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Visita de Le Corbusier é tema de exposição em São Paulo

Keystone

A primeira visita de Le Corbusier (1887-1965) à América do Sul foi transformadora. Acostumado a ver o horizonte da perspectiva do caminhante e do navegante, foi em novembro de 1929 que o arquiteto andou de avião pela primeira vez, sobrevoando Buenos Aires, Assunção, Montevidéu, São Paulo e Rio de Janeiro.

O arquiteto de origem suíça, afeito ao racionalismo, nunca mais foi o mesmo.

A viagem do arquiteto ao continente sul-americano é o tema da exposição “Le Corbusier – América do Sul – 1929”, aberta até 21 de outubro, no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo. O evento coincide com os 125 anos de nascimento do arquiteto, em La-Chaux-de-Fonds, cantão de Neuchâtel (oeste).  

A mostra é composta por 26 originais relacionados à viagem. Os desenhos de Le Corbusier, pseudônimo de Charles-Edouard Jeanneret-Gris pertencem à Fundação Le Corbusier, sediada em Paris e  raramente  são exibidos ao público. A curadoria da exposição foi feita pelos arquitetos e professores da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Rodrigo Queiroz e Hugo Segawa.

Capital moderna

Le Corbusier foi um grande viajante. Segundo Rodrigo Queiroz, o arquiteto e artista plástico foi aconselhado, no final da década dos 20, pelo amigo e conterrâneo, o escritor Blaise Cendrars (1887-1961) a vir ao país, onde já se falava na construção de uma capital moderna. Cendrars já havia visitado o Brasil anos antes e trocado impressões com personalidades do modernismo brasileiro como Oswald de Andrade.

Até então Le Corbusier conhecia apenas a planta das cidades. “Ao sobrevoar a cidades da América do Sul ele percebe o território do urbanismo plea sua representação e não uma folha de papel em branco”, conta Queiroz.

Cidades

O primeiro plano urbano feito por Le Corbusier para Buenos Aires mostra um espaço vazio e as torres na plataforma suspensa no estuário do Rio da Prata,  de acordo com a ideia de que é preciso haver uma periferia de habitação para um centro de trabalho, onde estariam os arranha-céus. Em Montevidéu, a concepção de cidade moderna do arquiteto é composta por dois eixos perpendiculares que se cruzam. Os escritórios que antes ficavam restritos no solo artificial sobre a área,  preenchem os espaços formados pela topografia da cidade. “Eram os arranha-terras”, explica Queiroz (ver figura 2). Em São Paulo os eixos cruzados se repetem e desaparecem na imensidão de um mar de morros, que segundo Le Corbusier, ligaria a cidade a outras regiões do país. “Ao chegar ao Rio de Janeiro, Le Corbusier se deu conta que não poderia apenas projetar edifícios verticais”, diz Queiroz. “Eles seriam engolidos pela paisagem”, completa. “A partir desse momento surgiu uma nova diretriz para a arquitetura brasileira. A do gesto, da curva, da leveza e do movimento”, acrescenta Queiroz. “O edifício Copan (em São Paulo) Copan é um pedacinho disso”, explica o curador da exposição ao apontar a planta do Rio de Janeiro, com os eixos já mostrando suas curvas.

Semente

Na visita a América do Sul, Le Corbusier deixou uma diretriz para a arquitetura brasileira. “Os janelões, as marquises e os pilotis fazem parte do vocabulário de Corbusier, mas no Brasil a arquitetura moderna foi desenvolvida por Oscar Niemeyer”, conta Queiroz. “Ele interpretou a obra de Le Corbusier e desenvolveu uma obra autônoma”, acrescenta o curador.

A primeira passagem do arquiteto pela América do Sul durou 74 dias. O gosto pelas andanças lhe rendeu uma outra visita ao país, em 1936 e uma última em 1962 , quando conheceu Brasília. “Ele veio ver a cidade que não fez”, conta Queiroz. Mesmo tendo visitado o Brasil três vezes, não há no país nenhuma obra projetada por Le Corbusier. Porém ao se aproximar dos modernistas e seus mecenas acabou estabelecendo contato com o escritor e barão do café, Paulo Prado (1869-1943). Projetou para ele um anexo para sua casa em Higienópolis mas a obra nunca foi concluída. Os desenhos desse projeto feitos pelo arquiteto são uma relíquia e a maquete do projeto foi realizada para que os visitantes tivessem uma ideia do que teria sidoi a única obra do arquiteto no Brasil. “Nem a Fundação Le Corbusier sabia da existência desse desenho”, conta Queiroz.  

Visitação até 21 de outubro
terça a sexta, 10 às 21h
sábados, domingos e feriados, 10 às 18h.


Entrada franca

Centro Universitário Maria Antonia – USP

Rua Maria Antonia, 258 e 294- Vila Buarque
São Paulo – SP
tel 11 3123 5201
fax 11 3255 5230

São Paulo

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