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A história do Centro Paul Klee

Espaço do Centro Paul Klee em Berna
O Centro Paul Klee foi construído nos arredores de Berna, em um terreno doado à fundação. Keystone / Lukas Lehmann

O Centro Paul Klee foi construído em um bairro tranquilo nos arredores de Berna. Seu acervo é composto por quatro mil obras do pintor suíço. Além de exposições, o espaço oferece oficinas e realiza pesquisa científica. Sua história foi marcada por fatos inusitados, incluíndo até um plebiscito popular. 

O Centro Paul Klee não é simplesmente um museu, mas, sim, um “centro responsável pela pesquisa e divulgação da vida e da obra de Paul Klee”.

O Centro reúne sob o mesmo teto o acervo pertencente à Fundação Paul Klee, que esteve até então exposto no Museu de Arte de Berna, a coleção particular da família, pertencente ao filho de Paul, Felix Klee, e obras de coleções particulares.

O acervo do Centro reúne mais de 4 mil obras – de um total de cerca de 10 mil, que constituem a obra completa de Klee – transformando-se, assim, na maior coleção monográfica de interesse internacional do mundo.

Antes da sua inauguração, porém, em junho de 2005, o Centro Paul Klee e seus protagonistas tiveram de superar algumas turbulências políticas, financeiras e culturais.

A procura pelo melhor lugar

No início desta história cheia de reviravoltas, encontram-se Livia e Alexander Klee, os herdeiros de Felix, filho único de Paul Klee. Em 1990, logo após a morte de Felix, Livia (a viúva de Felix) e Alexander (seu filho) prometeram à cidade de Berna a coleção de obras de Klee que haviam herdado. Em contrapartida, exigiam que até 2006, no mais tardar, fosse construído, na cidade de Berna, um museu só para as obras Paul Klee.

Após sete anos de duras negociações, a proposta foi oficializada com um contrato de doação por parte da família Klee e com uma declaração de intenção de construção de um museu Paul Klee por parte das autoridades suíças.

Como sede do novo museu, a administração municipal previu primeiramente o antigo ginásio no centro da cidade de Berna, onde Klee estudou. Também foi discutida a possibilidade de se construir um prédio novo. Em ambos os casos, era prioritário que o novo museu estivesse localizado próximo ao Museu de Arte de Berna, para que as duas coleções não ficassem completamente afastadas.

Doação com condição

Em julho de 1998, porém, um fato inusitado alterou completamente todos os planos traçados até então. O ortopedista bernês Maurice E. Müller e sua esposa Martha doaram aos cofres públicos a quantia de 40 milhões de francos suíços para a construção do planejado museu, bem como um terreno, na zona leste da cidade de Berna, no valor de 10 milhões de francos suíços.

Mas a doação estava vinculada a algumas condições. Em primeiro lugar, o museu deveria ser construído no próprio terreno doado, na zona leste da cidade, ao lado da residência do casal Müller e próximo ao jazigo de Paul Klee. Em segundo lugar, o casal Müller queria ter o direito de escolher o arquiteto responsável pelo obra, sem abertura de licitação internacional.

Com esta inesperada oferta, após de cinco anos de intenso planejamento, a cidade e o cantão de Berna ficaram diante de uma situação política completamente nova. O terreno doado está localizado na região chamada de Schöngrün.

Se o museu fosse construído naquele local, não seria mais possível que houvesse uma relação entre o novo museu e o Museu de Arte de Berna. O Museu de Arte de Berna, por sua vez, ficaria privado de sua principal atração e importante fonte de renda: a coleção Klee. Isso gerou uma grande polêmica na capital suíça.

Com as finanças escassas, não restava à cidade e ao cantão de Berna senão a alternativa de aceitarem a oferta e as condições impostas. Para a realização do projeto, foi criada a Fundação Maurice e Martha Müller, da qual fazem parte as famílias Klee e Müller, o cantão de Berna, a cidade de Berna, o Museu de Arte e a “Comunidade Burguesa” de Berna, remanescência da monarquia bernense.

Uma estrela da arquitetura, sem licitação

Em dezembro de 1998, o projeto do Centro Paul Klee foi confiado a uma estrela da arquitetura mundial, o italiano Renzo Piano. Embora o responsável pela construção do Centro Pompidou de Paris e pela Fundação Beyeler, na Basiléia, seja mundialmente conhecido como um mestre na sua área, a não realização de licitação provocou uma nova onda de discussões.

Um ano mais tarde, Renzo Piano apresentava o seu projeto para o planejado museu: três colinas artificiais em forma de onda, ao lado da auto-estrada, que se abrem em direção à cidade de Berna. Esta ‘escultura em plena paisagem’ deveria representar o elo de ligação entre arte, pesquisa e mediação.

No final de 2000, este projeto foi aprovado nas Câmaras Municipal e Estadual com apenas sete votos contrários. No ano seguinte, a população de Berna aprovou o projeto com uma expressiva maioria de 78% dos votos. Com isso, estava pronto o alicerce financeiro para a construção do Centro Paul Klee.

Aberto ao público

Um ano e meio antes da sua inauguração, o Centro Paul Klee comemorou a construção das três ‘colinas de Piano’. A primeira colina foi concluída em novembro de 2004 para abrigar a administração do Centro. Logo depois, mudou-se para lá a antiga Fundação Paul Klee, até então com sede no Museu de Arte de Berna.

Com uma história tão singular, o Centro Paul Klee optou por uma inauguração igualmente singular: em 20 de junho de 2005, pontualmente às nove horas da manhã, o Centro abriu suas portas à visitação pública. A inauguração oficial foi realizada no dia seguinte.

Livia Klee doou ao Centro Paul Klee 43 telas, 155 desenhos coloridos e 344 desenhos preto-e-branco, 9 esculturas, 30 fantoches, 7 desenhos em vidro e 45 gravuras.

Alexander Klee colocou à disposição do Centro 61 pinturas, 228 desenhos coloridos e 400 desenhos preto-e-branco, 6 desenhos em vidro, 26 gravuras, 5 cadernos ilustrados, 10 livros ilustrados e um caderno de rascunhos. Outras 126 obras são de diversos artistas amigos de Klee.

Do Museu de Arte de Berna, foram para o Centro os seguintes objetos: a biblioteca pessoal de Paul e Lily Klee, arquivos diversos com 4.000 cartas, rascunhos de cartas, documentos oficiais, utensílios do pintor, álbuns de fotografias e diversas listas manuscritas de quadros para exposições.

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