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Casa-museu idealizada por curador suíço atrai milhares de visitantes no Brasil

A casa de vidro de Lina Bo Bardi archdaily.com.br

Conhecido mundialmente após suas intervenções artísticas que transformaram as casas do poeta espanhol Federico Garcia Lorca, em Granada, do arquiteto mexicano Luis Barragán, na Cidade do México, e do filósofo Friedrich Nietzsche, em Sils-Maria, em “casas-museu” que passaram a interagir com obras de diversos artistas especialmente criadas para aqueles espaços, o curador suíço Hans Ulrich Obrist acaba de repetir o sucesso em São Paulo.

Na capital paulista, Obrist, que atualmente é curador da Serpentine Gallery de Londres e foi eleito em 2010 o nome mais poderoso do mundo das artes pela publicação especializada inglesa “Art Review”, escolheu uma construção que é considerada um ícone entre amantes e profissionais das artes e da arquitetura: a Casa de Vidro, projetada em 1950 pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi, que ali viveu e trabalhou por quase toda sua vida. A exposição foi organizada em parceria com o Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, e o retorno do público brasileiro foi animador.

Complementação artística concebida por Obrist para a Casa de Vidro, a exposição “O Interior está no Exterior” foi encerrada em 30 de maio após oito meses de uma exibição que atraiu, segundo seus organizadores, cerca de cinco mil visitantes. A casa-museu paulistana, construída de forma a interagir com a Mata Atlântica que a rodeia, abrigou uma exposição que foi montada progressivamente, com a inclusão gradual das obras de 34 artistas internacionais e brasileiros. Segundo o curador suíço, “todos, de alguma forma, ligados ao universo criativo de Lina Bo Bardi”.

Na primeira parte da exposição, batizada como “Prelúdio”, a Casa de Vidro recebeu obras dos artistas Gilbert & George, Douglas Gordon, Kazuyo Sejima, Alexander Calder, Cildo Meirelles, Waltercio Caldas, Paulo Mendes da Rocha e Cinthia Marcelle, entre outros. Ao longo dos meses, foram acrescentadas obras dos artistas Norman Foster, Pablo León de la Barra, Koo-Jeong-a, Olafur Eliasson, Dominique Gonzales-Foerster, Ernesto Neto e Renata Lucas, entre outros.

Uma parte da exposição foi montada no SESC Pompéia, edifício projetado por Lina Bo Bardi, assim como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), considerado a sua maior obra. O SESC Pompéia recebeu obras e instalações de Dan Graham, Adrian Villar Rojas, Pedro Barateiro, Ernesto Neto e José Celso Martinez Corrêa.

A presença dos artistas que visitaram a Casa de Vidro nesses oito meses foi uma atração à parte no projeto imaginado por Obrist. Os visitantes que mais chamaram a atenção da imprensa brasileira foram o italiano Gilbert Proesch e o inglês George Passmore, mais conhecidos como a dupla Gilbert & George, que fez enorme sucesso no Brasil há 32 anos, durante a 16ª Bienal de São Paulo, com suas performances e esculturas vivas.

Em entrevista ao site Blouin Artinfo, especializado em arte, Obrist explica o conceito de seu trabalho: “Em primeiro lugar, quando uma exposição acontece em um espaço doméstico, a escala é muito diferente e produz trabalhos muito mais íntimos. Não é que os artistas trazem trabalhos para decorar a casa, mas eles trabalham no contexto que acreditam ser necessário. Muitos desses trabalhos são intervenções contextuais. Eles acrescentam uma outra camada”, diz.

Arte na cozinha

Hans Ulrich Obrist começou a ganhar fama há pouco mais de 20 anos, graças a uma exposição que montou na cozinha de sua casa em Zurique. Batizada como “Sopa do Mundo”, a original e então inédita exposição reunia obras dos artistas suíços Fischli & Weiss e do francês Christian Boltanski: “Interagir com as casas pode ser um exercício muito estimulante para o artista. É interessante para o artista poder mostrar sua obra em um contexto bem específico e pouco usual”, diz o curador suíço.

Ele se recorda do início da carreira: “De alguma forma, é preciso que haja experiências diferentes ou espaços diferentes. A experiência que eu tive no começo na cozinha não deve ser perdida. Todas as minhas experiências seguintes estão sempre se conectando com a primeira exposição de alguma forma”.

Hans Ulrich Obrist é também conhecido internacionalmente por suas entrevistas gravadas em vídeo com personalidades das artes, da ciência e de outros setores. O material, que já soma quase três mil horas de gravação e rendeu a publicação de dezenas de livros em diversos países, está disponível na internet, no site do projeto Institute of the 21st Century, também criado pelo suíço.

No Brasil, parte das entrevistas feitas por Obrist foram publicadas pela Editora Cobogó divididas em três volumes multidisciplinares. Além de artistas, os livros, atualmente considerados cults entre artistas brasileiros, trazem também entrevistas com arquitetos, cientistas, filósofos, cineastas e músicos.

Arquitetura

Uma das metas da obra de Obrist é mesclar arte e arquitetura, como o curador suíço vem fazendo na Casa de Vidro em São Paulo: “Arte e arquitetura são dois mundos diferentes, embora muito conectados. A conexão sempre houve nessa casa, por motivos óbvios: era a casa de um diretor de museu, vinham artistas, escritores também, é fascinante que todas essas disciplinas tenham interagido aqui”.

Lina Bo Bardi, na opinião do suíço, que a define como “a arquiteta dos artistas”, é a mais perfeita tradução da união entre os dois campos criativos: “Um exemplo disso é que na Casa de Vidro existem mais de dez mil itens colecionados por Lina, como quadros, desenhos, fotos, jóias e móveis”, diz.

O suíço ressalta o conceito de imaterialidade que permeia a obra de Lina Bo Bardi e tem grande influência tanto na arte quanto na arquitetura contemporânea: “A Casa de Vidro tem algo extremamente físico, mas que flerta com a imaterialidade, define a gravidade. Isso serve de inspiração atualmente para muitos arquitetos. A busca por tornar a arquitetura mais leve tem total sintonia com a indefinição dos espaços, com o dentro e fora que vemos na casa”, diz.

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