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Apoteose do surrealismo

Salvador Dalí, 'El enigma del deseo' (1929) © 2011, Fundació Gala-Salvador Dalí / ProLitteris, Zürich

A Fundação Beyeler, em Basileia, apresenta a maior mostra de arte surrealista já realizada na Suíça. A exposição inclui obras de Dali, Max Ernst, Picasso, Magritte e Joan Miró, provenientes de algumas das melhores coleções particulares e museus do mundo.

Visita guiada com Sam Keller, diretor da Fundação Beyeler, exclusivamente para swissinfo.ch.

Impressionante. Esta é a primeira palavra que vem à mente quando se entra no prédio projetado por Renzo Piano, onde o visitante é recebido por Capricórnio, uma imensa escultura de Max Ernst que dá as boas vindas à exposição Surrealismo em Paris.

Uma vez dentro, nas salas batizadas com nomes de ruas parisienses, filmes lendários como Un Chien Andalou, de Luis Buñuel e Salvador Dalí, são apresentados junto às obras de Magritte, Duchamp, Paul Klee e De Chirico.

Na boca de todos

“A primeira coisa que devemos entender é que o surrealismo é o movimento mais importante e criativo na arte moderna”, comenta o diretor da Fundação à swissinfo.ch. “Tudo começou em Paris, mas logo se espalhou ao redor do mundo. Os efeitos deste movimento ainda são visíveis e influentes em nossas vidas hoje. Não só nas artes visuais, mas no cinema, literatura, poesia, quadrinhos ou no design.”

Na verdade, o visitante reconhece, a cada passo, obras que são verdadeiros ícones do século XX e que forjaram definitivamente nossa ideia de arte. “Na verdade, nossa visão do mundo e a nossa maneira de pensar foram fortemente influenciadas pelo surrealismo. A prova é que surreal é o único termo do vocabulário artístico que está na boca de todos.”

“O surrealismo é tão interessante porque foi um movimento que não só tentou mudar a arte, mas também queria mudar a sociedade. Os surrealistas eram revolucionários. Não conseguiram mudar o mundo, mas mudaram para sempre a nossa forma de ver e entender a arte.”

Esses artistas, fortemente influenciados pela psicanálise de Sigmund Freud, “entenderam que os seres humanos não têm apenas um lado racional, também temos sonhos e subconsciente. Uma novidade que usaram como fonte de criatividade”, diz Sam Keller.

Homenagem a Paris

O surrealismo é um movimento celebrado e bem conhecido, mas na Suíça não houve uma exposição tão abrangente deste movimento desde 1966. Até agora, para ver essas obras, os suíços tinham que ir para o exterior, ou se contentar com mostras individuais.

“Queríamos dar ao público a oportunidade de ver essas obras-primas de artistas lendários, mas também permitir que ele descobrisse artistas não tão famosos e obras originais que são vistas só por reproduções, já que fazem parte de coleções particulares. De fato, mais da metade dessas obras pertencem a particulares”, diz Keller.

“A exposição toda é uma homenagem a Paris, a grande capital da arte dos tempos modernos, e é também a este grupo incrivelmente talentoso de artistas que tentaram mudar o mundo com imagens e fantasia.”

Das 300 obras em exposição, apenas uma dúzia são de propriedade da Fundação Beyeler. O restante são empréstimos dos mais prestigiados museus e coleções particulares do mundo. Uma operação estonteante que, certamente, deve ter levado anos de esforço e de complicada logística.

Sam Keller suspira, ergue as sobrancelhas e sorri antes de responder: “Levou mais de três anos para preparar esta exposição. Mas temos a sorte de ter curadores e especialistas que já tinham trabalhado com este material, o que foi de inestimável ajuda na hora de fazer contatos e abrir portas.”

“Um museu vivo”

Depois de ter levado ao topo a Art Basel, a maior feira de arte do mundo, e criado sua irmã gêmea nos EUA, Art Basel Miami Beach, Keller triunfa agora na Fondation Beyeler, passagem obrigatória para os amantes de arte. Qual é o segredo do seu sucesso?

“Eu não acho que há uma receita para o sucesso. Pelo menos não que eu saiba. Eu acho que o segredo, se houver, é poder fazer as coisas que você ama e acredita. Um amor como o de Ernst e Hildy Beyeler, durante os 60 anos como galeristas e colecionadores. Eles conseguiram criar um pequeno canto do paraíso aqui na Basileia.”

“Consideramos nosso passado como uma base e uma inspiração, mas também queremos um museu vivo. Não um mausoléu. Ernst Beyeler sempre disse que a única constante na vida é a mudança, ou seja, para continuarmos os mesmos somos obrigados a mudar constantemente. Tentamos respeitar os valores que nos levaram até onde estamos, mas, ao mesmo tempo, queremos conectá-lo com o nosso tempo”, lembra Keller do homem que foi seu mentor.

Segundo Keller, para que uma proposta possa se impor no mercado altamente competitivo de hoje é preciso que ela esteja baseada na qualidade. “O que fazemos é oferecer arte do mais alto nível. No final do dia, a qualidade é sempre rentável. Se você fizer com qualidade, terá sucesso de longo prazo. Até quem não é entendido em arte contemporânea pode reconhecer obras de primeira categoria”, enfatiza.

“O sonho de Ernst e Hildy Beyeler era de que a boa arte alcançasse o maior número de pessoas possível. E é isso que pretendemos continuar fazendo. Nós acreditamos realmente que as obras de arte falam às pessoas, e revelam emoções, lembranças e desejos. É por isso que as pessoas continuam vindo, porque tornamos a arte acessível a todos.”

O movimento surrealista foi iniciado por André Breton em 1924 e foi influenciado pela obra de Sigmund Freud.

A Fundação Beyeler apresenta a maior exposição realizada até hoje na Suíça com obras primas do movimento surrealista.

Está aberta ao público de 2 de outubro de 2011 a 29 de janeiro de 2012.

A exposição reúne obras de Salvador Dali, Pablo Picasso, René Magritte, Joan Miro, Max Ernst, Paul Klee e Marcel Duchamp, entre outros. Seu curador é Philippe Büttner, da Fundação Beyeler.

Esta exposição apresenta 290 obras de 40 autores. Destacam-se as coleções particulares de Peggy Guggenheim e André Breton

Ernst Beyeler nasceu em Basileia, em 1921, e morreu em fevereiro de 2010.

Depois de estudar Economia e História da Arte abriu sua primeira galeria em 1945, antes de organizar a primeira exposição em 1947.

Ao contrário de outros colecionadores, tinha origensmodestas.

No entanto, possuia uma das principais coleções de arte pós-impressionista, moderna e contemporânea do mundo, e organizou 300 exposições.

Em 1948, casou-se com Hildy Beyeler. O colecionador era amigo de Giacometti e Miró, e responsável pela venda de mais de 16 mil obras, entre as quais várias obras de Picasso.

Beyeler teve o raro privilégio de poder escolher pessoalmente 26 telas, no ateliê do artista, em 1966.

A principal contribuição deste visionário suíço foi ter concebido o que hoje é definido como a mãe de todas as feiras de arte: Art Basel, fundada em 1969.

Em 1997 abriu a Fundação Beyeler em Riehen, perto de Basileia. O edifício que abriga o centro cultural é obra do arquiteto italiano Renzo Piano.

Adaptação: Fernando Hirschy

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