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Armênia-Turquia: uma paz difícil de se concretizar

Os ministros das relações exteriores da Armênia, Edouard Nalbandian (sentado à esquerda), e da Turquia, Ahmet Davutoglu (à dir.) assinam o acordo em Zurique. Keystone

A assinatura, neste sábado (10/10) em Zurique, de um acordo de normalização das relações entre a Turquia e a Armênia confirma o papel de mediadora assumido pela Suíça, com apoio dos Estados Unidos.

A mnistra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy, e representantes da União Europeia, da Rússia e dos EUA (a secretária de Estado Hillary Clinton) participaram da cerimônia histórica na Universidade de Zurique.

Uma coragem incontestável foi e será necessária ainda aos governos turco e armênio, para restabelecer suas relações diplomáticas interrompidas em 1993. A Turquia fechava sua fronteira em apoio ao Azerbaijão em conflito com a Armênia pelo controle do enclave do Nagorno Karabakh, povoado de armênios.

Do lado turco, a concessão é difícil: nada foi obtido quanto à solução dessa questão, enquanto o governo em Ancara há muito tempo a coloca como condição “sine qua non” para qualquer abertura das suas fronteiras à Armênia.

Do lado armênio, este ratifica o traçado das fronteiras como foi estabelecido pelo Tratado de Kars de 1921, portanto infamado e contestado. E, ao mesmo tempo, aceita o que sempre sofreu oposição: o estabelecimento de uma comissão de especialista para estudar o desaparecimento de armênios da Anatólia em 1915 através de deportações e massacres que a Turquia se recusa a denominar de “genocídio”.

A diplomacia do futebol

A cerimônia diplomática e policiada de sábado em Zurique terá rapidamente sua parelha popular e esportiva: quatro dias após, em Bursa, na Turquia, ocorre a famosa partida de futebol de retorno de 14 de outubro entre a Armênia e a Turquia, da qual o presidente armênio Serge Sargsian deve estar presente para torcer pela equipe.

Depois será necessário aos Parlamentos nacionais ratificar os acordos, o que não deve ser impossível, pois os dois partidos no poder na Turquia como na Armênia são majoritários nos seus respectivos parlamentos. Mas a virulência das críticas originárias da oposição, tanto na Turquia como na Armênia, pode desestabilizar as opiniões públicas.

Discursos dos oponentes

Na Turquia, o líder da extrema direita nacionalista acusa o governo de ter dilapidado os interesses da Turquia assim como os do Azerbaijão, país-irmão com o qual “nós formamos uma nação, dois Estados”, segundo o slogan dos anos 1990.

Na Armênia, os nacionalistas do Dashnak gritam traição: com o acordo, dizem eles, a Armênia não está nem segura de sair do bloqueio no qual a Turquia a colocou há 16 anos ao fechar as fronteiras, pois o primeiro-ministro turco declarava, ainda recentemente e em contradição com os termos do protocolo número um, que ele ligava a abertura delas à retirada das tropas armênias do enclave do Nagorno Karabakh.

Para a diáspora armênia, é “Votch” (não)!

As críticas também vêm do exterior da Armênia e da Turquia. Em sua grande maioria, a diáspora armênia rejeita essa normalização. Ela mesma publicou diversos encartes na imprensa ocidental com um título explícito: “Votch” (“não” em armênio).

O presidente Serge Sargsian pegou seu bastão de peregrino e foi visitar essa semana as comunidades armênias na França, nos Estados Unidos e na Rússia, que o consideram como um “traidor”.

O enérgico presidente da Associação Suíça-Armênia não esconde sua irritação pela maneira de “nos tratar por baixo da perna, no último minuto”. Se ele considera que falta “maturidade política” nos dois protocolos (ler coluna da direita), Sargsian também é criticado no plano jurídico.

O acordo encontrado “anula a validade da arbitragem sobre as fronteiras de 1920 e, quanto ao conflito de Nagorno Karabakh, não menciona nem o direito de um povo à sua autodeterminação e nem o papel de intermediário da Armênia”, explica.

Também é a idéia de criação de uma comissão de especialistas que inquieta esse armênio que perdeu uma parte da sua família no conflito de 1915. “Eu tenho medo que se trate dessa questão sob um ângulo histórico e não penal, o que exclui qualquer forma de reparação”, diz o porta-voz dos cerca de dois mil armênios na Suíça.

E conclui: “A Armênia caiu na armadilha preparada pela Turquia. O fosso entre a diáspora e a Armênia aumentará ainda mais.”

A confiança de Charles Aznavour

É difícil para alguns dos armênios da diáspora que apóiam o acordo turco-armênio serem escutados.

Recentemente Charles Aznavour declarou ser necessário “confiar no presidente Sargsian”, uma afirmação necessária na sua condição de novo embaixador da Armênia na Suíça.

Pois não seriam mais do que 10 a 20% de armênios da diáspora a se entusiasmar pelo avanço diplomático como certo armênio, que preferiu se manter no anonimato: “Estou relativamente entusiasta; é necessário fazer o passo de reconciliação armênio-turco se é ao preço das concessões mútuas.”

E ele precisa: “O que choca a diáspora é que o governo da Armênia nos marginalizou completamente e se permite falar em nosso nome, enquanto nós, a diáspora, somos herdeiros do genocídio.” Isso é o que temem os armênios da Suíça, da França ou dos Estados Unidos: que a normalização das relações turco-armênias ocorra no desprezo da justiça histórica que lhes é devida.

Ariane Bonzon, swissinfo.ch

O primeiro protocolo: define o princípio do restabelecimento das relações diplomáticas e suas consequências: o respeito da integridade territorial e reconhecimento das fronteiras atuais.

O segundo protocolo: trata do desenvolvimento econômico, técnico, cultural e histórico das relações entre os dois países. Em particular, a questão da abertura da fronteira turco-armênia e o estabelecimento de uma comissão de especialistas para estudar o desaparecimento(genocício) de armênios da Anatólia em 1915.

Insegurança: o primeiro-ministro turco repetiu que não abriria as fronteiras enquanto o conflito do Nagorno Karabakh não for resolvido. Pressões armênia tentam convencer o presidente Serge Sargsian a adicionar uma cláusula de rescisão aos protocolos, que obrigaria a Turquia a abrir a fronteira no prazo de dois meses e meio após a assinatura em Zurique.

Isso explica a insegurança em relação à cerimônia marcada para 10 de outubro em Zurique.

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