Espanha.

"Aqui qualquer serviço é muito caro", explica Alex Gouvielos, da cidade de Quesada. Em 1994, esse suíço foi para a costa ibérica para trabalhar com seus compatriotas. Limpava piscinas, instalava televisão e resolvia problemas administrativos e, cada vez mais, para preparar a volta para a Suíça.

Apertar os cintos

"Dez anos atrás, tínhamos recursos para ajuda quem pedia: transporte, limpeza, assistência a domicílio etc. Podiam inclusive continuar na Espanha depois da morte do cônjuge ou quando a saúde começara a se deteriorar.

Naquela época, até os que tinham uma pensão pequena viviam como reis a ponto que se falava de "refugiados econômicos suíços", recorda. "Porém, no final dos anos 90, as tarifas desses serviços triplicaram e quem recebe 1.600 francos por mês já não pode pagá-los".

Dez km mais longe ao longo da costa o orçamento de Alex Frossard também sofre da alta dos preços. Esse suíço e sua esposa foram viver em Torrevieja depois de aposentar-se dez anos atrás. "Está claro que não é mais como antes. Quando chegamos, um café custava o equivalente de 1 franco suíço, agora custa 1 euro", constata. "Tudo ficou mais caro, mas tenho fé em continuar, apesar da situação".

Outro caso é o de Heidi Neumeier-Bodmer, que vive na ilha de Tenerife como outros 200 aposentados suíços. Ela tem 79 anos. Este ano, para o 1° de agosto vendemos duas vezes menos distintivos vermelhos com a cruz branca da bandeira suíça, explica essa dona de um hotel. "Os casais que vivem aqui, em lugar de comprar dois, compraram apenas um. É incrível como devem calcular, antes de efetuar qualquer gasto".

Revenda difícil

Nas ruas de Ciudad Quesada, os bairros suíços vão se esvaziando pouco a pouco. O mesmo ocorre com os britânicos e com os alemães, que também enfrentam a explosão dos preços. "O lugar não tem mais nada de paradisíaco", suspira Alex Gouvielos. "O ambiente não é mais o mesmo quando metade das casas está vazia".

Quando os aposentados voltam para seus países de origem, é muito difícil que sejam ocupadas por novos proprietários. Como no resto da costa, a cidade está abalada pela crise imobiliária. Os que deixam suas propriedades esperam que os preços subam para decidir vendê-las.

Mesmo sem ser espetacular, o fluxo de regresso marca o fim de uma época. A Espanha deixou de ser o Eldorado dos modestos aposentados suíços.

"A grande onda dos suíços terminou", resume Agnès Espinoza, da agência imobiliária Korus, em Aubonne (oeste da Suíça). "Antes, o sonho ibérico era acessível a todo mundo. Agora só alguns privilegiados podem tê-lo", analisa a especialista que viu os negócios diminuírem na última década.

Golpe de graça

O último golpe foi a contração do mercado imobiliário, sensível há 18 anos. Atingidos pela crise do setor, os banqueiros espanhóis restringiram as condições de financiamento. No segundo trimestre de 2008, o número de créditos aumentou 1,7%, cifra reduzida comparada aos 4% do ano anterior e 5,6% no segundo trimestre de 2006. Portanto, as taxas quase duplicaram.

O problema é que os imigrantes fizeram empréstimos em bancos espanhóis. "Nessas condições, para os aposentados suíços não é mais possível obtê-los", explica a especialista do mercado imobiliário. Adeus, portanto, ao sonho de viver os últimos anos como reis, sob o sol litorâneo.

Depois de anos de construção frenética, a Espanha sofre de uma indigestão de cimento. Construiu-se de maneira tão rápida que a demanda não acompanhou o ritmo. Isso afeta todo o país, pois o setor imobiliário está no coração da economia espanhola. O setor significa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) espanhol e emprega 13% da população ativa.

É um peso desproporcional que ocorreu depois da entrada da Espanha na Comunidade Européia, em 1986, ao mesmo tempo que Portugal.

Do 'boom' ao marasmo

"Nestes últimos anos, a Espanha viveu o fenômeno da recuperação", explica Philippe Tabuco, analista do mercado espanhol do banco BNP Paribas. "Condições favoráveis de financiamento contribuíram para o boom imobiliário no princípio desta década."

Com a abertura do mercado, muitas pessoas, em sua maioria estrangeiros, investiram no setor, especialmente nas zonas costeiras. A forte imigração também estimulou a construção, mesmo se as taxas triplicaram nos últimos dez anos.

Porém, a boa conjuntura parece coisa do passado. Em junho, os preços caíram em comparação ao ano anterior, algo nunca visto nos últimos doze anos. Os investimentos na construção também diminuíram (-2,4%) no segundo trimestre de 2008. As pessoas sentem que seu patrimônio perdeu valor e reduzem o consumo, o que freia a atividade econômica.

A essa morosidade somam-se as tendências macroeconômicas que provocam o fim do auge imobiliário. As empresas do setor cortam pessoal, o desemprego aumenta e já passou de 8,1 a 10,7% este ano.

"Aproximadamente 60% das agências imobiliárias do país fecharão nos próximos 18 meses", prevê o suíço Jacques Gaillard, que dirige a Agência Insert, em Madri, que tem resistido mais que outras concorrentes.

Finalmente, tem a inflação, em seu nível mais alto dos últimos dez anos (5,3% em julho contra 3,1% na Suíça). Todos esses dados apontam para uma recessão, estima Philippe Tabuco.

swissinfo, Linda Bourget/La Liberté

Em cifras

174.010 aposentados estrangeiros vivem na Espanha. 135 mil chegaram entre 1997 e 2007.

6.137 suíços maiores de 65 anos residem na Espanha, metade na região de Valência.

A comunidade helvética cresceu 66,3% entre 1997 e 2007. Essa taxa vem diminuindo. Em 1998 era de 7,1% e no ano passado de 3,5%.

No total, 77.456 aposentados suíços vivem no estrangeiro, sobretudo na Espanha, Itália, França, Estados Unidos e Alemanha.

A média mensal das pensões é de 1.050 francos. Para os que decidem continuar a viver na Suíça depois da aposentadoria, a pensão média é de 1.750 francos.

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Tailândia, novo destino

As praias da Tailândia (Phuket, Pattaya) tornaram-se atrativas para os aposentados suíços. Em 1997 havia 103 aposentados no país. Em 2007, 776. A cifra foi multiplicada por seis.

Bankok facilita a imigração. Os aposentados com mais de 53 anos podem ter um visto de um ano de estadia, sem autorização de trabalho. Esse documento pode ser transformado em autorização de residência.

O Consulado da Tailândia fornece apoio para os que desejam se estabelecer no país.

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